Conhecida como “Galápagos do Índico”, Socotra abriga espécies que não existem em nenhum outro lugar do planeta. Isolada do conflito iemenita, a ilha se tornou um refúgio natural e espiritual, onde o tempo e a guerra parecem ter parado
Há algo fora da ordem nas Ilhas Socotra, arquipélago do Iêmen onde Anitta passou dias de descanso com amigos. “Isso não é inteligência artificial”, escreveu a cantora, ao publicar fotos da viagem no Instagram. A frase faz sentido: o cenário é tão surreal que parece outro planeta.
Um refúgio de paz em meio à guerra
As Ilhas Socotra formam um raro reduto de tranquilidade em um país devastado há mais de 11 anos por uma guerra civil sangrenta.
Enquanto o continente iemenita enfrenta combates entre rebeldes houthis, forças leais ao governo deposto e separatistas do sul, o arquipélago, a 400 quilômetros da costa, mantém uma calma surpreendente.
-
Conheça a história do Bar mais antigo de São Paulo — até Santos Dumont o visitava
-
Entre colinas, vinhedos e casas centenárias, este vilarejo oferece mais de R$ 120 mil para pessoas se mudarem para lá
-
Conheça o ‘deserto’ brasileiro: uma vastidão de dunas de areia branca entrecortadas por lagoas de água cristalina que se formam apenas durante uma parte do ano
-
Homem transfere R$ 10 mil por engano via Pix, tenta reaver o valor e descobre que a recebedora usou o dinheiro, alegou desemprego, bloqueou seus contatos e alterou o perfil nas redes sociais para evitar identificação; o banco foi isento de responsabilidade
Mesmo com os reflexos da guerra, Socotra tenta reviver o turismo e voltar a receber visitantes do mundo inteiro.
A “Galápagos do Índico”
Chamado de “Galápagos do Índico”, o arquipélago é Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, graças à imensa variedade de espécies exclusivas.
Suas águas azul-turquesa e as faixas de areia clara compõem paisagens paradisíacas, enquanto montanhas e planícies áridas abrigam árvores de formas exóticas.
Cerca de 50 mil pessoas vivem em Socotra, a maioria na ilha principal de mesmo nome. As outras três — Abd al Kuri, Samhah e Darsah — são pequenas, quase desabitadas e conhecidas como “Os Irmãos”.
A posição geográfica é estratégica: entre o sul do Iêmen e o Chifre da África, mais próxima da Somália do que da cidade iemenita de Aden. Essa localização ajuda a manter o arquipélago distante dos confrontos.
Mudanças políticas e retomada do turismo
O isolamento começou a diminuir em 2020, quando Socotra passou à zona de influência do Conselho de Transição do Sul, grupo separatista que busca criar um novo Estado no sul iemenita.
Aliada dos Emirados Árabes Unidos, a nova administração impulsionou o turismo. Hoje, a principal rota para o arquipélago é operada pela Air Arabia, com voos semanais de Abu Dhabi para Hadibu, capital local.
Há ainda uma rota alternativa pela Yemenia, companhia aérea do Iêmen, partindo do Cairo, com escala em Seiyun. Essa opção, no entanto, sofre interrupções frequentes devido à guerra civil.
Um paraíso pacífico
Apesar da instabilidade no continente, o conflito não atingiu diretamente Socotra. A ilha principal abriga uma base militar dos Emirados Árabes, mas não há registros de confrontos.
Viajantes que visitaram o arquipélago, como o comediante Fábio Porchat, descrevem uma atmosfera de paz e hospitalidade.
A população vive basicamente da pesca e da criação de gado, e a infraestrutura turística é simples, composta por pequenas pousadas e áreas para acampamento.
A verdadeira riqueza de Socotra está em sua natureza.
A joia biológica do Índico
Isoladas do continente há milhões de anos, as ilhas desenvolveram fauna e flora únicas. Entre as 825 espécies de plantas catalogadas, 307 só existem ali.
O símbolo mais conhecido é a árvore sangue-de-dragão (Dracaena cinnabari), cuja copa lembra um enorme guarda-chuva invertido e cuja seiva tem cor avermelhada.
Outra curiosidade é a árvore-do-pepino (Dendrosicyos socotranus), com tronco largo e folhas suculentas, além da rosa-do-deserto (Adenium obesum socotranum), que colore o cenário árido com tons rosados.
Essas espécies dominam as encostas rochosas e trilhas da ilha principal, onde ficam paisagens impressionantes como a fonte natural de Homhil, conhecida pela vista panorâmica e águas cristalinas.
Espécies únicas e preservadas
Um levantamento da Unesco revelou que 90% dos répteis e 95% dos caracóis terrestres de Socotra são endêmicos — ou seja, só existem ali.
Entre os 15 tipos de mamíferos identificados, apenas um morcego é nativo; os demais, como cabras e asnos, foram introduzidos pelo homem.
Nos mares, a vida é abundante. Golfinhos costumam acompanhar os barcos e saltam próximos às praias desertas, como Shouab, considerada a mais bela da região.
Socotra: paisagens que parecem de outro mundo
Em Arher, um dos pontos mais visitados, o mar azul-turquesa encontra dunas de areia branca que chegam a 300 metros de altura.
A visão é hipnotizante e dá a sensação de estar em outro planeta — um contraste absoluto com o cenário de guerra no continente.
Portanto, quando Anitta diz que Socotra “não é inteligência artificial”, ela tem razão. A beleza do arquipélago é real, natural e viva.
É um dos poucos lugares do mundo onde o silêncio, o isolamento e a biodiversidade ainda resistem, lembrando que a paz pode florescer mesmo em meio ao caos.
Com informações de O Globo.