Açúcar brasileiro supera US$ 1 bilhão em exportações em 2025, reforçando liderança mundial, mas enfrenta pressão ambiental da União Europeia.
2025 marca mais um capítulo histórico no agronegócio brasileiro: o açúcar já superou a marca de US$ 1 bilhão em exportações apenas no primeiro semestre do ano, consolidando o país como o maior fornecedor global da commodity. O feito não é casual. Ele reflete a eficiência tecnológica do setor sucroenergético, a força da logística brasileira e um cenário internacional em que concorrentes perdem espaço devido a crises climáticas e restrições de oferta.
Para o Brasil, esse recorde não é apenas um número. Ele confirma que o açúcar é um trunfo estratégico em meio à transição energética (com o etanol como subproduto direto da cana), às disputas comerciais e à busca global por alimentos em larga escala.
Como o Brasil se tornou líder
A trajetória do Brasil no mercado mundial de açúcar é de longo prazo. Hoje, o país responde por quase 40% de todo o comércio global. Em 2024, exportou mais de 30 milhões de toneladas, e em 2025 a projeção é ultrapassar 35 milhões.
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Entre os fatores que explicam essa liderança:
- Clima e solo ideais: a cana-de-açúcar cresce com elevada produtividade em estados como São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul.
- Tecnologia de ponta: usinas brasileiras utilizam colheita mecanizada e processamento integrado para produzir simultaneamente açúcar e etanol.
- Competitividade logística: portos como Santos e Paranaguá escoam milhões de toneladas com eficiência crescente.
- Moeda favorável: a valorização do dólar em relação ao real aumenta a atratividade das exportações.
O espaço deixado pela Índia
Se o Brasil avança, parte disso se deve ao recuo de concorrentes. A Índia, segundo maior produtor mundial, sofreu em 2024 e 2025 com estiagens prolongadas que reduziram drasticamente a oferta.
Para proteger o mercado interno, Nova Déli restringiu exportações — abrindo espaço imediato para que o Brasil fechasse contratos bilionários.
Esse movimento elevou o preço internacional do açúcar, e as usinas brasileiras aproveitaram para garantir margens expressivas. Resultado: compradores da Ásia, do Oriente Médio e da África recorreram ao Brasil como fornecedor de confiança.
O impacto da China e dos países árabes
Embora a Índia seja competidora direta, a China aparece como consumidora crescente de açúcar brasileiro, sobretudo refinado para atender sua demanda industrial e alimentar. Países árabes também ampliaram compras, impulsionados pela necessidade de garantir estoques em meio a um cenário de instabilidade internacional.
Essa diversificação de clientes dá ao Brasil uma posição ainda mais sólida: o país não depende de um único comprador, mas consegue atender simultaneamente a múltiplos mercados estratégicos.
Pressão da União Europeia e o fantasma da sustentabilidade
O sucesso, porém, vem acompanhado de críticas. A União Europeia pressiona o Brasil a adotar certificações mais rígidas de sustentabilidade.
O regulamento europeu contra o desmatamento (EUDR), que entra em vigor até 2026, exigirá comprovação de que produtos agrícolas — incluindo a cana — não estejam associados a desmatamento ou degradação ambiental.
Embora o setor sucroenergético brasileiro defenda que a cana é majoritariamente cultivada em áreas longe da Amazônia, ambientalistas alertam para riscos em áreas de Cerrado e para os impactos indiretos da expansão da cultura.
Esse embate adiciona uma camada geopolítica: enquanto Europa endurece exigências, países emergentes priorizam preço e confiabilidade, ampliando a dependência do açúcar brasileiro.
Açúcar, etanol e a transição energética
Outro trunfo do Brasil é a integração entre açúcar e etanol. Em anos de preços internacionais altos, as usinas direcionam mais cana para o açúcar. Quando a demanda por energia cresce, reforçam a produção de etanol. Essa flexibilidade garante competitividade e posiciona o país como referência mundial.
Em 2025, parte do boom das exportações de açúcar está ligada a esse ajuste fino: a disparada nos preços internacionais levou muitas usinas a priorizar contratos externos, sem deixar de atender ao mercado doméstico de etanol.
O peso do setor na economia
O setor sucroenergético brasileiro movimenta centenas de milhares de empregos diretos e é um dos principais responsáveis pelo superávit da balança comercial.
Em 2024, gerou mais de US$ 17 bilhões em exportações. Em 2025, os números devem ser ainda maiores, com destaque para o patamar de US$ 1 bilhão já superado apenas nos primeiros meses do ano.
Esse desempenho reforça a importância da cana não apenas como cultura agrícola, mas como base de uma indústria complexa, diversificada e integrada ao mercado global.
Apesar do recorde, especialistas alertam: é preciso transformar o açúcar brasileiro em produto de maior valor agregado.
Potência indiscutível no mercado global de açúcar
A dependência do volume exportado deixa o país vulnerável a flutuações de preço internacional. Apostar em derivados, bioplásticos e produtos de base sucroquímica pode ser o próximo passo para consolidar a liderança.
Ao mesmo tempo, gargalos logísticos permanecem. Portos sobrecarregados, custos de transporte interno e a necessidade de infraestrutura mais moderna continuam a ser entraves para o crescimento sustentável.
O Brasil inicia 2025 como potência indiscutível no mercado global de açúcar, com exportações acima de US$ 1 bilhão já registradas. Mas a vitória tem um lado sombrio: críticas ambientais, risco de retaliações comerciais e vulnerabilidade a mudanças de preço.
O futuro do açúcar brasileiro pode ser doce e promissor — se o país souber transformar seu domínio em estratégia de longo prazo. Caso contrário, corre o risco de ficar refém de um mercado cada vez mais competitivo e exigente.