Fundada em 1989, Palmas (TO) é a última grande cidade brasileira planejada do século XX. Conheça sua história, os desafios de sua construção e como ela se tornou um polo de desenvolvimento e um estudo de caso no urbanismo nacional.
No coração do Brasil, em pleno bioma Cerrado, nasceu Palmas, a capital do Tocantins. Como a mais jovem cidade brasileira planejada, sua fundação em 1989 marcou não apenas a criação de um novo centro administrativo, mas também a continuidade de uma tradição urbanística nacional, inspirada em exemplos como Brasília e Goiânia, buscando um novo modelo de desenvolvimento para a região Norte.
Erguida do zero, Palmas simbolizou um novo começo para o recém-criado estado do Tocantins. Este artigo explora a gênese, o planejamento audacioso e as transformações desta singular cidade brasileira planejada ao longo de sua jovem, mas intensa, história.
Palmas: a concretização de um sonho e a criação de uma nova capital no coração do Brasil
A criação do estado do Tocantins, oficializada pela Constituição Federal de 1988, concretizou um antigo anseio por autonomia da região norte de Goiás. Com o novo estado, surgiu a necessidade de uma capital que simbolizasse um novo tempo. A decisão foi por erguer uma cidade brasileira planejada do zero. A área escolhida foi a Fazenda Triângulo, na margem direita do Rio Tocantins, próxima à Serra do Lajeado, uma localização considerada estratégica por razões geopolíticas.
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Enquanto Palmas era projetada, Miracema do Tocantins serviu como capital provisória. O marco da fundação de Palmas ocorreu em 20 de maio de 1989, com o lançamento da pedra fundamental na futura Praça dos Girassóis. A transferência oficial da capital aconteceu em 1º de janeiro de 1990.
Urbanismo moderno em uma nova e ambiciosa cidade brasileira planejada
O projeto urbanístico de Palmas foi concebido pelos arquitetos goianos Luiz Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, com forte influência de Brasília e Goiânia. A estrutura urbana é hierarquizada, com um sistema viário ortogonal e largas avenidas, como a Teotônio Segurado e a Juscelino Kubitscheck, que se cruzam na Praça dos Girassóis, o coração cívico da cidade.
Palmas foi organizada em grandes superquadras, planejadas com setorização funcional para atividades administrativas, residenciais e comerciais. Buscava-se integrar a cidade ao bioma Cerrado, valorizando elementos paisagísticos e prevendo áreas verdes. As primeiras dez quadras do plano tiveram a assinatura do renomado arquiteto Ruy Ohtake.
A construção de Palmas
A notícia da nova capital atraiu trabalhadores de todo o Brasil, movidos pela esperança de oportunidades. Os pioneiros enfrentaram condições adversas, com pouca infraestrutura, moradias improvisadas em barracas de lona, muita poeira na seca e lama nas chuvas. O transporte e a comunicação eram precários.
Apesar dos obstáculos logísticos e climáticos, a implantação das primeiras estruturas administrativas ocorreu com notável rapidez, impulsionada pela urgência política. O “Palacinho”, primeira sede provisória do governo, por exemplo, foi construído em apenas 45 dias. Esse ritmo acelerado foi crucial para consolidar Palmas como capital.
O desenvolvimento de Palmas entre o plano diretor e a realidade construída
Desde sua fundação, Palmas experimentou um crescimento populacional acelerado, atingindo 302.692 habitantes no Censo de 2022. Seu PIB ultrapassou R$ 10 bilhões em 2021. Contudo, a expansão urbana desviou-se consideravelmente do plano diretor original, que previa um adensamento progressivo. Observou-se um crescimento espraiado, com o surgimento de loteamentos distantes antes da consolidação das áreas centrais.
Este fenômeno, impulsionado pela valorização imobiliária no centro e por políticas de direcionamento populacional para a periferia, resultou em extensos vazios urbanos e segregação socioespacial. A infraestrutura de saneamento, embora com boa cobertura de água, ainda apresenta desafios na coleta e tratamento de esgoto, especialmente nas áreas mais afastadas desta cidade brasileira planejada.
Qualidade de vida, desafios contemporâneos e o legado de uma cidade brasileira planejada para o século XXI
Palmas frequentemente recebe avaliações positivas sobre sua qualidade de vida e tem buscado se posicionar como uma “cidade inteligente”, com iniciativas em conectividade e empreendedorismo. No entanto, a cidade brasileira planejada enfrenta desafios como a necessidade de melhorar a mobilidade urbana sustentável, gerenciar inundações e promover a regularização fundiária.
O Plano Municipal de Mobilidade Urbana de 2024 e parcerias para projetos estratégicos visam um desenvolvimento mais equilibrado. Palmas, como a última grande cidade brasileira planejada do século XX, oferece lições valiosas sobre os limites do planejamento em larga escala e a importância de estratégias adaptativas e inclusivas para o futuro das cidades.