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Apagão digital: Brasil precisa de 159 mil profissionais de TI por ano, mas forma só 53 mil e já acumula déficit de meio milhão de programadores

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 18/09/2025 às 12:10
Apagão digital: Brasil precisa de 159 mil profissionais de TI por ano, mas forma só 53 mil e já acumula déficit de meio milhão de programadores
Foto: Apagão digital: Brasil precisa de 159 mil profissionais de TI por ano, mas forma só 53 mil e já acumula déficit de meio milhão de programadores
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Déficit anual de 100 mil programadores já deixa milhares de vagas em aberto no Brasil. Empresas oferecem salários de até R$ 15 mil e ainda não encontram profissionais.

Em um país com mais de 7 milhões de desempregados, seria lógico imaginar que empresas encontram facilmente mão de obra disponível. Mas no setor de tecnologia, o oposto acontece: vagas sobram, projetos atrasam e salários crescem em busca de profissionais que simplesmente não existem em número suficiente. A situação ganhou nome entre especialistas: apagão de mão de obra digital. Segundo a Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), o Brasil forma cerca de 53 mil profissionais de TI por ano, mas a demanda chega a 159 mil.

O resultado é um déficit anual de mais de 100 mil especialistas, que deve acumular 530 mil vagas não preenchidas até 2025 se nada mudar.

Como chegamos a esse ponto no setor de tecnologia

A raiz do problema está no descompasso entre a educação e o mercado. Enquanto universidades e cursos técnicos ainda formam profissionais em ritmo lento, a transformação digital avança em velocidade exponencial.

Nos últimos cinco anos, a digitalização se acelerou em todos os setores: bancos, varejo, indústria, agronegócio e até serviços públicos. A pandemia de COVID-19, que forçou milhões de empresas a migrar para o online, apenas acelerou um processo que já estava em curso.

O resultado foi um boom de vagas em tecnologia, que o Brasil não conseguiu acompanhar.

A realidade das empresas

Grandes grupos como Itaú, Magazine Luiza, Embraer, Ambev Tech e XP relatam a mesma dificuldade: falta gente qualificada para preencher posições de desenvolvedores, analistas de dados, engenheiros de software e especialistas em cibersegurança.

  • O Magazine Luiza já declarou que precisa contratar milhares de programadores para sustentar sua expansão digital, mas não encontra candidatos suficientes.
  • A Embraer busca engenheiros de software para projetos aeroespaciais e afirma que a carência é um gargalo de inovação.
  • Startups relatam que 40% dos projetos são adiados ou cancelados por falta de equipes técnicas, segundo a ABStartups.

E o cenário é ainda mais dramático nas pequenas e médias empresas, que não têm condições de competir com gigantes que oferecem salários de até R$ 15 mil, bônus de contratação e home office permanente.

A fuga de talentos para o exterior

Outro agravante é a exportação silenciosa de cérebros. Com o avanço do trabalho remoto, programadores brasileiros são contratados por empresas estrangeiras, recebendo em dólar ou euro sem precisar sair de casa.

Isso cria um efeito perverso: enquanto o Brasil convive com alto desemprego em setores tradicionais, perde seus poucos talentos digitais para o mercado global.

Segundo a Globalization Partners, a contratação internacional de brasileiros por empresas estrangeiras cresceu mais de 150% desde 2020, especialmente em áreas de TI.

Salários em alta, vagas em aberto

O desequilíbrio entre oferta e demanda fez os salários dispararem:

  • Um desenvolvedor pleno ganha em média R$ 6.000.
  • Um cientista de dados sênior pode ultrapassar R$ 15 mil.
  • Profissionais de cibersegurança, hoje disputados em todo o mundo, recebem propostas que superam a remuneração de executivos de alto escalão.

Mesmo assim, as vagas continuam abertas por meses. Empresas relatam processos seletivos com 20 candidatos para cada vaga júnior, mas nenhum para as posições sênior.

Impacto no futuro econômico do Brasil

A falta de profissionais de TI não é um problema restrito ao setor de tecnologia. Hoje, a digitalização é o motor de toda a economia. Sem programadores, o país corre o risco de atrasar projetos estratégicos em:

  • Inteligência Artificial, que promete transformar saúde, agricultura e indústria.
  • Automação industrial, essencial para aumentar a produtividade.
  • Cibersegurança, área crítica diante do aumento de ataques hackers.
  • Internet das Coisas (IoT), que conecta fábricas, carros e cidades inteligentes.

Um estudo da McKinsey estima que o Brasil poderia adicionar US$ 115 bilhões ao PIB até 2030 se conseguisse reduzir o déficit de profissionais digitais.

Tentativas de solução

O setor privado e o governo tentam reagir:

  • A Brasscom propôs um programa nacional de capacitação, focado em formar 150 mil profissionais por ano até 2025.
  • O SESI/SENAI e o SENAC abriram cursos técnicos gratuitos em TI em várias regiões do país.
  • Empresas como Google, Ambev Tech e XP criaram academias próprias de programação, contratando jovens mesmo sem experiência prévia.
  • Startups de educação como Alura, Rocketseat e Trybe oferecem bootcamps intensivos de 6 a 12 meses, com foco em empregabilidade imediata.

Apesar das iniciativas, a formação ainda é lenta diante da demanda crescente.

O Brasil diante de um dilema

Se não houver uma ação coordenada, o país corre o risco de ficar preso ao papel de consumidor de tecnologia importada, em vez de se tornar criador de inovação. Isso significa perder competitividade global e depender de soluções estrangeiras até em setores estratégicos, como defesa cibernética e sistemas financeiros.

Como resume Silvia Valadares, diretora de Startups da Microsoft, “o gargalo de talentos não é apenas um problema econômico, é um risco de soberania. Quem não tem profissionais para criar sua própria tecnologia, acaba refém da tecnologia dos outros”.

O apagão de mão de obra em TI pode se transformar em uma das maiores crises silenciosas da economia brasileira ou em uma oportunidade histórica. Se o país investir pesado em formação, poderá transformar o déficit em chance de mobilidade social, criando uma nova classe de profissionais de alta renda em todas as regiões.

Mas se continuar atrasado, o Brasil corre o risco de perder a revolução digital — e com ela, bilhões em crescimento econômico.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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