Com 2 toneladas diárias, a fazenda vertical da Bowery Farming nos EUA é a maior plantação de morangos sem solo do mundo — usando 95% menos água e IA para produzir com eficiência inédita.
Em um galpão sem janelas nos arredores de Nova York, onde o concreto e os cabos elétricos substituem o campo aberto e os tratores, milhares de morangos crescem em silêncio, empilhados em fileiras verticais que se estendem até o teto. Eles não tocam o solo. Não recebem chuva, sol ou vento. São alimentados por uma combinação de água reciclada, luz LED calibrada ao espectro ideal de fotossíntese e monitoramento contínuo por sensores inteligentes. Este é o futuro da agricultura — e ele já é realidade.
A responsável por esse feito é a empresa Bowery Farming, uma das maiores referências em fazendas verticais dos Estados Unidos, que opera o que pode ser chamada, com justiça, de a maior plantação vertical de morangos do mundo. Com capacidade para produzir até 2 toneladas por dia, essa instalação impressiona não só pelo volume, mas pelos índices de eficiência hídrica, controle ambiental e sustentabilidade que está alcançando — utilizando 95% menos água que cultivos tradicionais e absolutamente nenhum pesticida.
Como funciona uma fazenda vertical de morangos?
A ideia central da agricultura vertical é simples: substituir os quilômetros horizontais de plantações por uma estrutura compacta e empilhada, em camadas verticais. No caso da Bowery Farming, os morangos são cultivados em sistemas hidropônicos de múltiplos andares, alimentados por soluções nutritivas controladas digitalmente e sem uso de terra.
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As condições ideais de luz, temperatura, umidade, CO₂ e nutrientes são reguladas automaticamente por inteligência artificial, que aprende com os ciclos anteriores e faz ajustes em tempo real. Isso significa que cada planta é acompanhada desde a germinação até a colheita por algoritmos que maximizam a produtividade com o mínimo de recursos.
As raízes ficam suspensas em bandejas ou substratos inertes, onde soluções líquidas ricas em minerais circulam de forma contínua. Como não há evaporação direta e a água é reaproveitada no sistema, o consumo hídrico é drasticamente reduzido — até 95% menos que uma plantação tradicional de campo aberto.
De onde vem tanta produtividade?
Produzir 2 toneladas de morangos por dia dentro de um galpão fechado parece impossível à primeira vista. Mas o segredo está na combinação entre:
- Crescimento contínuo: as plantas não dependem de estações. As condições ideais são reproduzidas o ano todo.
- Cultivo em camadas verticais: o espaço é multiplicado por dezenas de vezes em altura.
- Ciclos acelerados: a luz LED especializada permite até 22 horas de fotossíntese por dia, encurtando o tempo de colheita.
- Ausência de pragas: sem o risco de insetos ou fungos, as plantas crescem mais rápido e com menor perda.
A produtividade por metro quadrado ultrapassa em muito qualquer cultivo rural tradicional. Em termos práticos, um único galpão da Bowery Farming equivale à produção de dezenas de hectares de morangos a céu aberto — sem depender de clima, solo fértil ou defensivos agrícolas.
Tecnologia, IA e agricultura de precisão
Um dos diferenciais mais ousados da Bowery é o uso intensivo de machine learning e sensores interconectados. Cada planta, desde a semente até o fruto, é monitorada por câmeras, sensores térmicos, espectrais e de umidade. O sistema coleta milhões de dados por segundo e os utiliza para:
- Ajustar automaticamente a intensidade e o espectro da iluminação LED
- Dosar com precisão os nutrientes para cada estágio de crescimento
- Identificar microvariações na saúde da planta, antecipando possíveis falhas
- Otimizar o momento exato da colheita
Esses dados são processados por uma plataforma própria da empresa, chamada BoweryOS, que atua como o “cérebro” da fazenda. Com ele, é possível padronizar a produção em diversas unidades, prever safras com precisão quase cirúrgica e aumentar a produtividade com o tempo — algo que a agricultura tradicional raramente consegue controlar.
Morangos sustentáveis, locais e frescos
Além de inovar em tecnologia, a Bowery também reformula a logística de distribuição. As fazendas verticais da empresa são instaladas próximas de grandes centros urbanos, como Nova York, Baltimore e Filadélfia. Isso significa que os morangos produzidos ali chegam aos consumidores em menos de 24 horas, com frescor superior e sem necessidade de longos trajetos refrigerados.
Esse modelo reduz drasticamente a pegada de carbono associada ao transporte de alimentos. E como não há uso de agrotóxicos, os produtos chegam limpos, seguros e prontos para consumo, algo cada vez mais valorizado por mercados premium, redes de supermercado gourmet e restaurantes de alto padrão.
E o sabor? Isso também foi pensado
Um dos mitos mais comuns sobre a agricultura em ambientes controlados é que ela produz vegetais e frutas sem gosto. Mas os morangos da Bowery Farming surpreendem. Como as variáveis de cultivo podem ser ajustadas com exatidão, o teor de açúcares, a acidez e a textura são calibrados geneticamente e cultivados para atingir o ponto ideal.
A empresa trabalha com variedades selecionadas não pela resistência ao transporte, como na agricultura convencional, mas pelo sabor, aroma e perfil nutricional, já que não há necessidade de viagens longas ou prateleiras demoradas.
O resultado é um morango mais doce, com textura firme, coloração intensa e frescor que se mantém por mais tempo — ideal para mercados que exigem qualidade sensorial premium.
Um modelo replicável para o mundo
A fazenda de morangos da Bowery Farming é só a ponta de lança de um movimento global de agricultura vertical, que visa atender a demanda crescente por alimentos em um planeta com menos terras cultiváveis e mais escassez de água.
Com mudanças climáticas afetando as safras e o aumento da urbanização global, o cultivo sem solo em estruturas verticais aparece como alternativa escalável, sustentável e resiliente. Grandes centros urbanos do mundo — como Tóquio, Dubai, Londres e Xangai — já analisam projetos semelhantes para integrar produção local de alimentos frescos com logística urbana inteligente.
Mesmo no Brasil, iniciativas em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba já começam a testar modelos hidropônicos verticais adaptados ao clima tropical.
A maior plantação vertical de morangos do mundo é, portanto, mais do que uma curiosidade tecnológica. Ela é um laboratório vivo do que pode ser a nova revolução agrícola — uma revolução que acontece em galpões, com inteligência artificial, LED, algoritmos e água reciclada, produzindo alimentos limpos, saborosos e em escala.
Inacreditável publicarem algo sem a verificação da atividade que já deixou de existir.
Como pode ter validade uma publicação onde pode ter SIDO e não que SEJA mais. Esta empresa encerrou suas atividades em novembro de 2024. A publicação é de 28/06/2025. O modelo de negócio é inovador e com menor escalabilidade está dando certo, como exemplo a brasileira Pink Farm. Mas o alto consumo de energia e alta tecnologia supera, e muito, os menores gastos com pesticidas, adubos e água. Além disso a pegada produto “mais limpo e fresco” ainda não tem um mercado maduro a altura do valor agregado imposto aos produtos.
A Bowery Farming decidiu encerrar suas operações em novembro de 2024, conforme relatado pelo Pitchbook , após não conseguir obter financiamento adicional ou um comprador.