Fundada em 1942, a maior mineradora do Brasil lidera a produção global de minério de ferro, mas enfrenta o legado bilionário dos desastres de Mariana e Brumadinho enquanto investe em seu futuro.
A Vale S.A. é uma empresa de dualidades. Por um lado, é a maior mineradora do Brasil e uma potência global, essencial para a economia do país e para a cadeia de suprimentos mundial. Por outro, sua história é marcada por duas das maiores tragédias socioambientais do país, cujos passivos financeiros e de reputação moldam seu presente e futuro. Com sede no Rio de Janeiro, a companhia é líder na produção de minério de ferro e níquel, mas sua trajetória é um reflexo dos complexos dilemas da mineração moderna.
Analisar a Vale é entender uma corporação que opera com excelência em seus ativos de classe mundial, como o Complexo de Carajás, ao mesmo tempo em que lida com os custos contínuos e multibilionários para reparar os danos causados pelos rompimentos das barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).
A história da Vale
A história da empresa começou em 1º de junho de 1942, quando foi fundada como a estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) durante o governo de Getúlio Vargas. Sua criação foi uma peça estratégica nos Acordos de Washington, garantindo o fornecimento de minério de ferro para os Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
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Por mais de cinco décadas, a empresa cresceu sob o controle do Estado. O ponto de virada ocorreu em 6 de maio de 1997, quando a companhia foi privatizada em um leilão controverso, com o governo vendendo sua participação por cerca de R$ 3,3 bilhões. Após a privatização, a Vale iniciou uma forte expansão internacional, com destaque para a aquisição da mineradora canadense Inco em 2006, que a transformou na maior produtora de níquel do mundo.
A força de Carajás e o pivô para a transição energética
O coração operacional da maior mineradora do Brasil é o Complexo de Carajás, no Pará. Descoberta em 1967, a província mineral abriga a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo e é conhecida pela altíssima qualidade de seu produto. O destaque do complexo é o Projeto S11D, um investimento de US$ 14,3 bilhões que utiliza um inovador sistema de correias transportadoras em vez de caminhões, reduzindo custos e o consumo de diesel em mais de 70%.
Reconhecendo as mudanças na economia global, a Vale também está fazendo um pivô estratégico para se tornar líder no fornecimento de “Metais para Transição Energética”. A empresa tem investido pesado para expandir sua produção de cobre e níquel, minerais essenciais para a fabricação de baterias de veículos elétricos e tecnologias de energia renovável.
O paradoxo da Vale: os desastres de Mariana e Brumadinho
A imagem da Vale é indelevelmente marcada por duas catástrofes:
Desastre de Mariana (05 de novembro de 2015): o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco (uma joint venture entre Vale e BHP), matou 19 pessoas e liberou uma onda de rejeitos que contaminou toda a bacia do Rio Doce até o oceano.
Desastre de Brumadinho (25 de janeiro de 2019): o rompimento da Barragem I, de responsabilidade direta da Vale, causou a morte de 272 pessoas, a maioria funcionários da própria empresa.
Esses eventos, classificados por ONGs como a Earthworks e o Greenpeace como “crimes socioambientais”, geraram passivos bilionários. O acordo de reparação de Brumadinho foi fechado em R$ 37,7 bilhões em 2021. Já para Mariana, um novo acordo de repactuação foi proposto em 2024 no valor de R$ 170 bilhões, mostrando a dimensão do legado negativo que a empresa carrega.
O peso da maior mineradora do Brasil na economia brasileira
Apesar das controvérsias, a importância da Vale para a economia do Brasil é inegável. A empresa é uma das maiores contribuintes do país, tendo pago aproximadamente US$ 6,05 bilhões em tributos e royalties no Brasil em 2024.
Seu principal produto, o minério de ferro, representou 9% do valor total exportado pelo país em 2023, o que a torna uma peça-chave para a geração de superávits na balança comercial. Além disso, a companhia é uma grande geradora de empregos e atrai investimentos para o país.
O futuro de R$ 70 bilhões, o programa Novo Carajás
Olhando para frente, a Vale aposta em um novo ciclo de crescimento. Em fevereiro de 2025, a empresa anunciou o programa “Novo Carajás”, que prevê investimentos de R$ 70 bilhões até 2030. O objetivo é expandir a capacidade de produção de minério de ferro para 200 milhões de toneladas por ano e aumentar a produção de cobre em 32%.
Este programa reforça o foco da maior mineradora do Brasil em seus ativos de maior qualidade e, ao mesmo tempo, em sua estratégia de se consolidar como uma fornecedora líder dos minerais que serão essenciais para a economia de baixo carbono do futuro.