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A nova fronteira da mineração brasileira está a 3 mil metros de profundidade no Atlântico Sul — e pode esconder bilhões em níquel, cobre e cobalto

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 02/07/2025 às 06:42
A nova fronteira da mineração brasileira está a 3 mil metros de profundidade no Atlântico Sul — e pode esconder bilhões em níquel, cobre e cobalto
Foto: IA
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Brasil estuda explorar metais valiosos como níquel e cobalto a 3.000 m de profundidade na Elevação do Rio Grande, no Atlântico Sul.

Imagine uma cordilheira submersa maior que muitos estados brasileiros, escondida sob as águas profundas do Atlântico Sul e rica em metais que movem carros elétricos, satélites, turbinas e até sistemas de defesa. Essa é a Elevação do Rio Grande, um platô oceânico que pode transformar o Brasil em potência global da mineração de alto-mar — e está sendo estudado em silêncio há mais de uma década.

Enquanto a corrida mundial por lítio, nióbio e terras raras avança em solo firme, o Brasil guarda sob suas águas uma riqueza bilionária: crostas e nódulos polimetálicos repletos de níquel, cobalto, cobre e elementos críticos para a transição energética. E é a 3 mil metros de profundidade que essa nova fronteira está começando a ser desbravada.

Uma montanha submarina com história geológica — e potencial econômico imenso

A Elevação do Rio Grande (ERG) é uma formação geológica submersa que se estende por cerca de 150 mil km², a até 1.500 km da costa do Brasil, em frente ao estado do Rio Grande do Sul. Em termos comparativos, trata-se de uma área maior do que todo o estado do Ceará.

Essa estrutura já foi uma ilha vulcânica há milhões de anos, mas hoje repousa a até 4 mil metros abaixo da superfície do mar. E no seu fundo, repousam crostas metálicas que podem conter:

  • Cobalto
  • Níquel
  • Cobre
  • Manganês
  • Terras raras leves e pesadas
  • Platina, tório e até ouro (em traços)

Esses materiais estão em formato de crostas aderidas às rochas basálticas ou como nódulos polimetálicos, pequenas “bolas” ricas em metais críticos. Ambos os tipos de depósitos são considerados essenciais para indústrias limpas, incluindo baterias de longa duração, turbinas eólicas e painéis solares.

CPRM e Marinha: os brasileiros que já estudam a mineração profunda

Desde 2009, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em parceria com a Marinha do Brasil e o CIRM (Comitê Interministerial para os Recursos do Mar), realiza expedições científicas à região. Foram dezenas de missões com navios equipados com sonar, dragas de fundo e robôs submersíveis, mapeando o fundo marinho com altíssima resolução.

O objetivo: identificar, mapear e quantificar as reservas de interesse mineral para futuros pedidos de exploração junto à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), órgão ligado à ONU.

Em 2013, o Brasil formalizou um pedido à ONU para estender sua plataforma continental e garantir soberania sobre parte da Elevação do Rio Grande. A expectativa era incluir a ERG dentro da chamada “Amazônia Azul” — a área marítima estratégica do país.

Metais do fundo do mar: a nova corrida global já começou

A extração de metais críticos em alto-mar já não é ficção científica. Países como Japão, China, França e Canadá já estão testando tecnologias para coletar crostas e nódulos em profundidades superiores a 3.000 metros.

Empresas privadas como The Metals Company e GSR (Global Sea Mineral Resources) já operam protótipos de colheitadeiras submarinas que raspam os nódulos do solo marinho, enviando-os por tubos a navios-plataforma. O Japão já conseguiu extrair com sucesso zinco, ouro e prata de fontes hidrotermais a 1.600 metros.

E por que isso importa?

Porque os metais contidos nesses depósitos submarinos são considerados insubstituíveis na cadeia global de energia limpa. Cobalto e níquel, por exemplo, são fundamentais para baterias de carros elétricos. Já o cobre é essencial em qualquer sistema elétrico — e a demanda deve explodir até 2040, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

Quanto pode valer a Elevação do Rio Grande?

Embora não exista uma estimativa oficial, estudos da CPRM indicam que a área pode conter milhões de toneladas de metais, incluindo níquel e cobalto com grau de pureza superior ao de jazidas continentais.

Apenas em crostas de cobalto, os estudos apontam mais de 10 kg/m² em algumas regiões. Considerando a alta cotação dos metais (cobalto: cerca de US$ 60.000/ton), o valor potencial da ERG pode ultrapassar dezenas de bilhões de dólares.

O Brasil, portanto, tem em suas mãos não apenas uma reserva econômica valiosa, mas um ativo estratégico diante da crise global de suprimentos minerais.

Mineração submarina: oportunidade ou bomba ambiental?

Se por um lado os metais críticos são essenciais à economia verde, por outro a mineração oceânica ainda enfrenta uma forte resistência ambiental. Ecossistemas marinhos profundos são frágeis, muitas vezes milenares, e a raspagem de nódulos ou crostas pode causar impactos irreversíveis.

Organizações como Greenpeace, Deep Sea Conservation Coalition e até a ONU alertam que a mineração oceânica sem regras claras pode causar uma nova forma de devastação global — silenciosa, invisível e difícil de reparar.

Por isso, até hoje nenhum país iniciou exploração comercial em águas internacionais. A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos ainda discute um marco regulatório para o setor, e muitos pedem uma moratória global.

O Brasil vai explorar ou preservar?

O Brasil ainda está na fase de pesquisa científica. A CPRM já elaborou mapas, colheu amostras e apresentou relatórios à ONU. Mas a extração ainda depende de:

  • Reconhecimento da extensão da plataforma continental pela ONU;
  • Criação de um marco regulatório nacional para mineração marinha;
  • Desenvolvimento de tecnologias próprias ou em parceria com consórcios globais;
  • Avaliação detalhada dos impactos ambientais.

Na prática, isso significa que a mineração na Elevação do Rio Grande não deve começar antes de 2030, no mínimo. Mas os estudos já posicionam o Brasil entre os países com maior potencial na corrida por recursos do fundo do mar.

Por que isso importa: um novo ciclo para a mineração nacional

Se confirmada sua viabilidade, a Elevação do Rio Grande pode ser o ponto de partida de um novo ciclo de desenvolvimento para o Brasil. Assim como o pré-sal revolucionou o setor de energia, a mineração profunda pode transformar o país em fornecedor global de metais estratégicos — com protagonismo na transição energética e na geopolítica mineral.

Mas o desafio não é só tecnológico. É também político, ambiental e estratégico.

O Brasil precisará equilibrar soberania com responsabilidade, ambição com prudência — e, acima de tudo, não repetir os erros históricos de exportar riqueza bruta e importar tecnologia refinada.

A nova corrida do ouro não será nas montanhas: será no fundo do mar.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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