A demanda crescente da medicina tradicional chinesa pelo ejiao — remédio feito com colágeno da pele de jumentos — está levando ao abate em massa desses animais, provocando desequilíbrios ambientais, impactos econômicos e risco de colapso populacional em regiões rurais de diversos países
A crescente demanda da medicina tradicional chinesa por pele de jumento está gerando um alerta internacional. O motivo é o uso do colágeno desses animais na produção do ejiao, um remédio valorizado por supostos efeitos sobre vitalidade e rejuvenescimento.
Com isso, o abate de jumentos aumentou drasticamente em diferentes regiões, provocando desequilíbrios ambientais e impactos econômicos em comunidades rurais que dependem desses animais no dia a dia.
A valorização do ejiao e o aumento do abate
O ejiao é produzido a partir do colágeno extraído da pele de jumentos e usado há séculos na medicina chinesa.
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Entretanto, a expansão econômica da China e o aumento do poder de compra da população intensificaram a procura pelo produto, gerando um mercado altamente lucrativo.
Nos últimos anos, essa valorização resultou em um aumento expressivo no comércio de jumentos, tanto de forma legal quanto clandestina.
Isso porque o crescimento da demanda superou a capacidade de fornecimento interno chinês, levando à importação em larga escala de animais de países da África, América do Sul e Ásia.
Relatórios recentes indicam que o número de jumentos caiu drasticamente em várias regiões.
No Brasil, a alta demanda chinesa provocou uma queda acentuada no número de jumentos: em algumas regiões, a população diminuiu cerca de 90%, impulsionada pelo comércio ilegal de peles.
Em algumas localidades, a população diminuiu até 70% em cinco anos, o que acendeu o alerta de organizações internacionais sobre um possível colapso populacional da espécie.
Impactos sociais e econômicos para as comunidades rurais
O desaparecimento dos jumentos traz consequências diretas para famílias que vivem em áreas rurais. Em muitos países, esses animais são fundamentais no transporte, no manejo agrícola e em pequenas atividades comerciais.
Com o avanço do comércio internacional e o aumento do abate, comunidades que antes utilizavam jumentos em tarefas básicas ficaram sem meios acessíveis de transporte.
Isso gerou queda na produtividade, dificuldade de deslocamento e aumento dos custos para os trabalhadores rurais.
Além disso, o preço dos poucos animais disponíveis subiu consideravelmente, tornando inviável sua compra por pequenos criadores.
Essa escassez compromete a renda de muitas famílias, que perdem um aliado essencial em suas atividades cotidianas.
Portanto, o impacto vai muito além da questão ambiental — ele se reflete diretamente na sustentabilidade social e econômica de comunidades inteiras.
Ameaças à biodiversidade e aos ecossistemas
O abate em massa também provoca desequilíbrios ambientais. Jumentos participam de processos naturais importantes, como o transporte de sementes, contribuindo para a regeneração de áreas rurais e semiáridas.
A rápida redução desses animais interfere nesses ciclos e pode afetar a biodiversidade local.
O desaparecimento da espécie altera a dinâmica de ecossistemas inteiros, influenciando desde o crescimento de plantas até a sobrevivência de outras espécies que dependem indiretamente deles.
Além disso, o comércio ilegal de peles tem se expandido, muitas vezes associado a práticas cruéis e insustentáveis.
O tráfico de jumentos ocorre em rotas semelhantes às de contrabando de outros animais silvestres, dificultando o controle e favorecendo a atuação de redes criminosas.
Esforços globais para conter a exploração
Diante desse cenário, governos e organizações internacionais buscam soluções para frear o abate desenfreado.
Uma das principais medidas é a regulamentação do comércio de jumentos e derivados, com exigência de origem comprovada e controle alfandegário mais rígido.
Alguns países vêm adotando sistemas de rastreamento e identificação dos animais, com registros individuais para coibir o tráfico e melhorar a fiscalização.
Ao mesmo tempo, movimentos de proteção animal trabalham para incluir o jumento entre as espécies ameaçadas, o que ampliaria sua proteção legal.
A cooperação entre países também tem se mostrado essencial. O intercâmbio de informações sobre rotas de comércio e apreensões facilita a detecção de redes ilegais que operam em fronteiras de difícil acesso.
Outra frente de atuação é o incentivo à pesquisa científica em busca de substitutos sintéticos para o ejiao.
Laboratórios e universidades têm explorado alternativas à base de colágeno vegetal e biotecnológico, com o objetivo de reduzir a pressão sobre a espécie sem eliminar o valor cultural da medicina tradicional chinesa.
O desafio de equilibrar tradição e preservação
O debate sobre o abate de jumentos vai além da questão econômica. Ele envolve um dilema entre tradição e sustentabilidade.
Enquanto o ejiao representa uma prática cultural milenar, sua produção em larga escala ameaça a sobrevivência de uma espécie vital para muitas comunidades.
A solução passa pela conscientização global e pela criação de políticas que conciliem as demandas comerciais com a preservação ambiental.
Somente com fiscalização eficiente, campanhas educativas e alternativas viáveis será possível conter o avanço do comércio predatório.
O futuro dos jumentos depende do comprometimento coletivo — de consumidores, governos e instituições — em garantir que esses animais continuem desempenhando seu papel nos ecossistemas e nas vidas de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Com informações de Correio Braziliense.