A Índia lança o submarino nuclear S3 Arighat, equipado com mísseis balísticos com armas nucleares, uma demonstração de força que pode ameaçar até mesmo a China no cenário global
Em 29 de agosto, a Índia deu mais um importante passo em seu avanço militar ao comissionar o S3 Arighat, o segundo submarino nuclear construído internamente pelo país. A cerimônia, presidida pelo ministro da Defesa, destacou o progresso da nação em direção à construção de uma tríade nuclear, que inclui sistemas de armamentos nucleares aéreos, terrestres e marítimos.
Essa diversificação é essencial para manter uma dissuasão nuclear robusta, especialmente em um contexto de crescentes tensões com a China. O Arighat, ao lado de seu predecessor, o Arihant, faz parte de um programa ambicioso que busca consolidar a capacidade da Marinha Indiana de realizar patrulhas nucleares submarinas 24 horas por dia.
O Arighat, cujo nome significa “matador de inimigos”, não é um submarino convencional destinado à caça de embarcações inimigas. Ele é um SSBN, ou seja, um submarino de mísseis balísticos, projetado para operar de forma furtiva e esconder-se em profundezas oceânicas, aguardando ordens para lançar uma saraivada de mísseis nucleares em caso de necessidade. Sua função é essencialmente dissuasória, funcionando como uma garantia de retaliação em caso de um ataque nuclear.
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Essa capacidade submarina é particularmente importante para a Índia devido à sua rivalidade histórica com a China, uma potência que não apenas possui mais mísseis nucleares de longo alcance, mas também tem uma marinha mais robusta no Oceano Índico.
Além disso, a China é aliada próxima do Paquistão, o principal adversário regional da Índia, o que coloca uma pressão adicional sobre Nova Délhi para fortalecer suas capacidades militares.
Submarino nuclear da Índia
O Arighat e o Arihant são os primeiros exemplos de submarinos nucleares que a Índia planeja construir, com a intenção de manter uma presença dissuasória contínua.
Esses submarinos têm reatores nucleares que lhes permitem permanecer submersos por longos períodos, uma vantagem significativa em relação aos submarinos convencionais movidos a diesel, que precisam emergir regularmente para recarregar suas baterias. Isso torna os “boomers” da Índia, como são conhecidos os submarinos de mísseis balísticos, mais difíceis de serem detectados e, portanto, mais resistentes a ataques surpresa.
No entanto, a frota submarina indiana ainda está em fase de desenvolvimento. Apesar de o Arighat ter sido lançado em 2017, ele só iniciou seus testes no mar em 2022 e foi comissionado três anos após o previsto.
Embora tenha sido especulado que o Arighat seria mais avançado que o Arihant, com um reator mais potente e uma capacidade maior de mísseis, na prática, ele mantém o mesmo reator CLWR-B1 de 83 megawatts e pode transportar quatro mísseis K-4 de médio alcance.
Esses mísseis têm capacidade para atingir alvos a até 2.500 milhas, o que lhes permite ameaçar alvos importantes na China, mas ainda com alcance limitado se comparados aos mísseis de longo alcance de outras potências.
A Marinha Indiana também está trabalhando em futuras melhorias. O próximo submarino da série, o S4 Aridaman, será maior e poderá transportar até oito mísseis de médio alcance.
Além disso, estão previstos novos submarinos da classe S5, capazes de transportar entre 12 e 16 mísseis K-6 de longo alcance, com múltiplas ogivas nucleares. Esses submarinos serão fundamentais para que a Índia possa se equiparar às capacidades da China e garantir uma dissuasão nuclear marítima robusta e contínua.
Desafios e Cooperação Internacional
Apesar dos avanços, a Índia ainda enfrenta desafios técnicos e logísticos no desenvolvimento de seus submarinos nucleares.
O desenvolvimento de um reator de classe 190 megawatts, necessário para submarinos maiores e mais rápidos, ainda está em fase de projeto, e um protótipo terrestre ainda não foi construído. Isso representa um obstáculo significativo para o programa de modernização da Marinha Indiana.
A cooperação internacional tem desempenhado um papel importante no avanço das capacidades submarinas da Índia. Transferências de tecnologia da Rússia foram fundamentais no desenvolvimento do Arihant, e o país também arrendou dois submarinos nucleares russos da classe Akula, renomeados Chakra I e II, que ajudaram a Índia a adquirir experiência com esse tipo de tecnologia.
Além disso, muitos dos sistemas internos dos submarinos indianos, como radares e sistemas de defesa, foram adquiridos de empresas britânicas, francesas e israelenses.
Outro fator que influencia a estratégia indiana é o crescente envolvimento dos Estados Unidos e de seus aliados com a Marinha Indiana.
As tensões mútuas com a China têm levado a uma cooperação militar mais profunda entre essas nações, o que inclui exercícios navais conjuntos e o compartilhamento de informações. O objetivo é fortalecer a presença da Índia no Oceano Índico e garantir que suas forças estejam preparadas para dissuadir qualquer agressão chinesa.
Rivalidade com a China
A rivalidade entre a Índia e a China não é apenas uma questão marítima. Os dois países têm disputas de fronteira de longa data, incluindo conflitos no Himalaia que remontam à guerra de 1962.
Nos últimos anos, essas tensões se intensificaram, com escaramuças periódicas ao longo da Linha de Controle Real. A China, com sua marinha cada vez mais ativa no Oceano Índico e sua base militar em Djibuti, também representa uma ameaça crescente para os interesses indianos na região.
A Índia, por sua vez, está focada em aumentar sua capacidade de dissuasão nuclear contra a China. No momento, a China possui submarinos nucleares mais robustos, incluindo seis boomers Type-094 equipados com mísseis de longo alcance JL-2 e JL-3, que podem atingir alvos em toda a Índia.
Em contrapartida, os submarinos indianos ainda precisam se aproximar perigosamente das defesas costeiras chinesas para atingir alvos significativos.
O futuro da dissuasão nuclear Indiana
Embora o comissionamento do Arighat seja um marco importante para a Marinha Indiana, o caminho para uma dissuasão das armas nucleares marítima confiável e contínua ainda é longo. Especialistas acreditam que pelo menos três submarinos boomers são necessários para garantir que um esteja sempre em patrulha, enquanto os outros passam por manutenção.
Além disso, a Índia precisa de submarinos maiores, com mais mísseis e de maior alcance, para se equiparar às capacidades da China.
O futuro da dissuasão nuclear indiana dependerá da capacidade do país de superar os desafios técnicos e financeiros que ainda enfrenta. Se os programas dos submarinos S4 e S5 avançarem conforme o planejado, a Índia poderá reduzir o atual desequilíbrio de poder das armas nucleares com a China, tornando a possibilidade de uma guerra nuclear ainda mais remota.