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Angra 3 parou, voltou e travou: tecnologia envelhecida, custo nas alturas e um país sem coragem de decidir entre terminar ou assumir o prejuízo

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 28/10/2025 às 15:37
Angra 3 volta ao debate nacional com uma usina nuclear de tecnologia envelhecida, custos crescentes e um projeto que divide o Brasil entre concluir a obra ou rever sua política de energia. Entenda os dilemas, riscos e caminhos possíveis para o futuro da geração elétrica no país.
Angra 3 volta ao debate nacional com uma usina nuclear de tecnologia envelhecida, custos crescentes e um projeto que divide o Brasil entre concluir a obra ou rever sua política de energia. Entenda os dilemas, riscos e caminhos possíveis para o futuro da geração elétrica no país. IMAGEM E EDIÇÃO: CONSTRUCTION TIME
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A novela de Angra 3 contrasta uma obra paralisada, tecnologia envelhecida e cifras elevadas com a promessa de energia firme, deixando o país entre finalizar a usina ou reconhecer o prejuízo

Angra 3 nasceu como símbolo de soberania energética e atravessou décadas de idas e vindas até se transformar no retrato das grandes obras inconclusas do país. Localizada em Angra dos Reis, integrada ao complexo Almirante Álvaro Alberto, a usina foi concebida com potência estimada em cerca de 1,4 GW e promessa de reforçar a segurança do sistema elétrico. O tempo, porém, cobrou preço alto em atrasos, degradação de estruturas, disputas políticas e incertezas regulatórias.

Hoje, o projeto carrega a pressão de não desperdiçar o que já foi investido e a necessidade de atualizar padrões de segurança e controle. O dilema é direto. Ou o Brasil conclui Angra 3 com governança e planejamento compatíveis com sua complexidade ou assume o encerramento definitivo, evitando perpetuar custos sem entrega.

Onde o projeto travou e por quê

A história de Angra 3 começa nos anos 70 como parte de um acordo de cooperação tecnológica que previa múltiplas usinas.

As obras de sua unidade tiveram início em 1984 e foram interrompidas em 1986 no contexto da crise econômica, com menos de um terço executado.

A retomada veio em 2009, com previsão de operação alguns anos depois, mas novas paralisações ocorreram a partir de 2015, em meio a denúncias, rescisões contratuais e avanços aquém do planejado.

O vaivém expôs fragilidades de coordenação entre engenharia, licenciamento e financiamento.

A cada pausa, cresce o custo de requalificação, já que estruturas se deterioram e sistemas precisam ser revisados à luz de normas atuais.

Some-se a isso um ambiente institucional que raramente garante continuidade técnica em obras de alta complexidade.

Tecnologia envelhecida e necessidade de atualização

Angra 3 foi projetada como réplica evoluída de Angra 2, baseada em reator PWR da geração concebida nos anos 80.

Componentes nucleares e convencionais adquiridos naquela época exigem programas de conservação, ensaios e requalificações para cumprir requisitos modernos de proteção, instrumentação e controle.

Embora o conceito de reator pressurizado continue amplamente utilizado, as soluções digitais, os padrões sísmicos e as camadas de defesa em profundidade avançaram.

Concluir a usina depende de integrar equipamentos antigos com sistemas atualizados, validando interfaces, redundâncias e procedimentos de emergência.

Não é simples nem rápido e requer gestão técnica rigorosa.

Quanto falta e quanto pesa no orçamento

O avanço físico de Angra 3 foi retomado ao longo dos anos e chegou a algo próximo de dois terços de execução, com edifícios principais erguidos e parte dos sistemas civis e eletromecânicos instalados.

A conta, porém, não é trivial. Cada atraso reabre frentes de custo em conservação de ativos, recontratação de pacotes, atualização de projetos e adequações regulatórias.

Houve tentativas de reprecificação e inclusão em programas de parceria para atrair capital e rearranjar riscos.

Ainda assim, o equilíbrio econômico depende do tripé tarifa, cronograma e risco de obra. Sem previsibilidade técnica, qualquer estimativa se torna frágil.

Angra 3 só se sustenta se houver um plano executivo fechado, contratos bem alocados e governança capaz de segui-los sem novas interrupções.

Impacto energético e riscos sistêmicos

O apelo de Angra 3 está em oferecer energia firme, disponível continuamente, reduzindo a dependência hídrica em períodos de seca e complementando fontes intermitentes como eólica e solar.

Em cenários de transição e variabilidade climática, usinas nucleares despacháveis adicionam previsibilidade ao Sistema Interligado.

O outro lado é que obras nucleares exigem padrão de qualidade contínuo, monitoramento ambiental permanente e robustez de operação por décadas.

Se a governança falhar, o risco é transformar investimento acumulado em custo afundado, sem a contrapartida de segurança energética que motivou o projeto.

Para avançar, Angra 3 precisa de um arranjo institucional claro, com papéis e responsabilidades definidos entre controladores, financiadores, reguladores e cadeia de suprimentos.

O licenciamento ambiental e nuclear exige documentação atualizada, validação de alterações de engenharia e transparência sobre riscos e mitigação.

Sem um plano de ataque único, com marcos realistas e mecanismos de cobrança de desempenho, a obra tende a repetir o ciclo de promessas e travamentos.

O caminho alternativo é encerrar de forma ordenada, contabilizar perdas e redirecionar recursos.

O pior cenário é permanecer no meio do caminho, consumindo recursos sem entregar potência ao sistema.

E você, diante do histórico, o Brasil deve concluir Angra 3 com um plano técnico fechado e cronograma controlado ou encerrar o projeto para evitar novos custos afundados?

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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