O maior trem de minério do mundo está na África do Sul: entenda o impacto econômico e geopolítico da ferrovia Sishen-Saldanha
Imagine um trem metálico com quase 4 km, carregando dezenas de milhares de toneladas de minério pela savana, até chegar ao mar. É justamente aí, entre Sishen e Saldanha, na África do Sul, que bate o coração industrial do país. Essa ferrovia monstro foi pensada nos anos 1970, em plena tensão do apartheid, para garantir que o ouro vermelho das minas chegasse na costa e fosse exportado sem tropeços. E o que começou como um plano da ISCOR, hoje é uma das gigantes logísticas do mundo, ainda em expansão.
Da descoberta ao “start” do projeto
Quando identificaram vastos depósitos de minério em Sishen, no noroeste do Cabo, a ISCOR (South African Iron and Steel Corporation) tomou a frente e apresentou um plano audacioso: um trem especial, pesado, que cortasse as terras áridas e chegasse até Saldanha, na costa, para acelerar o escoamento marítimo. Era a chance de fortalecer exportações num momento em que o país enfrentava isolamento pelas sanções internacionais, um empurrão decisivo para a construção da linha.
Polêmicas, debates e a escolha do porto
O Parlamento fervia: Partido Nacional vs Partido Unido discutiam cada palmo da futura ferrovia. Em 1973, o Projeto de Lei de Construção cruzou o palco político, incluindo a polêmica escolha entre o porto de Saldanha ou St. Croix, cada versão trazia impactos enormes na logística e custos regionais.
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Tecnicamente monstruosa e moderníssima
Quando o primeiro comboio partiu, em 1976, era puro feito de engenharia. São 861 km de linha única com 50 kV de eletrificação, ao invés dos padrões usuais de 25 kV, permitindo trens de 41.400 toneladas, atualmente com 342 vagões e locomotivas em tecnologia RDP, protegidos por loops para cruzamentos.
Até 2019, a operação foi ampliada para 375 vagões. Ontem e hoje, o trajeto escoa aproximadamente 60 milhões de toneladas por ano, fortalecendo a exportação de minério.
Atualidade: mais expansão, mais parcerias públicas e privadas
Nos últimos meses, houve negociações fortes entre Transnet e mineradoras como Glencore e Anglo American para injetar bilhões de rands na linha, que sofreu com roubo, vandalismo e infraestrutura envelhecida. Desde abril de 2025, abriram-se para operadores privados, e o investimento soma cerca de R$ 9 bilhões apenas na ferrovia de minério.
Segundo Ian Bird, da B4SA, “estamos num ponto em que algo precisa ser feito” para retomar capacidade e cumprir metas de exportação.
Por que tudo isso ainda faz diferença para o mundo?
Economia global: com a linha estabilizada, a exportação de minério fica mais previsível, impactando os preços globais.
Geoengenharia: a ferrovia segue como laboratório de soluções tecnológicas (eletrificação 50 kV, loops, trens gigantes).
Segurança e manutenção: são 28 episódios de vandalismo registrados em 2024, motivo de ajustes urgentes e mais vigilância.
E agora, o que vem por aí?
A ISCOR já virou história, hoje quem comanda é a Transnet, em parceria com empresas privadas. As discussions giram em torno de:
1. Modernização de sistemas elétricos.
2. Reforço de segurança ao longo dos 861 km.
3. Otimização de despacho de trens, reduzindo tempo de espera e aumentando volumes, buscando metas de 193 Mt anuais até 2029.
Será controverso?
Por um lado, você tem a maior ferrovia de minério do mundo operando há quase meio século. Por outro, um país lutando para manter esse sistema de 861 km vivo, competitivo e seguro, em meio à pressão de grupos, crime e falhas técnicas. Mas, para a economia sul-africana, e para o circuito global de commodities, essa rota ainda segue vital.
O que você acha? Essa viagem de trem merece uma conversa. Se você curtiu essa jornada pelo coração logístico da África do Sul, deixe seu comentário aqui ou compartilhe esse texto com outros entusiastas de infraestrutura e história industrial!
Enorme feito da economia sul africana que atravessou eras políticas complexas, sem perder o foco. Os políticos passam, o país, a economia e o povo continuam… o combate e a antecipação ao crime é fundamental.