Representantes do setor de construção civil alertam que mudanças na escala 6 POR 1 podem ter impacto catastrófico na indústria nacional
A possível extinção da escala 6 por 1 no Brasil está gerando intensos debates, especialmente na indústria da construção civil, setor que emprega milhares de trabalhadores, conforme o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Segundo Eduardo Aroeira, vice-presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), essa mudança seria desastrosa para o setor, impactando diretamente a produtividade e a entrega de obras.
“Não temos esses trabalhadores”, declarou Aroeira, ressaltando que, caso a escala seja alterada, será necessário buscar mais mão de obra para evitar atrasos nas obras, algo que, atualmente, seria impraticável devido à baixa disponibilidade de trabalhadores qualificados.
Crise de mão de obra no setor da construção
O setor da construção enfrenta um problema crônico de escassez de mão de obra, agravado pela falta de qualificação profissional e pelo desinteresse dos jovens em trabalhar em canteiros de obras. Dados levantados pela Cbic mostram que a força de trabalho está envelhecendo: a idade média dos trabalhadores subiu de 38 anos, em 2016, para 41 anos em 2023, chegando a 43 anos no estado de São Paulo.
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Além disso, grande parte desses trabalhadores opera de forma informal, com jornadas médias de 38,8 horas semanais e uma renda média mensal de R$ 2.552,99. Segundo Aroeira, essa realidade aumenta os desafios da indústria em manter a produtividade enquanto enfrenta uma demanda crescente por novas obras.
“Estamos, hoje, praticamente em pleno emprego e nossa grande luta não é empregar pessoas e, sim, o aumento de produtividade. A alteração da escala neste momento […] geraria o desemprego ou a informalidade”, afirmou Aroeira, durante uma coletiva realizada na manhã desta segunda-feira (18).
Crescimento em meio aos desafios
Mesmo diante dessas dificuldades, o setor imobiliário brasileiro tem registrado recordes de crescimento. A Cbic aponta alta nos lançamentos e vendas no último trimestre, em comparação ao mesmo período do ano anterior, indicando que a demanda segue aquecida. Contudo, especialistas do setor da construção acreditam que o fim da escala 6 por 1 poderia reverter esse cenário positivo.
Para Ely Wertheim, vice-presidente de indústria imobiliária da Cbic, a mudança seria um desserviço ao país. “A gente devia estar era produzindo, aumentando a produtividade, investindo em capacitação, empregando, entregando as coisas no prazo —não só apartamento, vale para qualquer indústria, para qualquer serviço.”
O debate sobre a escala 6 por 1
A escala 6×1 permite que o trabalhador tenha apenas um dia de descanso remunerado por semana. Recentemente, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que visa alterar essa jornada. O texto sugere a adoção de uma semana de trabalho de quatro dias, medida já implementada em outros países e que foi testada por algumas empresas no Brasil.
Durante o feriado da Proclamação da República, manifestações em apoio ao fim da escala ocorreram em várias capitais do país. Os manifestantes compararam a jornada de 44 horas à escravidão, evidenciando o impacto social da discussão.
Apesar da resistência de setores como a construção civil, a PEC já alcançou o número mínimo de assinaturas para tramitar na Câmara dos Deputados. Erika Hilton afirmou que o texto seguirá para a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania) para análise de admissibilidade.
Produtividade como solução
Enquanto o debate avança, representantes da construção civil destacam a necessidade de focar em medidas que melhorem as condições de trabalho e aumentem a eficiência. “A discussão prioritária, no nosso interesse, é como a gente pode melhorar as condições dos trabalhadores, com aumento de produtividade, formas diferentes de construir”, concluiu Aroeira.
Embora a proposta de mudança na escala 6 por 1 possa ser vista como uma oportunidade para modernizar as relações trabalhistas, a perspectiva de setores estratégicos, como a construção civil, reforça a complexidade da questão.