Novo método usa desinfetante comum e polímero reciclável para recuperar ouro de lixo eletrônico sem produtos tóxicos como mercúrio e cianeto.
Na busca por soluções mais sustentáveis, cientistas da Universidade Flinders, na Austrália, criaram um método inovador para recuperar ouro de lixo eletrônico sem causar danos à saúde humana ou ao meio ambiente.
A descoberta pode representar um novo caminho para a reciclagem de metais preciosos de forma segura, eficiente e ecológica.
O ouro escondido nos eletrônicos
Aparelhos eletrônicos como celulares, computadores e carregadores contêm pequenas quantidades de ouro. Esse metal é usado por sua alta condutividade elétrica e resistência à corrosão.
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Embora a quantidade em cada aparelho seja mínima, o volume acumulado em milhões de dispositivos descartados torna o lixo eletrônico uma fonte valiosa de ouro.
No entanto, a extração tradicional desse ouro envolve o uso de produtos tóxicos, como mercúrio e cianeto. Essas substâncias causam poluição ambiental grave e riscos à saúde.
Isso é especialmente problemático em atividades de mineração artesanal, ainda comuns em países em desenvolvimento.
Uma alternativa mais limpa
O novo método desenvolvido pela equipe da Universidade Flinders elimina o uso desses produtos tóxicos. Os cientistas utilizaram ácido tricloroisocianúrico (TCCA), o mesmo químico usado para desinfetar piscinas, misturado à água salgada. Essa solução consegue dissolver o ouro presente em placas de circuito quebradas e minérios.
O passo seguinte envolve um polímero rico em enxofre, que atua como uma esponja seletiva para o ouro. Esse material captura o metal dissolvido e permite que ele seja separado dos outros componentes presentes na solução.
Segundo o professor Justin Chalker, um dos autores da pesquisa, o objetivo do trabalho é oferecer uma alternativa eficaz e segura à extração tradicional de ouro. “Queremos apoiar os muitos usos do ouro, reduzindo os impactos ambientais e na saúde humana”, afirmou.
Polímero reutilizável e processo eficiente
O diferencial da nova técnica está também na reutilização do polímero. Após a coleta do ouro, o polímero é ativado quimicamente para liberar o metal e, depois, pode ser reconstituído e utilizado novamente. Isso reduz o desperdício e torna o processo ainda mais sustentável.
Outro ponto importante é que a fabricação desse polímero também é ecológica. A equipe utiliza luz ultravioleta para iniciar a reação química necessária para criar o material, evitando o uso de substâncias poluentes.
Os testes em laboratório foram bem-sucedidos, e os pesquisadores também experimentaram a técnica com lixo eletrônico real. Peças de computadores e pentes de memória RAM foram processados com sucesso. Até mesmo resíduos de experimentos científicos serviram como base para extração de ouro com esse método.
“Pegamos um monte de lixo eletrônico e conseguimos um bloco de ouro. É impressionante! Espero que essa pesquisa gere soluções reais para problemas urgentes do mundo”, afirmou Harshal Patel, pesquisador associado da equipe.
Benefícios para a mineração de pequena escala
O novo processo é especialmente promissor para pequenas operações de mineração, que atualmente dependem de métodos perigosos e poluentes. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a mineração artesanal e em pequena escala responde por cerca de 38% das emissões globais de mercúrio causadas pelo ser humano.
Com a técnica baseada no TCCA, esse tipo de mineração pode ser transformado. Ao dispensar o uso de mercúrio e cianeto, o processo evita riscos à saúde de trabalhadores e contaminação de solos e águas.
Além disso, a mineração tradicional exige etapas como perfuração, detonação e britagem, que consomem grandes quantidades de energia. Isso contribui para a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global.
Impacto ambiental positivo
A diferença no impacto ambiental é expressiva. Segundo um relatório citado pela equipe, a produção de apenas um quilo de ouro por métodos tradicionais libera mais de 20 mil quilos de CO2 na atmosfera.
Já o novo método evita essas etapas pesadas, reduzindo tanto o uso de energia quanto as emissões de carbono. Isso representa um avanço significativo na busca por processos mais sustentáveis na indústria da mineração.
A recuperação de ouro a partir do lixo eletrônico, sem necessidade de escavação ou uso de combustíveis fósseis, torna-se uma alternativa real diante da crescente demanda por esse metal. Ele é cada vez mais utilizado em eletrônicos, equipamentos médicos e tecnologias espaciais.
A equipe da Universidade Flinders agora busca parcerias para ampliar a escala da aplicação. O objetivo é adaptar o processo para o tratamento de grandes quantidades de lixo eletrônico, além de testá-lo com minérios extraídos diretamente de minas.
Já existem colaborações em andamento com pesquisadores do Peru e dos Estados Unidos. A intenção é aplicar o método em contextos reais de mineração artesanal, onde o uso de mercúrio ainda é comum.
Com isso, os cientistas esperam contribuir para a mudança dos métodos de extração de ouro usados atualmente, promovendo alternativas mais limpas e acessíveis ao redor do mundo.
O estudo foi publicado na revista Nature Sustainability e representa um passo importante rumo à mineração sustentável. Se adotado em larga escala, o método pode ajudar a preservar o meio ambiente e proteger a saúde de milhares de pessoas envolvidas na cadeia de extração de ouro.
O estudo foi publicado na revista Nature Sustainability.