Mesmo após meio século de planos bilionários metrô, estádio, habitação e parques tecnológicos Itaquera segue como símbolo da desconexão entre investimento público e qualidade de vida.
Há exatos 50 anos, Itaquera escuta o mesmo discurso: grandes obras trariam empregos, renda e desenvolvimento urbano para o extremo leste de São Paulo. A cada década, novos planos metrô, estádio bilionário, centros tecnológicos, conjuntos habitacionais reacendiam a esperança de transformar uma das regiões mais populosas da capital.
Mas meio século depois, os resultados continuam modestos. Mesmo com obras vistosas, o cotidiano da população pouco mudou: distâncias longas, falta de integração entre transportes e ausência de empregos locais ainda definem a rotina de quem vive ali.
Do sonho industrial à realidade dos vazios urbanos
Nos anos 1970, o regime militar lançou o projeto de erguer em Itaquera um parque industrial capaz de gerar milhares de empregos e equilibrar o crescimento da cidade.
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A promessa ficou no papel. Em vez disso, vieram os enormes conjuntos habitacionais Cohab I e II, que ampliaram a população sem oferecer infraestrutura adequada.
A chegada do metrô, iniciada ainda na ditadura e concluída apenas em 1988, deveria corrigir parte do desequilíbrio. Não foi o que aconteceu.
O transporte público se expandiu sem planejamento urbano ao redor bairros cresceram desconectados e o entorno da estação Itaquera ficou repleto de terrenos baldios, estacionamentos e grades que isolam os pedestres.
O estádio bilionário e o impacto que não veio
A Copa de 2014 reacendeu o discurso de redenção. O Itaquerão, ou Arena Corinthians, foi apresentado como motor de desenvolvimento.
O então presidente Lula chamou a obra de “presente histórico” para a Zona Leste, e o governo estadual prometeu um parque tecnológico no entorno.
Nenhuma das promessas se concretizou. Nem a especulação imobiliária se interessou pelo entorno do estádio. O Sesi e o Senai prometidos não saíram do papel. O teatro e os cursos técnicos tiveram o terreno doado, mas as obras nunca começaram.
O estádio, apesar de moderno, segue isolado, com entrada voltada a estacionamentos e sem vida urbana ao redor.
Especialistas lembram que equipamentos esportivos públicos costumam funcionar como polos de urbanização como acontece em Londres, Tóquio e Madri.
Mas em São Paulo, o modelo se perdeu entre disputas políticas, licenças atrasadas e ausência de diálogo entre governo e iniciativa privada.
Mobilidade travada e o pedestre esquecido
Quem anda por Itaquera percebe facilmente a falta de integração entre as obras. Cada investimento parece existir isoladamente.
O pedestre é o maior prejudicado: faixas de travessia desconectadas, calçadas inexistentes e barreiras físicas cercam a estação e o estádio.
Mesmo onde há prédios públicos escolas, faculdades e centros administrativos as entradas são voltadas para dentro dos muros, e não para a cidade.
O resultado é um espaço urbano que repete o erro histórico de afastar moradia, trabalho e transporte, obrigando viagens longas e cansativas todos os dias.
A lição urbana que São Paulo ainda não aprendeu
A subprefeitura de Itaquera reúne cerca de 520 mil habitantes, mais do que cidades inteiras como Santos. Somando os distritos vizinhos de Guaianases e Cidade Tiradentes, são mais de 1 milhão de pessoas concentradas em uma área marcada por baixa oferta de empregos e infraestrutura deficiente.
Mesmo com densidade populacional superior a bairros como Moema e Pinheiros, Itaquera continua sendo um “bairro-dormitório”.
A maior parte da população depende de transporte público para trabalhar em outras regiões reflexo de políticas urbanas que expandiram a cidade para o leste, mas sem distribuir oportunidades de maneira equilibrada.
Entre o discurso e o chão da cidade
Os investimentos bilionários chegaram, mas a qualidade de vida não acompanhou. A zona leste abriga quase 40% da população paulistana, mas segue com déficit de empregos, áreas verdes e urbanismo integrado. Mesmo o recente home office beneficiou pouco a região, restrito a uma minoria com ensino superior.
Enquanto isso, bairros criticados pela verticalização, como Tatuapé e Mooca, concentram a maioria dos empregos locais ironicamente, os únicos que conseguiram criar um ecossistema urbano dinâmico. Itaquera, com toda a sua história de promessas, continua sendo a grande lição sobre o que não fazer na política de desenvolvimento urbano.
Cinco décadas depois, Itaquera permanece símbolo de uma cidade que planeja por partes e executa sem integração. O estádio bilionário, o metrô e os conjuntos habitacionais estão lá mas não dialogam entre si, nem com quem vive ao redor.
Você acredita que Itaquera ainda pode se reinventar com novos projetos urbanos? Ou o bairro continuará refém das promessas que nunca se cumprem? Deixe sua opinião nos comentários queremos ouvir quem vive essa realidade no dia a dia.