Com investimento de US$ 2 bilhões e arquitetura inspirada nas dançarinas Apsara, o Aeroporto Internacional Techo inaugura uma nova era no Camboja, unindo tradição, sustentabilidade e tecnologia para impulsionar o turismo e a economia nacional
Num dia úmido de outubro, o silêncio do saguão de embarque em Phnom Penh foi rompido por cânticos budistas. Monges com túnicas alaranjadas cercavam uma estátua dourada de Buda de nove metros de altura. A cerimônia marcava a bênção e a inauguração do Aeroporto Internacional Techo, o mais ambicioso projeto aéreo da história do Camboja. Somente após o ritual, os primeiros aviões puderam pousar no novo terminal, inaugurado na segunda-feira (20).
Um investimento bilionário e símbolo de modernidade
Localizado cerca de 30 quilômetros ao sul da capital, o Techo International custou US$ 2 bilhões — cerca de R$ 10,78 bilhões — e ocupa 87 mil metros quadrados.
O projeto foi assinado pelo renomado escritório britânico Foster + Partners e inspirado nos cocares das dançarinas Apsara, ícones da cultura Khmer.
-
Mercado Livre coloca plano ousado na mesa para contratar 20 mil pessoas no Brasil ainda neste ano
-
De receita de família a rede com 21 quiosques: Dom Casero cria 300 empregos e leva biscoitos artesanais aos shoppings do Brasil
-
Descoberta em estado esquecido no Brasil pode gerar 495 mil empregos, injetar R$ 175 bilhões no PIB e mudar o mapa energético
-
Nova lei derruba valor do IPVA, garante alívio de até R$ 800 para carros de R$ 50 mil e beneficia motoristas de motos, camionetas e caminhonetes
Dentro do terminal, a luz natural atravessa amplas janelas que vão do chão ao teto. O piso de madeira clara e a vegetação tropical completam a atmosfera moderna e acolhedora.
Segundo Nikolai Malsch, sócio sênior do estúdio de arquitetura, o foco foi criar percursos intuitivos e práticos.
Ele explicou à CNN que o trajeto até os portões nunca ultrapassa 500 metros, facilitando o deslocamento de passageiros.
Sustentabilidade e integração local
O aeroporto nasceu também com uma proposta ecológica. A cobertura curvilínea do edifício serve como sistema de captação de água da chuva, e empresas locais foram convidadas a participar da operação.
A rede Brown Coffee, por exemplo, manteve um quiosque funcionando ainda durante as obras, atendendo trabalhadores e visitantes.
Para Charles Vann, diretor da Cambodia Airport Investment Company, o novo terminal deve se tornar uma atração turística por si só.
Ele afirmou à CNN que o objetivo é colocar o país em pé de igualdade com grandes polos aéreos. “Acreditamos que este aeroporto pode atrair muitos viajantes e turistas para o Camboja, de forma semelhante a Dubai ou Londres”, declarou.
Um portal para o futuro cambojano
O governo de Hun Manet celebra o projeto como um marco para o desenvolvimento nacional. Durante a cerimônia de inauguração, o primeiro-ministro afirmou que o Techo International reflete a visão de longo prazo do país.
Hoje, o Camboja recebe cerca de 2,5 milhões de turistas internacionais por ano, enquanto o Vietnã atrai 18 milhões e a Tailândia, 32 milhões.
Com novas rotas diretas para Istambul e Abu Dhabi, a expectativa é fortalecer a conectividade e aumentar o fluxo de visitantes.
A aposta é que o aeroporto funcione como um novo portal de entrada para o Sudeste Asiático.
A infraestrutura tecnológica também é destaque. O terminal conta com sistemas de reconhecimento facial nos scanners de embarque e até uma música-tema oficial, intitulada Power of Techo International Airport, divulgada nas redes sociais do premiê.
Além disso, o complexo integra o plano nacional “Sacred Tourism 2025-2035”, que pretende diversificar o turismo além de Angkor Wat.
A proposta foca em experiências de bem-estar, turismo comunitário e novas atrações na região sul do país.
Obstáculos e percepções negativas
Apesar do entusiasmo do governo e do investimento maciço, o projeto enfrenta desafios.
A CNN lembrou que o aeroporto foi inaugurado apenas quatro dias após a Coreia do Sul emitir um alerta raro — o “código preto” — desaconselhando viagens ao Camboja por risco de golpes e insegurança.
O analista Shukor Yusof, fundador da Endau Analytics, avalia que a infraestrutura, por si só, não é suficiente para transformar o país em destino de destaque.
Ele compara que “Vietnã e Tailândia oferecem mais em termos de cultura, gastronomia e, principalmente, segurança”.
Segundo ele, o Camboja ainda precisa melhorar sua reputação, frequentemente associada a fraudes e tráfico humano.
Essa imagem, afirma, pode dificultar o crescimento do turismo, mesmo com o novo aeroporto funcionando em plena capacidade.
Próximos passos e desafios logísticos do aeroporto
O antigo Aeroporto Internacional de Phnom Penh foi encerrado e aguarda uma definição sobre seu futuro.
Já o Techo International deve passar por uma segunda fase de desenvolvimento, incluindo a construção de uma linha ferroviária conectando o terminal ao centro da capital.
Por enquanto, o acesso é feito por carro ou tuk-tuk, pela nova rodovia que corta campos de arroz. O cenário é simbólico: uma mistura entre tradição e modernidade, entre o passado agrícola e o desejo de um futuro mais conectado.
O Camboja aposta que o aeroporto de R$ 11 bilhões será o impulso que faltava para reposicionar o país no mapa do turismo global — mas o verdadeiro desafio começa agora, quando os voos decolam rumo à credibilidade.
Com informações de O Globo.



Seja o primeiro a reagir!