A indústria de cruzeiros aposta em embarcações cada vez mais monumentais para atender a uma demanda crescente por experiências completas, mas o gigantismo naval levanta importantes questões ambientais.
A imagem de um navio de cruzeiro que mais parecia um bolo de aniversário gigante, com seus tobogãs coloridos e piscinas, tornou-se viral e marcou o imaginário popular. Se o lançamento do “Icon of the Seas” em janeiro de 2024 parecia o ápice, era apenas o começo. A máxima “maior é melhor” continua a guiar as principais companhias do setor, que lançam ao mar uma sucessão de grandes navios de cruzeiro, indicando que o futuro das viagens marítimas é, de fato, colossal.
A corrida das companhias de cruzeiro
A corrida para construir o próximo grande navio de cruzeiro não mostra sinais de desaceleração. Empresas como Royal Caribbean, MSC Cruzeiros, Carnival Cruise Line e Norwegian Cruise Line continuam a investir pesado em embarcações que desafiam os limites da engenharia e da capacidade. O que estamos testemunhando é a materialização de encomendas feitas antes mesmo da pandemia, que agora chegam aos oceanos para atender a um público ávido por novidades.
A lógica é clara: quanto mais passageiros a bordo, maior o potencial de receita. Essa estratégia parece funcionar, com uma carteira global de pedidos que se estende até 2036, prevendo a entrega de 77 novos navios.
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Lançamentos de 2024 e a promessa de navios ainda maiores
Só este ano, uma nova frota de gigantes começou a navegar. Em abril, o Norwegian Aqua iniciou suas operações com capacidade para 3.600 passageiros. No mesmo mês, a MSC Cruzeiros lançou o MSC World America, seu segundo maior navio, capaz de acomodar 6.762 passageiros. A Carnival planeja sua classe mais gigantesca para 2029, com navios para quase 8 mil hóspedes.
E a Royal Caribbean não fica para trás. Em agosto, o Star of the Seas, irmão do Icon of the Seas, começará suas viagens com capacidade para 7.600 passageiros e 20 decks repletos de atrações. A empresa já tem mais dois navios da mesma classe encomendados para 2026 e 2027, mostrando que a era dos grandes navios de cruzeiro está longe de terminar.
Por que os passageiros preferem os mega navios?
A resposta está na mudança de paradigma da indústria. “A era dos hóspedes que fazem um cruzeiro para simplesmente chegar a um destino acabou”, afirma Suzanne Salas, da MSC Cruzeiros. Hoje, o próprio navio é o destino. Passageiros buscam inovação, restaurantes, bares e entretenimento de ponta, e os mega navios oferecem tudo isso em abundância.
Para muitos, a experiência a bordo é tão ou mais importante que os portos de escala. O navio se torna um destino em si, com tantas atividades que é difícil aproveitar tudo em uma única semana. A demanda reflete essa preferência: a Cruise Lines International Association (CLIA) projeta mais de 37 milhões de passageiros de cruzeiro para 2025.
Gerenciando milhares em alto mar
Como garantir uma experiência agradável em um navio com mais de 6.000 pessoas? A chave está no “fluxo”. As companhias de cruzeiro projetam esses gigantes para que os passageiros circulem confortavelmente, criando espaços distintos para que cada um personalize sua viagem.
Conceitos como “bairros”, adotados pela Royal Caribbean, e “distritos”, pela MSC, ajudam a tornar o navio mais gerenciável. Isso permite que os passageiros encontrem seus locais favoritos e sintam que têm uma experiência única, mesmo cercados por milhares de outras pessoas.
As preocupações ambientais e o futuro sustentável
Apesar do fascínio, os grandes navios de cruzeiro levantam sérias bandeiras vermelhas. Ambientalistas os descrevem como “cidades flutuantes”, apontando para o aumento do consumo de combustível, emissões de gases de efeito estufa e descargas de águas residuais a cada novo lançamento.
Embora navios modernos usem GNL (Gás Natural Liquefeito) e possam se conectar à energia em terra para reduzir emissões nos portos, especialistas argumentam que essas medidas não são suficientes. O metanol renovável seria uma opção mais limpa para atingir a meta de emissões líquidas nulas até 2050.
Além disso, há o impacto do sobreturismo, com milhares de turistas desembarcando de uma só vez em destinos que nem sempre estão preparados para recebê-los. A indústria de viagens enfrenta o desafio de proteger os locais e as comunidades que tornam esses destinos tão especiais, buscando um equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade.
Com informações de CNN Portugal.