A versão de seis portas da Kombi, criada exclusivamente no Brasil, tornou-se raridade ao unir portas duplas laterais, motor resistente e projeto pensado para o transporte de passageiros em aeroportos, táxis e serviços escolares.
A Kombi de seis portas, exclusiva do mercado brasileiro, nasceu para facilitar o embarque e o desembarque em operações de transporte de passageiros — inclusive em aeroportos — e tornou-se raridade após uma produção limitada.
Com portas duplas nas duas laterais e a reputação do motor boxer refrigerado a ar, o modelo atendeu táxis, serviços escolares e frotas corporativas, cumprindo um papel discreto, porém marcante, na malha de mobilidade do país.
Origem do projeto e chegada ao Brasil
A gênese da Kombi remonta ao pós-guerra.
-
6 carros 1.6 usados mais baratos de consertar, com melhor reparabilidade, peças acessíveis e boa reputação em oficinas
-
4 carros de luxo usados que oferecem motor potente, interior confortável, design clássico e custam até R$ 45 mil — embora a manutenção seja mais cara
-
Trator John Deere Série 6R é transformado em veículo contra incêndios
-
Está cansado das mesmas opções? Veja 3 carros de até R$ 80 mil da Kia, Toyota e Honda com bom porta-malas, baixo consumo e mecânica aprovada
O conceito do utilitário foi esboçado em 23 de abril de 1947 pelo empresário holandês Ben Pon, então importador da Volkswagen.
A produção em série começou em 1950, na Alemanha, e, poucos anos depois, o modelo já estava presente nas ruas brasileiras.
No Brasil, a história industrial da Kombi tem um capítulo inaugural.
A montagem começou em 1953, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com kits importados.
Em 2 de setembro de 1957, a Volkswagen iniciou a produção nacional na Fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, com 50% de conteúdo local.
Foi o primeiro veículo fabricado pela marca no país.
O Fusca passaria a ser produzido por aqui a partir de 1959, consolidando a expansão da operação brasileira.
Por que seis portas?
A proposta da versão 6 portas era pragmática: acesso por ambos os lados para acelerar o fluxo de passageiros em paradas rápidas.
Em vez de apenas uma abertura lateral, a carroceria trazia um par de portas de cada lado, além das duas dianteiras, totalizando seis.
A solução facilitava o embarque por fileira de assentos e reduzia manobras em espaços apertados, algo valioso no transporte urbano e em pátios de aeroportos.
Segundo registros de época e publicações especializadas, a Kombi 6 portas apareceu no início dos anos 1960 como derivação da configuração de passageiros.
A ideia era atender táxis, lotações, escolas e companhias que demandavam embarque ágil.
Embora a produção tenha sido pequena, a configuração permaneceu no catálogo por anos e atravessou mudanças de geração no mercado brasileiro.
Mecânica simples, robusta e nacionalizada
A base mecânica manteve o conhecido boxer quatro-cilindros refrigerado a ar, motor de manutenção simples e reconhecida durabilidade, o que alimentou a fama de “inquebrável” entre frotistas.
Inicialmente, a 6 portas utilizava o 1.200 cm³, o mesmo das demais Kombis à época.
Com a evolução da linha, ganhou o 1.500 cm³ em 1967, melhorando o fôlego.
A partir de 1975, já na fase com frente modernizada, passou a oferecer o 1.600 cm³.
Essas atualizações acompanharam o processo de nacionalização de componentes e o amadurecimento da engenharia local.
A arquitetura com motor traseiro e tração traseira, somada ao desenho de carroceria monobloco, entregava robustez para uso intensivo.
Ao mesmo tempo, o acesso por três aberturas por lado — contando a porta dianteira e o conjunto de portas laterais duplas — contribuía para a versatilidade em aplicações de alta rotatividade de passageiros.
Uso em aeroportos e serviços de transporte
O ambiente aeroportuário foi um dos destinos naturais da 6 portas.
Com portas espelhadas nas duas laterais, a Kombi atendia rotas curtas dentro do pátio, transferindo tripulações e passageiros entre terminais e aeronaves, de modo a minimizar o tempo de parada.
Em linhas urbanas e escolares, a lógica era semelhante: reduzir o tempo em cada ponto e organizar o fluxo por fileiras, algo facilitado pela multiplicidade de acessos.
Ainda que as referências iconográficas e de acervo sobre esse uso sejam, em grande medida, dispersas e pontuais, elas convergem para o emprego frequente da 6 portas em operações de apoio e em frotas corporativas.
O conjunto de características funcionais — portas simétricas, interior simples e mecânica resistente — explica por que a configuração foi lembrada por quem trabalhou com transporte coletivo leve ao longo das décadas.
Entre a “corujinha” e a frente modernizada
O Brasil manteve especificidades de projeto ao atualizar a Kombi.
Na segunda metade dos anos 1970, o modelo nacional adotou a frente de linhas mais modernas, mas conservou as laterais com portas duplas em determinadas versões.
Nesse arranjo, a 6 portas seguiu à venda ao menos até o fim dos anos 1970, ainda que a documentação de fábrica disponível ao público não seja unânime sobre o último ano de produção.
De todo modo, o conceito que a originou — acesso rápido e bilateral — seguiu sendo um diferencial enquanto esteve no catálogo.
Raridade e preservação
Por ter sido produzida em números reduzidos e destinada majoritariamente a frotas operacionais, muitas unidades foram intensamente utilizadas e, com o tempo, desapareceram.
Encontrar hoje uma Kombi 6 portas íntegra é incomum.
Exemplares preservados ou restaurados costumam aparecer em encontros de antigos e acervos especializados.
O interesse crescente por veículos comerciais históricos tem impulsionado pesquisas e resgates, o que ajuda a reconstruir a trajetória dessa configuração tipicamente brasileira.
Legado de um utilitário brasileiro
A Kombi encerrou sua produção no Brasil em 2013, após mais de meio século de história, e a 6 portas permanece como um símbolo de adaptação local a necessidades específicas de mobilidade.
Ela combina engenharia simples, acessibilidade ampliada e uma solução de layout que dialoga com a operação real de quem transporta gente e carga em ambientes desafiadores.
Diante de tanta história e tão poucos sobreviventes, qual lembrança ou registro da Kombi 6 portas você gostaria de ver preservado para as próximas gerações?