Pequim abriu duas frentes de investigação sobre semicondutores dos EUA e o mercado reagiu na segunda, 15 de setembro, com forte rali de fabricantes chinesas de chips analógicos.
A China anunciou no sábado, 13 de setembro, duas investigações voltadas ao setor norte-americano de chips. A primeira apura discriminação contra empresas chinesas nas regras de comércio de semicondutores. A segunda foca dumping de chips analógicos fabricados nos EUA e vendidos na China por preços supostamente abaixo do valor justo. O anúncio ocorreu na véspera de uma rodada de conversas econômicas entre os dois países em Madri.
Segundo o Ministério do Comércio chinês, o alvo técnico do processo de antidumping são interface IC e gate driver IC produzidos em nós de 40 nm ou mais. Trata-se de componentes “legado”, usados amplamente em eletroeletrônicos, carros, equipamentos industriais e dispositivos médicos.
O cronograma é de um ano, com conclusão estimada até 13 de setembro de 2026, sujeita a extensão de seis meses em circunstâncias especiais. Isso significa que medidas provisórias ou definitivas, como tarifas, podem surgir ao longo da apuração caso a autoridade identifique indícios robustos de dumping.
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Para analistas ouvidos pela imprensa asiática, a iniciativa pode forçar fornecedores estrangeiros a ceder espaço em contratos e cadeias locais, impulsionando substituição por componentes produzidos na China. Em paralelo, o contexto de restrições e controles de exportação dos EUA eleva o incentivo de localização.
Quem mais subiu na bolsa chinesa com a notícia
Na abertura da semana, SG Micro chegou ao limite diário de alta de 20% em Shenzhen, enquanto 3Peak e Suzhou Novosense Microelectronics também avançaram com força ao longo do pregão. O movimento refletiu a leitura de que chips analógicos de origem americana podem enfrentar custos adicionais ou restrições no mercado chinês.
Relatos de mercado também apontaram ganhos em OmniVision Integrated Circuits Group, embora em magnitude menor, e fechamento positivo de 3Peak em Xangai. O desempenho do setor mais amplo de semicondutores, porém, ficou misto, com alguns nomes recuando após semanas de volatilidade.
Entre as blue chips do ecossistema, SMIC oscilou perto da estabilidade, enquanto a projetista de chips de IA Cambricon terminou em queda, refletindo realização após forte rali recente e rebalanços de índices locais. Esse quadro reforça que o efeito-anúncio foi mais evidente nas fabricantes de chips analógicos, núcleo da investigação.
Efeito cruzado: pressão em ações dos EUA e novas frentes regulatórias
Nos EUA, ações de Texas Instruments e Analog Devices recuaram após as investigações chinesas virem à tona, com o mercado precificando riscos de tarifas ou barreiras a produtos analógicos no principal destino alternativo de produção global. O movimento atingiu também pares como ON Semiconductor e NXP.
Em paralelo, veículos de imprensa reportaram que reguladores chineses apontaram possíveis violações à lei antimonopólio por parte da Nvidia, adicionando incerteza a um ambiente já sensível. Embora essa frente não esteja diretamente ligada ao caso de chips analógicos, ela sinaliza um endurecimento regulatório mais amplo no setor de tecnologia.
Por que “chips analógicos” importam e o que muda para a participação de mercado
Diferentemente dos processadores avançados usados em IA, chips analógicos traduzem sinais do mundo real, fazem gerenciamento de energia e interface entre sensores e sistemas digitais. Estão em tudo, de eletrodomésticos e carros a redes industriais. Por serem insumos horizontais, medidas que alterem seu preço ou disponibilidade reverberam em diversas cadeias produtivas.
Com a investigação, compradores locais podem antecipar decisões de substituição e ampliar testes com fornecedores domésticos, o que tende a encurtar ciclos de qualificação. Analistas avaliam que a janela de 12 meses do processo cria um catalisador de médio prazo para fabricantes chinesas reforçarem contratos e ganharem market share em segmentos maduros.
Relatórios de corretoras já especulam sobre tarifas para determinados circuitos integrados analógicos e, em um cenário mais duro, restrições a uso de chips americanos em compras públicas e projetos sensíveis. Esse tipo de medida, se confirmada, sustentaria uma realocação estrutural da demanda a favor dos players locais.
E você, o que acha? A China deve impor tarifas sobre chips analógicos dos EUA ou isso pode encarecer produtos e prejudicar consumidores no curto prazo? A disputa ajuda a acelerar a indústria local ou cria novos riscos de desabastecimento? Deixe seu comentário.