A 4 km de profundidade na África do Sul, a Mponeng é a mina mais profunda da terra. Conheça a engenharia, os perigos e as descobertas incríveis deste gigante da mineração de ouro
Na província de Gauteng, África do Sul, a mina de ouro Mponeng representa um dos maiores feitos e desafios da engenharia humana. Com uma profundidade que ultrapassa os 4 quilômetros abaixo da superfície, ela detém o título de mina mais profunda da terra. Neste ambiente extremo, a temperatura da rocha atinge 66°C, e a busca por ouro exige uma batalha constante contra as forças da natureza.
Analisamos a engenharia necessária para operar em tais profundezas, os perigos enfrentados pelos mineiros e as surpreendentes formas de vida descobertas neste ambiente hostil.
O que é a Mponeng e por que ela é a mina mais profunda da terra?
A mina de ouro Mponeng está situada na Bacia de Witwatersrand, que abriga o maior depósito de ouro do planeta. Comissionada em 1987, suas operações se estendem a mais de 4 quilômetros (2,5 milhas) abaixo do nível do solo, uma profundidade que a consagra como a mina mais profunda do mundo.
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Originalmente operada pela AngloGold Ashanti, a Mponeng foi adquirida pela Harmony Gold em 2020. A mina extrai ouro de recifes geológicos com 2,7 bilhões de anos, como o Ventersdorp Contact Reef (VCR), onde o teor do minério precisa ser alto para justificar os custos de uma operação tão complexa.
A descida de 4 km, como é a jornada ao coração ardente do planeta
A jornada da superfície até a frente de trabalho da mina mais profunda da terra leva mais de uma hora. Os cerca de 4.000 mineiros descem em elevadores de múltiplos estágios, conhecidos como “gaiolas”, que podem acomodar até 120 pessoas por vez.
Após a descida vertical, os trabalhadores ainda percorrem uma vasta rede de túneis, com aproximadamente 380 km de extensão, para chegar às áreas de escavação. O ambiente é de escuridão total, rompida apenas pelas luzes dos capacetes, e de ruído constante dos sistemas de ventilação e maquinário pesado.
Lutando contra o calor de 66°C e os tremores de terra
Operar a 4 km de profundidade exige soluções de engenharia extraordinárias para combater um ambiente naturalmente hostil.
O desafio do calor: a temperatura da rocha virgem atinge 66°C. Para tornar o trabalho possível, a mina utiliza um sistema de resfriamento massivo, bombeando lama de gelo para o subsolo. Diariamente, cerca de 6.000 toneladas de gelo são produzidas para resfriar o ar dos túneis para abaixo de 30°C.
A terra treme: a remoção de rocha em grandes profundidades induz atividade sísmica. Mponeng pode registrar mais de 1.000 eventos sísmicos de qualquer magnitude diariamente. Para garantir a segurança, as paredes dos túneis são reforçadas com concreto projetado e malhas de contenção, e uma rede de sensores monitora a atividade sísmica em tempo real.
Os mineiros e as surpreendentes descobertas científicas
Para os mineiros de Mponeng, o trabalho é realizado em condições de calor intenso, umidade e perigo constante de colapso de rochas. Além dos desafios operacionais, a mina enfrenta a presença de “garimpeiros fantasmas” – mineiros ilegais que se infiltram no subsolo, roubam ouro e representam um risco de segurança.
Mas em meio a essa busca industrial, Mponeng revelou-se um laboratório natural. Cientistas descobriram a 2,8 km de profundidade a bactéria Desulforudis audaxviator, um organismo que vive em isolamento total, sem luz ou oxigênio, e obtém sua energia da decomposição radioativa de urânio nas rochas. Mais surpreendente ainda foi a descoberta de um “zoológico veritável” de vida multicelular, incluindo vermes, em fissuras a 1,6 km de profundidade, oferecendo novos insights para a busca de vida em outros planetas.
O legado e a contínua busca por ouro na mina mais profunda da terra
Apesar dos desafios, a Mponeng continua a ser um ativo econômico vital. A Harmony Gold aprovou um investimento de R$ 7,9 bilhões (cerca de US$ 409 milhões) para estender a vida útil da mina por mais 20 anos, garantindo sua operação pelo menos até 2044. Este projeto visa extrair mais de 3 milhões de onças de ouro.
A mina mais profunda da terra é, portanto, um testemunho da ambição humana e da proeza da engenharia. No entanto, seu legado também inclui a responsabilidade de gerenciar os impactos ambientais de uma operação tão massiva. Mponeng encapsula a complexa relação da humanidade com as profundezas do planeta, uma saga de busca por riqueza, superação de limites e descobertas inesperadas.