No Ártico, uma estrutura de concreto funciona como a apólice de seguro definitiva para a diversidade agrícola e o futuro da alimentação mundial.
No remoto arquipélago de Svalbard, na Noruega, ergue-se o Svalbard Global Seed Vault. Popularmente a chave para a sobrevivência é chamado de “Cofre do Fim do Mundo”, sua missão é fundamental: proteger a diversidade de sementes do planeta. Ele funciona como uma instalação de segurança máxima, armazenando duplicatas de coleções de sementes de todo o mundo. Este cofre representa uma salvaguarda essencial para o futuro da nossa alimentação contra ameaças globais e locais.
O que é a chave para a sobrevivência global e por que ele é essencial?
O objetivo principal do cofre de sementes é servir como um armazenamento de segurança. Ele não é um banco de sementes comum, mas um serviço de depósito para os mais de 1.700 bancos de germoplasma que existem. Sua criação responde à vulnerabilidade dessas coleções. A perda de uma variedade de cultura é irreversível, e o cofre existe para impedir que isso aconteça.
A necessidade de uma instalação como esta vem de muitas ameaças. Embora frequentemente associado a catástrofes globais, seu uso mais comum é para proteger coleções de problemas rotineiros. Questões como má gestão, falhas de equipamento ou acidentes podem destruir bancos de sementes locais. Um simples defeito em um congelador, por exemplo, pode arruinar uma coleção inteira. Além de sua função prática, o cofre é um poderoso símbolo de cooperação internacional, onde a sobrevivência compartilhada supera a geopolítica. O projeto é uma parceria entre o governo da Noruega, o banco de germoplasma NordGen e a organização Crop Trust.
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A engenharia por trás do cofre de sementes que é a chave para a sobrevivência humana
A localização do cofre de sementes na ilha de Spitsbergen foi uma escolha estratégica. A região é remota, mas acessível. Geologicamente, a área é estável e possui baixa umidade, condições ideais para a preservação. A estabilidade política da Noruega também foi um fator decisivo.
A estrutura é uma maravilha da engenharia. O cofre foi escavado a mais de 100 metros de profundidade em rocha sólida. Para se proteger contra os efeitos das mudanças climáticas, foi construído a 130 metros acima do nível do mar, a salvo de inundações. A estrutura também foi projetada para resistir a terremotos de até 10 na escala Richter. Sua entrada icônica, um monólito de concreto e aço, é adornada pela obra de arte “Perpetual Repercussion”, que usa luzes e espelhos para marcar a localização do cofre, transformando a entrada em um farol de esperança e precaução.
Como as sementes ficam viáveis por séculos?
A longevidade das sementes é garantida por uma estratégia de dupla camada. Primeiro, um sistema de refrigeração artificial mantém a temperatura interna no padrão internacional de -18°C. Este sistema é alimentado pela energia local e possui geradores de emergência.
A segunda camada de proteção é o permafrost natural da montanha. A rocha ao redor do cofre tem uma temperatura estável entre -3°C e -4°C, funcionando como um congelador natural. Mesmo que o sistema de refrigeração falhe completamente, o permafrost manteria as sementes congeladas. Estima-se que levaria séculos para a temperatura interna chegar a 0°C. As sementes são seladas em pacotes de folha de alumínio de três camadas, que limitam o acesso ao oxigênio e minimizam o envelhecimento.
Um tesouro da diversidade agrícola
O cofre de sementes foi projetado em escala monumental. Com três salas subterrâneas, tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de amostras, o que equivale a 2,5 bilhões de sementes. Atualmente, o acervo já ultrapassa 1,3 milhão de amostras, tornando-se a coleção mais diversificada do mundo.
O projeto conta com a participação de 129 depositantes de quase todos os países. A coleção inclui desde alimentos básicos como milho, arroz e trigo, até variedades de berinjela, alface e batata. Apesar do grande volume, apenas uma das três salas de armazenamento está em uso, demonstrando que o cofre é uma biblioteca viva, em constante crescimento para proteger a diversidade genética mundial.
Quem realmente controla as sementes?
O sucesso do cofre que é a chave para a sobrevivência humana depende de seu modelo operacional. Ele funciona sob o princípio de “caixa-preta”. O governo da Noruega é dono da instalação, mas os bancos de germoplasma depositantes mantêm a propriedade total sobre suas sementes. O depósito de amostras não representa uma transferência legal de material genético.
Os depositantes são os únicos que podem acessar e retirar suas sementes. Nenhum pesquisador ou agricultor pode solicitar amostras diretamente do cofre de Svalbard. Para incentivar a participação, o serviço de armazenamento é gratuito. A eficácia deste sistema já foi comprovada: a Síria foi o primeiro país a fazer uma retirada, após seu banco de sementes em Aleppo se tornar inacessível devido à guerra. Este evento provou que o cofre de sementes é uma ferramenta essencial e funcional para proteger o patrimônio agrícola da humanidade no presente.