A erupção do Monte St. Helens em 1980 foi iniciada pelo maior deslizamento de terra de sua face norte, um evento que entrou para a história e redefiniu a ciência.
A erupção do vulcão St. Helens, em 18 de maio de 1980, não começou com uma explosão, mas com o maior desmoronamento da história moderna. A erupção do vulcão St. Helens, no estado de Washington, EUA, foi precedida pelo maior deslizamento de terra subaéreo (em terra) já registrado pela humanidade. Toda a face norte da montanha simplesmente desabou, desencadeando uma explosão lateral que viajou quase na velocidade do som.
Este evento, que ceifou 57 vidas e causou mais de um bilhão de dólares em prejuízos, não foi apenas uma tragédia. Foi uma oportunidade científica única que transformou nossa compreensão sobre vulcões, perigos geológicos e a incrível resiliência da vida, deixando um legado que perdura até 2025.
Os terremotos e a “protuberância” que deformou o Monte St. Helens em 1980
Após 123 anos de dormência, o Monte St. Helens começou a despertar em março de 1980. Uma série de terremotos sinalizou que o magma estava se movendo sob o vulcão. A atividade se intensificou, e em 27 de março, ocorreram as primeiras explosões de vapor, que abriram uma nova cratera no cume.
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O fenômeno mais alarmante, no entanto, foi o surgimento de uma imensa “protuberância” na face norte da montanha. Um corpo de magma viscoso, chamado de criptodomo, subiu e ficou preso dentro do vulcão, empurrando a encosta para fora a uma taxa impressionante de 1,5 a 2,5 metros por dia. Em 17 de maio, na véspera da erupção, o flanco norte, visivelmente inchado, já havia se deslocado mais de 140 metros. A montanha não era mais apenas um vulcão; havia se tornado uma bomba-relógio geológica, pronta para detonar.
18 de maio de 1980: a cronologia do desastre que começou com um terremoto de magnitude 5.1
A catástrofe começou às 8h32 da manhã de um domingo. Um terremoto de magnitude 5.1, com epicentro diretamente sob a protuberância, foi o gatilho final. Nos segundos seguintes, toda a face norte da montanha se desintegrou.
O que se seguiu foi uma cascata de eventos:
O deslizamento de terra: a encosta instável desabou na forma de uma avalanche colossal de rocha, gelo e terra.
A explosão lateral: o colapso da montanha agiu como a rolha de uma garrafa de champanhe, liberando instantaneamente a pressão do magma. Uma explosão de rocha pulverizada, cinzas e gás superaquecido irrompeu para o lado, a uma velocidade que atingiu quase 1.100 km/h.
A erupção vertical: quase simultaneamente, uma coluna de cinzas e gás subiu a mais de 24 quilômetros de altura, mergulhando cidades a centenas de quilômetros na escuridão.
Fluxos de lama (Lahars): o calor da erupção derreteu a neve e as geleiras da montanha, criando fluxos de lama vulcânica que desceram pelos rios, destruindo tudo em seu caminho.
A escala do maior deslizamento de terra subaéreo da história
A afirmação de que o evento de St. Helens foi o maior deslizamento de terra subaéreo da história registrada é factualmente correta. É crucial notar a diferença entre “história registrada” (eventos observados e medidos por humanos) e a história geológica. Embora existam deslizamentos pré-históricos maiores, como o de Heart Mountain, o de St. Helens é o maior já documentado.
Os números são impressionantes:
Volume: a avalanche moveu 2,8 quilômetros cúbicos de rocha, gelo e terra. Para se ter uma ideia, esse volume seria suficiente para soterrar toda a ilha de Manhattan sob uma camada de 40 metros de detritos.
Área coberta: a avalanche cobriu uma área de aproximadamente 60 km².
Profundidade: o vale do Rio North Fork Toutle foi soterrado por uma camada de detritos com uma profundidade média de 46 metros.
O rescaldo da erupção: o trágico custo humano e a destruição da paisagem
A erupção ceifou a vida de 57 pessoas, incluindo o geólogo David A. Johnston, que estava em um posto de observação e conseguiu transmitir a mensagem “Vancouver! Vancouver! É agora!” antes de ser atingido pela explosão.
O custo econômico ultrapassou US$ 1,1 bilhão em valores da época. Mais de 200 casas, 47 pontes e centenas de quilômetros de estradas e ferrovias foram destruídos. A indústria madeireira local foi dizimada. Ecologicamente, uma área de 600 km² foi transformada em um deserto cinzento.
Como a tragédia de St. Helens revolucionou o estudo de vulcões no mundo
Embora tenha sido uma tragédia, a erupção do St. Helens se tornou o evento mais bem documentado da história da vulcanologia. O desastre forneceu o primeiro olhar moderno e detalhado sobre o perigo do colapso de flancos e das explosões laterais, transformando um fenômeno que era apenas teórico em uma realidade terrível e compreensível.
A erupção catalisou uma revolução no monitoramento de vulcões, acelerando o uso de tecnologias como GPS de alta precisão e monitoramento de gases, que hoje são padrão em todo o mundo. O conhecimento adquirido em St. Helens ajudou a criar programas de resposta a desastres que já salvaram inúmeras vidas. A área devastada foi transformada no Monumento Vulcânico Nacional do Monte St. Helens em 1982, um laboratório natural que, para surpresa dos cientistas, mostrou uma recuperação da vida muito mais rápida do que o esperado, reescrevendo teorias da ecologia.