Antes de São Paulo e Rio, uma cidade do interior fluminense inaugurou a iluminação pública elétrica em 1883, encantou Dom Pedro II e colocou o país entre os pioneiros mundiais ao transformar a noite urbana com um sistema de geração dedicado e lâmpadas de alta intensidade
A cidade do interior fluminense que entrou para a história foi Campos dos Goytacazes. Em 1883, a inauguração da iluminação elétrica pública mudou a rotina local e projetou o Brasil na rota da modernidade, bem antes das capitais mais famosas. O evento reuniu autoridades e população, numa noite que simbolizou a passagem definitiva das lamparinas para a luz contínua e controlável.
Antes desse salto, experiências com eletricidade já aconteciam em pontos específicos, como a Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, que recebeu poucas lâmpadas de teste. A implantação permanente em Campos consolidou a virada tecnológica, marcando o início da adoção em outras praças do país ao longo dos anos seguintes.
Como o Brasil iluminava antes da eletricidade
Até o fim do século 18, a iluminação era essencialmente privada e doméstica, baseada em lampiões e lamparinas, o que deixava as ruas escuras e pouco seguras.
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Festas e datas cívicas ganhavam cenas iluminadas por velas nas fachadas, criando um brilho ocasional e efêmero.
No século 19, a iluminação pública com óleo de baleia e depois gás passou a equipar algumas cidades.
O Rio de Janeiro oficializou o sistema a óleo ainda em 1794, e São Paulo implantou o gás em 1854, serviço que resistiu até a década de 1930.
A chegada da eletricidade, porém, prometia constância, potência e alcance que nenhum dos sistemas anteriores conseguia entregar.
A noite de 24 de junho de 1883 que encantou o Imperador
Em 24 de junho de 1883, às 19h, a cerimônia de inauguração em Campos dos Goytacazes levou uma multidão às ruas.
Dom Pedro II, entusiasta de ciência e tecnologia, acionou o sistema diante de cerca de 20 mil pessoas, provocando aplausos prolongados e a sensação coletiva de assistir a um novo tempo.
A cidade do interior fluminense ganhava, assim, a primeira rede de iluminação pública elétrica do Brasil e da América Latina, consolidando um capítulo que o país passaria a revisitar como símbolo de modernização.
O feito colocou o Brasil entre os primeiros do mundo a operar um sistema urbano desse tipo.
Tecnologia, potência e alcance do sistema pioneiro
O sistema campista utilizava uma máquina térmica acionando três dínamos, com potência de cerca de 52 kW.
O conjunto alimentava 39 lâmpadas de alta intensidade, descritas como de duas mil velas cada, distribuídas inicialmente por cinco ruas em pontos elevados para ampliar a difusão luminosa.
Relatos da época mencionam que o sistema trabalharia com força total entre 30 mil e 33 mil velas, configurando um patamar de luminosidade marcante para o padrão urbano do período.
A infraestrutura ganhou uma estação própria, a “Estação da Luz Elétrica”, instalada na Avenida Pedro II, reforçando o caráter permanente do serviço.
Depois de Campos: a propagação da ideia
O exemplo campista inspirou outras cidades. Rio Claro, em São Paulo, avançou cedo com usina própria, enquanto Curitiba, Maceió e Juiz de Fora caminharam na mesma direção, cada qual com soluções locais.
Em 1887, Maceió registrou a “Lâmpada dos Alagoas”, invenção baseada em fibras vegetais.
Curiosamente, as grandes capitais vieram depois.
O Rio de Janeiro só implantou iluminação elétrica pública de forma ampla a partir de 1904, e São Paulo, em 1905.
O pioneirismo da cidade do interior fluminense evidencia como a inovação pode emergir longe dos centros políticos e econômicos.
Memória urbana e vestígios visíveis
Do episódio inaugural, restou um poste histórico em frente à sede da Receita Federal em Campos dos Goytacazes, acompanhado de placa comemorativa.
Esse vestígio urbano ajuda a materializar a narrativa e a criar educação patrimonial, transformando a história em experiência concreta para moradores e visitantes.
A memória técnica e social do projeto também guarda lições sobre planejamento, operação e manutenção de sistemas públicos, mostrando que as decisões de engenharia e gestão foram decisivas para viabilizar o serviço inaugural.
Por que esse pioneirismo ainda importa
A difusão da iluminação pública elétrica foi decisiva para ampliar turnos industriais, estimular o lazer noturno e reorganizar a vida urbana.
Ao iluminar praças e ruas com regularidade e potência, a cidade do interior fluminense acelerou transformações econômicas e culturais que se espalhariam pelo país.
Também ficou a lição de política pública: quando inovação tem patrocínio institucional e propósito claro, o impacto social é imediato.
A noite inaugural de 1883 sintetizou ciência, governo e interesse público numa mesma chave de progresso.
Na sua opinião, a cidade do interior fluminense que inaugurou a luz elétrica deveria explorar mais esse patrimônio em roteiros de memória e turismo científico, ou o legado já está bem preservado para as próximas gerações?


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