Conheça a saga da família Maggi, cujo poder no agronegócio brasileiro se estende do campo ao Congresso, entre recordes de produção de soja e um rastro de controvérsias socioambientais.
No centro do agronegócio brasileiro, o nome Blairo Maggi se destaca. Conhecido como o “Rei da Soja”, ele personifica um paradoxo: o do sucesso econômico que transformou o Brasil em uma potência agrícola e, ao mesmo tempo, o do avanço sobre a Amazônia que lhe rendeu o prêmio “Motosserra de Ouro”. O império de sua família, o Grupo Amaggi, domina uma área de plantio gigantesca, mas sua história de lucro se mistura a um legado de poder político, degradação ambiental e custos sociais profundos.
De pioneiro desbravador a “rei da soja”
A história do Grupo Amaggi começa com André Antônio Maggi (1927-2001). Nascido no Rio Grande do Sul, este patriarca desbravador migrou para o Paraná em 1955, onde iniciou seus negócios na agricultura, incluindo o cultivo de soja. A grande virada ocorreu no final da década de 1970, quando André apostou no potencial do Mato Grosso, adquirindo sua primeira fazenda no estado em 1979. Ele fundou municípios, construiu hidrelétricas e abriu hidrovias, deixando as bases para um império.
Seu filho, Blairo Maggi, foi o herdeiro que transformou a visão do pai em poder institucional. Formado em Agronomia, Blairo catapultou o Grupo Amaggi para o cenário global. Sua ambição, contudo, foi além das fazendas. Ele usou o poder econômico da soja para financiar uma carreira política de sucesso, sendo eleito governador de Mato Grosso duas vezes (2003-2010), senador (2011-2019) e Ministro da Agricultura (2016-2019). Foi nesse período que o título “Rei da Soja” se consolidou, refletindo sua imensa influência no agronegócio e na política nacional.
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Mapeando a fortuna e a terra
O Grupo Amaggi é uma multinacional de capital fechado com quatro áreas de negócio principais: Agro (produção de soja, milho e algodão), Commodities (comércio global), Logística e Operações (transporte) e Energia (geração em PCHs). Esse conglomerado registrou uma receita de US$ 8,9 bilhões em 2023, sendo uma das maiores companhias do Brasil.
Mas a família Maggi planta realmente o equivalente a duas vezes a área de São Paulo? A resposta é sim, e a escala é ainda maior. O município de São Paulo possui 152.120 hectares. O dobro disso seria aproximadamente 304.240 hectares. Na safra 2020/2021, apenas a Amaggi Agro, braço de produção do grupo, plantou 468.200 hectares.
A análise é inequívoca: a área de plantio direto da Amaggi é 3,08 vezes maior que a área total da cidade de São Paulo. A alegação, portanto, é um retrato conservador da imensa extensão de terra controlada pelo império da soja.
Desmatamento, conflitos e o “veneno da soja”
O sucesso do Grupo Amaggi é ofuscado por um grave custo socioambiental. Durante o primeiro mandato de Blairo Maggi como governador, Mato Grosso liderou o desmatamento na Amazônia, o que lhe rendeu o prêmio “Motosserra de Ouro” do Greenpeace em 2005. Embora a empresa tenha aderido à Moratória da Soja em 2006, estudos apontam um efeito de “vazamento”: a proteção da Amazônia empurrou a expansão da soja e da pecuária para o Cerrado, acelerando a destruição deste outro bioma.
Os conflitos também marcam essa trajetória. Na bacia do rio Juruena, a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) pela Amaggi ameaça a existência do povo indígena Enawenê-Nawé. As barragens afetam a migração dos peixes, base de sua alimentação e de seus rituais sagrados. Em 2023, um protesto pacífico dos indígenas foi reprimido com violência por seguranças ligados às empresas.
Além disso, o modelo de produção da soja gera uma crise de saúde pública. Mato Grosso é o maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. Estudos científicos apontam uma correlação alarmante entre a exposição a esses venenos e o aumento de casos de câncer, malformações congênitas e abortos em cidades cercadas por lavouras.
Como agricultura molda as leis do Brasil
O império Maggi se sustenta por uma poderosa máquina de influência em Brasília, centrada na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a bancada ruralista. Gigantes como a Amaggi financiam associações que, por sua vez, sustentam o Instituto Pensar Agro (IPA), o “think tank” que elabora os projetos de lei defendidos pelos ruralistas no Congresso.
Blairo Maggi foi uma figura central nesta estrutura. Um exemplo claro de seu lobby é a pressão pela construção da Ferrogrão, uma ferrovia que ligaria Mato Grosso a portos no Pará, reduzindo drasticamente os custos de logística para o grupo. Além disso, a bancada trabalha para flexibilizar a legislação ambiental e paralisar a demarcação de terras indígenas, removendo barreiras para a expansão contínua da fronteira agrícola.
O PT ajudou ele e seus primos a serem os Reis da soja no Brasil.
O rei da soja era o Sr. Olacir de Morais com as fazendas Itamaraty 1 e 2. Também tem muita história no MT e no MS.
Equivocada e mal embasada sua visão sobre a agricultura brasileira, sobre a frente parlamentar da agricultura, sobre os Maggi não sei e não posso argumentar.