Quando um defeito vira problema crônico, a recomendação dos mecânicos muda e o carro perde valor de revenda. Foi assim com Marea, 206, Focus com Powershift, Golf com DSG e Onix com correia banhada a óleo.
Relatos recorrentes de falhas técnicas têm levado oficinas e especialistas a rever recomendações de alguns carros no mercado brasileiro. Quando um defeito vira problema crônico, a confiança cai, compradores recuam e modelos perdem fôlego nas lojas e no mercado de seminovos.
Entre os casos mais citados estão Fiat Marea, Peugeot 206, Ford Focus com Powershift, Volkswagen Golf com DSG DQ200 e Chevrolet Onix com correia banhada a óleo. Em comum, manutenção cara, risco de reparos repetidos e impacto direto na reputação.
Veja o que falhou em cada modelo e quais medidas oficiais foram adotadas por cada montadora e como isso afetou o interesse do público.
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1. Fiat Marea: manutenção complexa e intervalos de óleo mal adaptados ao Brasil
O Fiat Marea ganhou fama de sedã refinado no fim dos anos 1990, mas a manutenção exigente do motor Fivetech e a antiga orientação de troca de óleo mais longa do que o ideal no Brasil criaram terreno fértil para panes e borra interna. Especialistas lembram que o erro foi, muitas vezes, de procedimento: óleo errado e prazos estendidos derrubaram a confiabilidade percebida.
Outro ponto que pesou na reputação foi o custo de serviços e a necessidade de mão de obra realmente qualificada. Com isso, o Marea passou a ser visto como carro “difícil”, o que impactou a procura no mercado de usados e, por consequência, a vitalidade em vendas da linha ao longo dos anos.
Lição para o consumidor: respeitar especificações de lubrificantes e intervalos do manual reduz drasticamente o risco em motores complexos.
2. Peugeot 206: eixo traseiro por barra de torção e arrefecimento exigente
No Peugeot 206, oficinas e reparadores relatam desgaste do eixo traseiro com barras de torção, que pode gerar folgas, barulhos e rodas “fechando” no topo. Há soluções técnicas consagradas, mas o serviço demanda inspeção criteriosa do conjunto e peças de qualidade.
Além disso, proprietários e mecânicos apontam atenção ao sistema de arrefecimento e a componentes da alimentação, como bicos injetores, sobretudo em unidades antigas.
Quando esses itens não recebem manutenção preventiva, o carro acumula reclamações e perde apelo entre usados, refletindo na procura por modelos da família 206/207. Antes de comprar, leve o carro a uma vistoria com foco no quadro traseiro e no sistema de arrefecimento.
3. Ford Focus, Fiesta e EcoSport com câmbio PowerShift: da multa do Procon-SP à garantia estendida
O câmbio PowerShift (DPS6) marcou presença em Focus, Fiesta e EcoSport e acumulou relatos de trepidações, superaquecimento e desgaste de embreagem. Em 2021, o Procon-SP multou a Ford em R$ 10,5 milhões por infrações ligadas ao caso, classificando o defeito como vício oculto.
A partir das notificações de órgãos de defesa, houve extensão de garantia para componentes do sistema, chegando a cinco anos ou 160 mil km em situações contempladas, o que é relevante para quem ainda possui o veículo.
Para o consumidor, vale registrar chamados e buscar apoio do Procon em caso de negativa de reparo. Direito do consumidor e histórico de manutenção são decisivos para evitar prejuízo.
4. Volkswagen Golf e o DSG DQ200: mecatrônica no radar e recall em outros mercados
O DSG DQ200 de sete marchas a seco equipou Golf e outros modelos do grupo. Em 2013, a China determinou recall de 384 mil veículos por problemas associados à transmissão, em especial falhas ligadas à unidade mecatrônica e ao fluido. No Brasil, não houve uma campanha ampla equivalente, o que manteve o tema no radar de usados e oficinas.
Para quem busca um Golf usado com DSG, a recomendação é diagnóstico especializado: ler falhas gravadas, avaliar comportamento em frio e quente e checar histórico de intervenções na mecatrônica e embreagens.
Falhas nessa transmissão costumam ter reparo caro, fator que pesa na decisão de compra e pode afetar a liquidez do modelo no mercado.
5. Chevrolet Onix: correia banhada a óleo em xeque e reforços na linha 2026
A geração atual do Chevrolet Onix adotou correia banhada a óleo no comando do motor. Casos de danos associados a uso de óleo fora da especificação motivaram ações da marca. Em 17 de abril de 2025, a Chevrolet reativou a garantia da correia para 240 mil km em veículos produzidos desde 2019, um movimento importante para restaurar a confiança.
Na linha Onix 2026, a GM afirma ter reforçado a correia para mitigar entupimentos mesmo se o óleo inadequado for utilizado, além de melhorias de eficiência. Avaliações recentes mostram consumo urbano que pode chegar a 13,7 km/l e 17,7 km/l em rodovias com gasolina nas versões manuais, enquanto os automáticos registram números menores, algo esperado por conta do câmbio.
É fato que o Onix segue um dos carros mais vendidos do país, mas, em fevereiro de 2025, a GM promoveu paralisações em Gravataí para adequar a produção, o que também impacta a disponibilidade e pode refletir temporariamente nos emplacamentos. Isso reforça como reputação técnica e logística de fábrica caminham juntas no resultado de vendas.
Impacto real nas vendas e como o consumidor pode se proteger
Nem toda polêmica derruba um modelo para sempre. Em alguns casos, o efeito é pontual e ligado a lotes, anos-modelo específicos ou à comunicação técnica do fabricante. Ainda assim, a simples percepção de risco já é suficiente para afastar compradores e exigir descontos maiores no seminovo. A recomendação é olhar dados de emplacamento e contexto de produção antes de tirar conclusões definitivas sobre “queda de vendas”.
Para se proteger, adote um checklist simples: verifique recalls no site da montadora, peça laudo independente com leitura de falhas, confirme histórico de revisões e, diante de falhas recorrentes logo após a compra, avalie o enquadramento como vício oculto com apoio do Procon. Em transmissões como Powershift e DSG, um teste rodoviário mais longo e inspeção em mecânica especializada valem o investimento.
Os cinco casos acima mostram que engenharia, manutenção correta e resposta do fabricante definem a imagem de um carro no Brasil. Quando a montadora age rápido com garantia estendida, campanhas técnicas ou peças revisadas, parte do prejuízo reputacional é recuperado. Quando demora, a memória do consumidor faz o resto. Para o leitor, o caminho é informação de qualidade, óleo na especificação, intervalos certos e inspeção técnica detalhada antes de fechar negócio.