1. Início
  2. /
  3. / A indústria do petróleo na Bahia entra em colapso
Tempo de leitura 4 min de leitura

A indústria do petróleo na Bahia entra em colapso

Escrito por Paulo Nogueira
Publicado em 08/04/2019 às 01:00

Sem categoria

Produção de petróleo da Petrobrás nos campos de Candeias

Crise na Indústria Naval na Bahia e campos maduros com capacidade de produção em queda afetam empregos e economia do estado

O reservatório na antiga Fazenda Panelas já não produz como antes, em 2010 foi o último ano que teve uma média de produção superior aos 100 mil barris por dia na Bahia, somando-se a produção do petróleo e o gás natural, no que se chama de óleo equivalente. Foram 102,1 mil barris/dia, mais exatamente, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANP). Apenas 42% disso foi petróleo, o equivalente a 42,8 mil barris por dia. Em Panelas está um retrato da situação de grande parte dos campos maduros em operação no estado que estão com a sua capacidade de produção em declínio.

Declínio do Petróleo e suas Consequências

Radiovaldo Costa, diretor do setor privado no Sindicato dos Petroleiros na Bahia (Sidipetro-Ba), acredita que um importante termômetro para verificar o nível de atividade na exploração de petróleo terrestre é a quantidade de sondas em operação. Em 2005 existiam 45 equipamentos do tipo SPT em operação no estado. Hoje são 19, o que representa uma queda de 57%. No caso das sondas de perfuração, a redução foi ainda maior. Das 14 que estavam em operação restou apenas 1. Isso significa que a capacidade de perfuração de novos poços na Bahia foi reduzida em aproximadamente 93%.

Radiovaldo Costa explica que a consequência desta desaceleração no mercado de trabalho do setor é direto. Cada sonda de produção necessita de uma média de 35 trabalhadores para ser operada, enquanto a de perfuração dependeria de 80 pessoas. Com base nisso, ele estima a perda de 2 mil empregos diretos, sem contar o efeito em outras atividades envolvidas indiretamente, como transporte, alimentação, hospedagem, além da geração de tributos. Se levados em conta os indiretos, a estimativa é da perda de um total de 4 mil empregos. “O prejuízo para a economia local e para o estado foi violento”, acredita.

A diretora de desenvolvimento de negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Lais Maciel, explica que a quantidade de sondas em operação, além de um importante termômetro para a atividade, é indicador para o futuro e que o cenário atual decorre de uma mudança de posicionamento da Petrobras, no sentido de priorizar a exploração do pré-sal.

A Bahia viveu o seu auge nas décadas de 60 e 70, com médias de produção anual sempre acima dos 100 mil barris/dia, o estado atingiu 164 mil barris/dia em 1969, sendo 88% deste total de óleo e o restante de gás natural. Mas perdeu seu reinado quando houve a descoberta de óleo na Bacia de Campos, numa faixa de 100 mil quilômetros quadrados, que se estende entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.

Apesar de tudo, o volume de óleo e gás natural nos campos da Bahia ainda é maior do que a produção acumulada que foi retirada nos últimos 80 anos, segundo informações da própria Petrobras. Resta saber quem vai resgatar esse ‘tesouro negro’ no subsolo baiano.

O resumo do “tesouro negro” baiano

  • 1939 Descoberta do petróleo no país no bairro do Lobato, em Salvador. No mês seguinte, Getúlio Vargas nacionaliza a reserva e proíbe acesso ao subsolo no local e no raio de 60 km
  • 1941 Operação comercial do primeiro poço de petróleo do país em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador
  • 1950 Criação da primeira refinaria nacional de petróleo, em São Francisco do Conde. A então Refinaria Nacional do Petróleo é rebatizada em 1957 e se torna Refinaria Landulpho Alves (RLAM)
  • 1953 Petrobras é criada no governo de Getúlio Vargas
  • 1971 Em Camaçari, é instalada a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), produzindo fertilizantes nitrogenados a partir do gás natural dos campos produtores de petróleo da Bahia e de Sergipe. Estava lançado o núcleo para implantação do Polo Petroquímico – uma das razões da escolha da cidade foi a de que já existia ali a estrutura industrial de gasodutos, água e eletricidade
  • 1973 Crise do petróleo: Países árabes elevam preço do barril no mercado global, de US$ 3 a US$ 11,60 em apenas 3 meses. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cartel de produtores criado em 1960, embarga vendas para os EUA e a Europa devido ao apoio dado Israel na Guerra do Yom Kippur
  • 1974 Descoberta de petróleo na bacia de campos, no Rio de janeiro, e início da produção
  • 1997 Abertura de mercado: Após 45 anos, Petrobras deixa de ter monopólio da indústria do petróleo do Brasil. Legislação cria agência para regulamentar e fiscalizar a atividade
  • 2007 Descoberta e exploração do pré-sal Óleo de alta qualidade em águas ultraprofundas, na camada conhecida como Pré-Sal. Considerado um dos maiores eventos da indústria mundial de petróleo na última década
  • 2011 Petrobras anuncia plano de investimentos recorde (US$ 225 bilhões em 5 anos) com a entrada em operação de mais de 100 embarcações entre plataformas, navios petroleiros e sondas. Cresce número de empregos nos estaleiros (de 7 mil em 2003 para mais de 80 mil em 2014)
  • 2014 Início da Lava-jato Operação apura desvios bilionários dos cofres da Petrobras, que anuncia reposicionamento no mercado focando em produção marítima

Perda de licitação da Marinha piora crise na Indústria Naval de Pernambuco

Tags
Paulo Nogueira

Com formação técnica, atuei no mercado de óleo e gás offshore por alguns anos. Hoje, eu e minha equipe nos dedicamos a levar informações do setor de energia brasileiro e do mundo, sempre com fontes de credibilidade e atualizadas.

Compartilhar em aplicativos