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Após parar de fiscalizar postos de combustíveis, ANP fecha banheiro de funcionários por crise e culpa governo por falta de verba

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 10/07/2025 às 15:26
ANP fecha banheiro de funcionários por corte de verbas e restringe serviços. Crise orçamentária afeta fiscalização e monitoramento dos combustíveis.
ANP fecha banheiro de funcionários por corte de verbas e restringe serviços. Crise orçamentária afeta fiscalização e monitoramento dos combustíveis.
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Medidas de austeridade na ANP afetam desde infraestrutura interna até o monitoramento da qualidade dos combustíveis, refletindo os efeitos dos cortes orçamentários sobre o funcionamento da agência e a prestação de serviços essenciais ao consumidor.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável pela regulação do setor de combustíveis no Brasil, adotou medidas drásticas para lidar com a falta de recursos financeiros.

Entre as ações mais notórias está o fechamento de banheiros utilizados pelos próprios funcionários na sede do órgão, localizada no Centro do Rio de Janeiro.

Conforme uma reportagem do portal Metrópoles, o comunicado fixado na porta do banheiro, impresso em papel timbrado da agência, informa que o local está “fechado por tempo indeterminado em razão do contingenciamento de recursos orçamentários”.

O aviso reflete a atual crise enfrentada pela ANP, que aponta o governo federal como responsável pela escassez de verbas.

Corte de recursos atinge infraestrutura interna da ANP

De acordo com nota oficial, a restrição não se limita ao fechamento de banheiros, mas faz parte de um pacote de cortes resultante da redução do orçamento destinado à agência.

Em todos os 11 andares do edifício sede, dois banheiros estavam disponíveis por andar.

Com a nova medida, apenas um segue em funcionamento em cada piso, como alternativa para conter despesas.

O impacto atinge diretamente a rotina de trabalho dos servidores e ressalta o desafio de manter o mínimo de infraestrutura adequada diante da limitação de recursos.

Em comunicado emitido em junho de 2025, a ANP afirmou que vem sofrendo restrições orçamentárias recorrentes nos últimos anos, destacando que as dificuldades financeiras levaram à necessidade de “medidas emergenciais diante dos impactos causados pelos recentes cortes orçamentários sofridos pela Agência”.

Funcionários relataram surpresa com o fato de que até mesmo a utilização de banheiros foi afetada pela crise financeira, demonstrando o alcance das restrições.

Monitoramento dos combustíveis feito pela ANP também é impactado

Além dos serviços internos, as limitações orçamentárias impactaram diretamente atividades essenciais, como o monitoramento da qualidade dos combustíveis comercializados no país.

Entre as ações mais relevantes está a suspensão temporária do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) durante todo o mês de julho de 2025.

Essa iniciativa, considerada estratégica para o setor, monitora possíveis fraudes e garante a segurança dos consumidores em relação à composição e qualidade dos combustíveis ofertados em postos de todo o território nacional.

Outra consequência foi a redução do escopo do Levantamento Semanal de Preços de Combustíveis (LPC), pesquisa fundamental para acompanhamento de preços praticados no mercado.

O número de municípios monitorados caiu de 459 para 390 no segundo semestre de 2025, no caso dos combustíveis automotivos, e de 459 para 175 no caso do gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido popularmente como gás de cozinha.

Com menos municípios cobertos, a abrangência da fiscalização e a transparência dos preços ficam comprometidas.

A ANP também detalhou que todos os contratos estão sendo revisados com o objetivo de identificar ineficiências e priorizar cortes.

Outros pontos afetados incluem a redução de despesas com diárias e passagens aéreas, diminuição dos recursos para fiscalização, além de transferir para o formato remoto reuniões de diretoria, audiências públicas e eventos institucionais.

Queda no orçamento discricionário e seus efeitos

Os dados oficiais apresentados pela ANP apontam queda acentuada no orçamento discricionário da instituição ao longo dos anos.

A autorização para despesas desse tipo passou de R$ 749 milhões, em valores corrigidos pela inflação, no ano de 2013, para R$ 134 milhões em 2024.

Para 2025, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) prevê um valor levemente superior, de R$ 140,6 milhões.

A redução acumulada supera 80%, pressionando a agência a reorganizar todas as suas operações para se adequar ao novo patamar de recursos.

Segundo fontes da própria ANP, os cortes já afetam diferentes frentes do trabalho institucional e colocam em risco a continuidade de atividades que garantem a transparência e segurança do setor de combustíveis.

O sindicato dos servidores das agências reguladoras já se manifestou anteriormente sobre a necessidade de fortalecimento das estruturas, considerando o papel estratégico das agências para o funcionamento do mercado e proteção dos consumidores.

Mudanças na diretoria da ANP em meio à crise

O cenário de restrição orçamentária ocorre em um momento de mudanças na direção da ANP.

Atualmente, dos cinco diretores da agência, dois são interinos, incluindo o diretor-geral.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Artur Watt Neto para a diretoria-geral, ressaltando que a escolha teve como base o currículo do indicado, apesar de ele ser sobrinho da irmã do senador Otto Alencar (PSD-BA).

O parlamentar afirmou publicamente que a recomendação ocorreu devido à experiência profissional de Watt Neto e não pelo vínculo familiar.

A vaga permanece aberta desde dezembro de 2024.

Outra vaga de diretor aguarda a nomeação de Pietro Sampaio Mendes, escolhido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e pelo senador Laércio Oliveira (PP-SE).

Essa posição está sem titular desde janeiro de 2025.

A indefinição nos cargos de direção, somada ao orçamento reduzido, amplia os desafios administrativos e operacionais enfrentados pela ANP neste cenário de crise.

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Pressão sobre agências reguladoras federais

O caso da ANP se soma a um contexto mais amplo de pressão sobre as agências reguladoras federais.

Relatos indicam que diretores de diferentes órgãos chegam a passar longos períodos no exterior, enquanto decisões estratégicas aguardam definição.

Além disso, a lista de indicados para cargos de direção nas agências reguladoras tem sido alvo de debates sobre critérios técnicos e políticos, inclusive com questionamentos do sindicato de servidores quanto à transparência das escolhas e ao possível impacto dessas nomeações no funcionamento institucional.

Riscos à regulação e à fiscalização diante da falta de verba

Diante desse quadro, cresce a preocupação com a capacidade das agências, como a ANP, de cumprir suas funções essenciais, especialmente no que diz respeito à regulação, fiscalização e garantia da qualidade dos combustíveis no Brasil.

O fechamento de banheiros para funcionários é apenas um exemplo simbólico do aprofundamento da crise, que agora atinge desde condições básicas de trabalho até a proteção dos direitos dos consumidores.

No contexto atual, como as agências reguladoras poderão assegurar a qualidade dos serviços prestados ao cidadão diante de restrições orçamentárias tão severas?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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