Conhecido como “G-Cans”, o maior sistema de desvio de enchentes do mundo é uma maravilha da engenharia, o túneis de inundação de Tóquio foi projetado para proteger a metrópole japonesa de inundações catastróficas.
Para proteger a maior metrópole do mundo de inundações catastróficas, o Japão construiu uma fortaleza subterrânea. A 50 metros sob a superfície da província de Saitama, existe uma das estruturas de engenharia mais impressionantes do planeta: o Canal de Descarga Subterrâneo Externo da Área Metropolitana, mais conhecido como os túneis de inundação de Tóquio. Apelidado de “A Catedral Subterrânea” por sua escala e beleza arquitetônica, este complexo não é um templo, mas uma fortaleza de alta tecnologia contra a fúria da natureza.
Construído para proteger uma das áreas mais vulneráveis a inundações da grande Tóquio, o sistema é um testemunho da capacidade da engenharia japonesa de criar soluções monumentais para desafios extremos. Esta é a história, a tecnologia e o desempenho desta megaestrutura, um ícone da resiliência de uma nação.
Por que Tóquio precisou de um projeto de 230 bilhões de ienes?
A construção dos túneis de inundação de Tóquio foi uma resposta a décadas de desastres. A região, uma planície baixa cercada por rios, sempre foi suscetível a enchentes. O problema foi agravado pela rápida urbanização no pós-guerra. O solo permeável dos campos de arroz, que funcionavam como esponjas naturais, foi substituído por um tapete de concreto e asfalto, selando o destino da região.
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Após uma série de inundações devastadoras nas décadas de 1980 e 1990, o ponto de virada veio em setembro de 1991, com o Tufão Mireilles. A pior tempestade a atingir o Japão em 30 anos inundou 30.000 casas e finalmente convenceu as autoridades a investir em uma solução de engenharia em larga escala. O projeto, que durou de 1993 a 2006, teve um custo final de 230 bilhões de ienes.
Os 5 silos, o túnel de 6,3 km e o “templo” de pilares
O sistema é uma sinfonia de engenharia civil. Seu objetivo é coletar o excesso de água de cinco rios de médio porte e desviá-lo para o rio Edo, que é muito maior e pode escoar a água com segurança.
Os silos: o processo começa com cinco imensos poços verticais, ou silos. Cada um, com cerca de 70 metros de profundidade e 30 de diâmetro, é tão imenso que poderia abrigar a Estátua da Liberdade ou um ônibus espacial em seu interior. Eles funcionam como gigantescos ralos, captando a água das enchentes.
O túnel principal: os silos são conectados por um túnel principal de 6,3 km de comprimento e 10 metros de diâmetro, construído a 50 metros de profundidade com a ajuda de Máquinas de Perfuração de Túneis (TBMs).
A “Catedral Subterrânea”: no final do túnel, fica a estrutura mais famosa: o tanque de ajuste de pressão. Com 177 metros de comprimento, 78 de largura e 18 de altura, seu teto é sustentado por 59 pilares colossais, cada um pesando 500 toneladas. Sua função é amortecer a força da água antes que ela chegue às bombas.
As turbinas de avião que movem um rio: como funcionam os túneis de inundação de Tóquio
O coração pulsante dos túneis de inundação de Tóquio é sua estação de bombeamento. A instalação abriga quatro bombas gigantes, movidas por turbinas a gás modificadas, da mesma tecnologia usada em motores de avião.
A capacidade de bombeamento combinada do sistema é de 200 metros cúbicos de água por segundo. Esse volume é tão grande que seria o suficiente para esvaziar uma piscina olímpica padrão em apenas um segundo. É essa força colossal que efetivamente cria um novo rio subterrâneo, desviando as águas da enchente para a segurança do rio Edo.
A eficácia do sistema contra tufões e a redução de 90% dos danos
Desde sua conclusão em 2006, o sistema tem sido um sucesso. Ele é ativado, em média, sete vezes por ano. Dados oficiais do governo japonês mostram que os túneis de inundação de Tóquio foram responsáveis pela redução de aproximadamente 90% no número de casas afetadas por enchentes na região que protege.
Em eventos extremos, sua eficácia foi testada ao limite. Durante o Tufão Hagibis, em outubro de 2019, o sistema drenou mais de 12 milhões de metros cúbicos de água, evitando danos estimados em 26,4 bilhões de ienes. Desde sua inauguração, estima-se que o projeto já tenha poupado mais de 150 bilhões de ienes em prejuízos, um número que caminha para superar seu custo original e provar que a prevenção, embora cara, é um investimento de altíssimo retorno.
Uma atração turística e a luta contínua contra as enchentes
Em 2025, o sistema continua a ser a principal linha de defesa de Tóquio contra as inundações, um desafio que só se intensifica com as mudanças climáticas. O governo japonês já investe em novos projetos para complementar o sistema, reconhecendo que nenhuma estrutura, por maior que seja, é uma solução definitiva.
A grandiosidade da engenharia transformou os túneis de inundação de Tóquio em uma atração turística inesperada. Fora dos períodos de chuva, são oferecidas visitas guiadas ao “templo subterrâneo”, que já serviu até de cenário para filmes. A experiência, no entanto, exige um guia que fale japonês ou um tradutor, mas oferece uma visão única de uma das maravilhas da engenharia moderna.