Com investimentos de US$ 450 bilhões por ano, gigantes da tecnologia como Google e Amazon constroem data centers cada vez maiores, gerando uma demanda por eletricidade que desafia a infraestrutura global e as metas de sustentabilidade
Existe uma nova indústria crescendo em um ritmo explosivo no mundo. São as “fábricas invisíveis” da inteligência artificial. Elas não produzem carros, roupas ou qualquer bem físico que possamos tocar. Sua produção é de algoritmos, dados e respostas para assistentes como o ChatGPT. No entanto, o consumo de energia dessas instalações já é colossal e está remodelando a demanda por eletricidade no planeta.
Essas fábricas são os data centers, galpões gigantescos repletos de computadores superpotentes. A demanda por inteligência artificial é tão grande que, em 2025, essas instalações consumirão uma quantidade de energia sem precedentes.
A comparação com uma cidade como Campinas (SP) ajuda a entender a escala do desafio.
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A fome de energia da inteligência artificial, o consumo global de 415 TWh dos data centers em 2024
Para entender o tamanho do problema, é preciso olhar os números. Em 2024, o consumo mundial de eletricidade de todos os data centers foi estimado em 415 terawatts-hora (TWh), o que equivale a 1,5% de toda a energia usada no mundo. Desse total, as tarefas de inteligência artificial já eram responsáveis por cerca de 20%.
As projeções indicam um crescimento impressionante. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o consumo dos data centers deve dobrar até 2030, chegando a quase 945 TWh.
A inteligência artificial será a grande vilã desse aumento, podendo consumir sozinha quase metade de toda a energia dos data centers já no final de 2025.
A comparação com Campinas, como a demanda de 200 TWh da inteligência artificialem 2025 se traduz em um gasto colossal
Falar em terawatts-hora pode ser abstrato. Para dar uma dimensão real, vamos comparar com uma cidade brasileira conhecida. A cidade de Campinas, em São Paulo, com sua população de 1,18 milhão de habitantes em 2024, tem um consumo de energia anual estimado em 0,526 TWh.
A projeção de consumo de energia apenas para a inteligência artificialno mundo em 2025 é de 200 TWh.
Fazendo as contas, isso significa que a energia necessária para alimentar os sistemas de IA globais no próximo ano seria o suficiente para abastecer aproximadamente 380 cidades do tamanho de Campinas por um ano inteiro.
O problema não é apenas o volume, mas o fato de que essa energia é consumida de forma extremamente concentrada em poucos locais.
Os gigantes da tecnologia, os investimentos de mais de US$ 450 bilhões da Microsoft, Amazon e Meta em 2025
Quem está por trás dessa explosão no consumo são as gigantes da tecnologia. Os investimentos em data centers de inteligência artificial são astronômicos.
A Microsoft planeja investir US$ 80 bilhões até 2025.
A Amazon alocou US$ 86 bilhões para expandir sua infraestrutura de IA no mesmo período.
Somando os investimentos de Microsoft, Amazon, Google, Meta e Apple, o valor ultrapassa os US$ 450 bilhões apenas para 2025.
Esse gasto se justifica pela necessidade de computadores cada vez mais potentes. Novos chips de IA, como os da Nvidia, geram tanto calor que exigem sistemas de resfriamento muito mais complexos e que consomem ainda mais energia.
A pressão na rede elétrica e a dependência de combustíveis fósseis em 2022
O crescimento da inteligência artificial está colocando uma pressão sem precedentes nas redes elétricas do mundo. Construir novas linhas de transmissão para atender a essa demanda pode levar de 4 a 8 anos, um ritmo muito mais lento que o da construção dos data centers.
Além disso, a energia usada ainda não é limpa. Em 2022, cerca de 56% da eletricidade usada pelos data centers nos Estados Unidos vinha de combustíveis fósseis, como gás e carvão. Isso significa que, enquanto a IA promete um futuro tecnológico, ela está, no presente, contribuindo para o aumento das emissões de CO₂.
As soluções para o futuro, energia nuclear, solar e o resfriamento líquido para data centers de IA
Para resolver o problema, as empresas de tecnologia estão buscando alternativas. A Meta, por exemplo, anunciou que até o final de 2025 terá investido o suficiente para adicionar 9,8 GW de energia renovável, como solar e eólica, à rede elétrica dos EUA.
Outra tendência é buscar fontes de energia diretas. A Amazon já adquiriu um data center que será alimentado por uma usina nuclear na Pensilvânia. Pequenos reatores nucleares modulares (SMRs) também estão sendo considerados para alimentar os campi de data centers no futuro.
A tecnologia de resfriamento também está evoluindo. O resfriamento líquido, que é 3.000 vezes mais eficiente que o resfriamento a ar, está sendo adotado em 73% das novas instalações de inteligência artificial, prometendo reduzir os custos de energia e o impacto ambiental da “fábrica invisível”.