Volkswagen perde bilhões com tarifas e vê chineses avançarem: grupo alemão luta para segurar liderança na Europa e salvar margens na era dos elétricos.
Durante décadas, a Volkswagen reinou como símbolo da engenharia alemã, com uma linha de modelos que conquistou mercados em todo o planeta. Golf, Passat e Polo moldaram gerações, enquanto o grupo se consolidava como líder de vendas na Europa e forte concorrente no mundo inteiro. Mas em 2025, a gigante de Wolfsburg enfrenta um cenário inédito: perdas bilionárias decorrentes de tarifas comerciais e a pressão cada vez maior das montadoras chinesas, que ameaçam corroer o espaço da marca no continente que sempre foi seu território mais seguro.
Tarifas que custam bilhões
O próprio CEO do grupo admitiu recentemente: as tarifas impostas por diferentes blocos econômicos estão custando “vários bilhões de euros” à Volkswagen apenas em 2025. As sobretaxas se concentram, em grande parte, nos modelos elétricos e híbridos, justamente os que a marca aposta como caminho de futuro.
A União Europeia endureceu sua política contra veículos importados da China, o que desencadeou medidas retaliatórias e elevou os custos de componentes essenciais da cadeia de fornecimento.
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Esse efeito em cascata atinge diretamente a estratégia de eletrificação da Volkswagen. A produção de modelos da linha ID. (como ID.3, ID.4 e ID. Buzz) ficou mais cara, e a margem de lucro já pressionada encolheu ainda mais. Para um grupo que investiu dezenas de bilhões de euros na transição energética, a conta está vindo antes do retorno.
A pressão chinesa
Se por um lado as tarifas aumentam os custos, por outro a Volkswagen precisa lidar com a concorrência avassaladora das marcas chinesas de elétricos.
Grupos como BYD, SAIC (que controla a MG) e Geely não apenas conquistaram espaço na Ásia, mas também avançam rapidamente sobre a Europa.
O diferencial está no preço e na tecnologia. Enquanto a Volkswagen luta para manter competitividade, marcas chinesas conseguem oferecer SUVs elétricos bem equipados por valores até 30% menores.
Em mercados como Noruega, Dinamarca e Alemanha, a penetração desses fabricantes cresce a taxas de dois dígitos ao ano, minando a liderança tradicional do grupo alemão.
Volkswagen sempre liderou com folga as vendas na Europa
Historicamente, a Volkswagen sempre liderou com folga as vendas na Europa. Modelos como Golf e Polo eram praticamente onipresentes, sustentando a imagem da marca. Mas os últimos anos mostraram uma mudança de tendência:
- O Golf já não é mais o carro mais vendido em diversos países, ultrapassado por SUVs compactos de rivais coreanos e chineses.
- O Polo perdeu espaço para compactos eletrificados de baixo custo.
- A própria linha de SUVs da Volkswagen, como T-Roc e Tiguan, começa a enfrentar forte pressão de preços frente a rivais asiáticos.
Em 2024, a Volkswagen ainda manteve a liderança do mercado europeu, mas pela menor margem em décadas. Em 2025, a tarefa é segurar a coroa diante do avanço chinês e dos custos crescentes impostos pelas tarifas.
O peso da eletrificação
O grupo Volkswagen foi uma das primeiras gigantes a anunciar metas ambiciosas de eletrificação total. A estratégia envolveu investimentos colossais em fábricas de baterias, plataformas modulares e redes de software, como a base MEB que equipa a linha ID. O problema é que o retorno financeiro dessa guinada está demorando mais do que o previsto.
Enquanto isso, os custos se acumulam. A pressão por novas baterias, a dependência de lítio e outros insumos vindos da Ásia e as oscilações nas cadeias globais estão corroendo as margens.
O grupo já admitiu que terá de rever metas, incluindo prazos para eletrificação completa em alguns mercados.
A sombra da China no quintal europeu
Outro ponto crítico é que a Volkswagen sempre foi considerada “dona de casa” no mercado europeu. Agora, vê rivais chinesas investindo em fábricas dentro do continente para driblar tarifas e conquistar consumidores locais.
A BYD, por exemplo, já anunciou planos de produção na Hungria. Essa mudança retira da Volkswagen a vantagem competitiva histórica de proximidade e identidade europeia.
A perda de participação no maior mercado do mundo, a China, também agrava o cenário. A Volkswagen, que já foi líder isolada no país asiático, hoje divide espaço com BYD e Tesla, vendo sua fatia encolher ano após ano. Ou seja, a marca enfrenta ataque tanto em casa quanto no exterior.
A resposta de Wolfsburg
Para reagir, a Volkswagen prepara uma série de medidas estratégicas:
- Redução de custos internos com corte de milhares de empregos e racionalização de modelos.
- Aposta em software próprio para diferenciar a experiência digital dos carros.
- Lançamento de elétricos populares para enfrentar diretamente os chineses no campo de preço.
- Alianças estratégicas com fornecedores europeus para tentar reduzir dependência de insumos asiáticos.
Ainda assim, analistas apontam que a marca enfrenta um dilema: acelerar a eletrificação para competir com BYD e Tesla, mas sem perder rentabilidade. Cada passo em falso pode custar bilhões.
A Volkswagen, que já representou o auge da indústria automotiva europeia, agora vive uma das maiores provas de fogo de sua história recente. Tarifas bilionárias, queda de participação e pressão chinesa colocam sua liderança em xeque. Defender a coroa europeia nunca custou tão caro — e a batalha só está começando.
Se conseguir atravessar essa tempestade, a Volkswagen sairá mais enxuta e preparada para a guerra global dos elétricos. Mas se vacilar, pode ver rivais asiáticos assumirem definitivamente um espaço que parecia intocável. O futuro da marca alemã está em jogo.