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Apesar da China levar mais de 70% do minério de ferro brasileiro, o Brasil gasta mais de US$ 20 bilhões anuais com eletrônicos chineses, revelando desequilíbrio nas trocas, segundo estudo do IEDI

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 13/09/2025 às 09:29
Apesar da China levar mais de 70% do minério de ferro brasileiro, o Brasil gasta US$ 17 bilhões ao ano com eletrônicos chineses, revelando um desequilíbrio brutal nas trocas comerciais, segundo dados da Secex
Foto: Apesar da China levar mais de 70% do minério de ferro brasileiro, o Brasil gasta US$ 17 bilhões ao ano com eletrônicos chineses, revelando um desequilíbrio brutal nas trocas comerciais, segundo dados da Secex
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China compra mais de 70% do minério de ferro brasileiro, mas o Brasil gasta US$ 27 bilhões ao ano em eletrônicos chineses. Relação revela desequilíbrio nas trocas.

O comércio entre Brasil e China é um dos mais robustos do mundo, mas também um dos mais assimétricos. De um lado, a China compra volumes colossais de commodities brasileiras, em especial o minério de ferro, que abastece sua indústria siderúrgica. De outro, o Brasil envia bilhões de dólares todos os anos para importar produtos manufaturados chineses, em especial eletrônicos e equipamentos de alta tecnologia.

O contraste expõe um desequilíbrio estrutural nas trocas comerciais, em que o Brasil exporta produtos de baixo valor agregado e importa produtos caros, revelando uma dependência que pode custar caro ao desenvolvimento do país.

Minério de ferro: a espinha dorsal da exportação

De acordo com dados oficiais, em 2024 a China absorveu mais de 70% do minério de ferro exportado pelo Brasil, algo em torno de 270 milhões de toneladas. O minério representa sozinho cerca de 12% de todas as exportações brasileiras, sendo peça central para o superávit comercial. Essa dependência, no entanto, é arriscada.

O setor mineral concentra receitas bilionárias, mas pouco diversifica a pauta exportadora. Além disso, o minério é vendido como matéria-prima, com valor agregado baixo em comparação ao que gera quando transformado em aço e em produtos industriais.

Essa dinâmica mantém o Brasil na posição de fornecedor de insumos brutos, enquanto outros países capturam margens maiores.

Eletrônicos chineses: a fatura bilionária que volta

Na outra ponta da balança, o Brasil desembolsou em 2020 – 27 bilhões e em 2024 cerca de US$ 17 bilhões para importar eletrônicos e equipamentos elétricos da China. Essa categoria inclui computadores, celulares, semicondutores, painéis solares, eletrodomésticos e uma infinidade de produtos que abastecem tanto a indústria quanto o consumo doméstico.

O contraste é chocante: enquanto exporta minério bruto a preços relativamente baixos, o Brasil importa bens de alto valor agregado, com tecnologia embarcada e margem de lucro elevada.

O resultado é um ciclo de dependência: sem indústria local consolidada, o país continua dependente da tecnologia chinesa para sustentar sua economia digital e sua infraestrutura moderna.

Um desequilíbrio histórico nas trocas

Essa relação não é nova. Desde a década de 2000, quando a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, o padrão tem sido o mesmo: commodities para lá, manufaturados para cá. O que muda são os números, que crescem ano após ano e escancaram o abismo entre as duas pautas.

Segundo analistas, esse modelo fortalece a curto prazo as contas externas brasileiras, mas pode comprometer a médio e longo prazo a competitividade industrial.

O risco é o Brasil se consolidar como uma economia dependente da exportação de produtos básicos, sem avançar para cadeias de maior valor agregado, afirma economista da Secex.

O impacto no desenvolvimento industrial

O fato de o Brasil importar bilhões em eletrônicos revela a fragilidade de sua própria indústria tecnológica.

Apesar de avanços em alguns setores, como agritech, fintechs e aeronáutica, a base industrial brasileira segue pouco integrada às cadeias globais de inovação.

A ausência de um setor forte em semicondutores, microchips e eletrônicos de consumo obriga o país a depender de importações não só da China, mas também de outros polos asiáticos. Essa lacuna tecnológica limita a competitividade e amplia o déficit em setores de ponta.

Dependência e riscos estratégicos

A concentração de exportações em uma única commodity e em um único mercado é um risco estratégico. Qualquer oscilação na demanda chinesa por minério de ferro pode abalar profundamente as receitas brasileiras.

O mesmo vale para a dependência de eletrônicos: tensões geopolíticas, embargos ou crises logísticas podem deixar o Brasil vulnerável ao desabastecimento e ao aumento abrupto de preços.

Especialistas defendem que o país precisa diversificar sua pauta exportadora e investir em industrialização para equilibrar melhor essa relação. Sem isso, o Brasil continuará preso ao ciclo de exportar barato e importar caro.

Caminhos para reduzir o desequilíbrio

Há três caminhos apontados como essenciais para reduzir essa desigualdade:

Agregação de valor às commodities – Investir em siderurgia avançada, metalurgia e derivados do minério, para exportar produtos de maior valor agregado.

Inovação tecnológica – Desenvolver uma base de produção local em semicondutores, eletrônicos e energias renováveis, setores nos quais o Brasil já tem mercado consumidor consolidado.

Diversificação de mercados – Reduzir a dependência da China, ampliando exportações para a União Europeia, Índia e outros países emergentes.

    Essas medidas, porém, demandam planejamento de longo prazo, políticas públicas consistentes e investimentos privados em escala bilionária.

    A relação com a China mostra a contradição central da economia brasileira: um gigante agrícola e mineral, mas ainda frágil em tecnologia e inovação.

    Enquanto exporta toneladas de minério de ferro para sustentar a indústria chinesa, o Brasil continua importando bilhões em produtos eletrônicos, perpetuando um ciclo que reforça o atraso industrial.

    Romper esse padrão exige mais do que discursos — é necessário transformar a estrutura produtiva do país. Caso contrário, o desequilíbrio brutal nas trocas comerciais seguirá como marca registrada da relação Brasil–China.

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    Valdemar Medeiros

    Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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