A energia elétrica é tão presente em nosso dia a dia que se tornou invisível. Nós acendemos a luz, carregamos o celular e ligamos a TV sem pensar nos complexos princípios de física por trás de cada ação. E, como tudo que se torna comum, a eletricidade é cercada por “sabedorias populares”, dicas de família e, claro, muitas fake news.
Mas quando se trata de algo com tanto potencial de risco, a desinformação pode ser perigosa, e uma pequena gambiarra no ambiente de trabalho ou crença errada dentro de casa podem resultar em fatalidades. Por isso, separamos 5 dos mitos mais comuns sobre eletricidade e explicamos o que é verdade e o que fazer. Confira.
1. Dormir com o celular carregando
● Mito: “Deixar o celular carregando na cama durante a noite inteira vai viciar a bateria ou pode causar uma explosão.”
● Verdade: Este é um dos medos mais comuns, mas a realidade é um pouco diferente. Os smartphones e carregadores modernos, desde que certificados pela ANATEL, são projetados com circuitos inteligentes que interrompem o envio de energia assim que a bateria atinge 100%. O verdadeiro vilão não é o tempo de carga, mas a qualidade do carregador e do cabo. Produtos piratas ou danificados não possuem os mesmos mecanismos de segurança, podendo superaquecer. O risco real é o abafamento: carregar o aparelho debaixo de travesseiros ou lençóis impede a dissipação do calor, elevando a temperatura e, em casos extremos, gerando risco de incêndio.
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Este problema se tornou ainda mais comum graças à tendência de novos aparelhos que não possuem carregador oficial na caixa, obrigando o consumidor a comprar um carregador por conta própria. O padrão de cabos USB tipo C com o protocolo PD, usados pela imensa maioria de smartphones, fones de ouvido e baterias portáteis modernas, é projetado para negociar a potência de carregamento com base nas capacidades dos aparelhos, espessura dos cabos e até mesmo temperatura da bateria, tornando todo o procedimento mais seguro. Por isso, basta que o consumidor se atente para comprar cabos e carregadores certificados de marcas verdadeiras, mesmo que isso signifique um custo maior em um primeiro momento.
As baterias modernas, baseadas em íons de lítio, também não sofrem do “efeito memória” e não precisam ser carregadas até 100% o tempo inteiro – mas ao longo dos anos, sofrem um desgaste natural e passam a durar menos tempo.
2. A Multiplicação das tomadas (o “Benjamin” ou “T”)
● Mito: “Se os plugues cabem no ‘benjamin’, posso ligar vários aparelhos ao mesmo tempo sem problema.”
● Verdade: Cada tomada em sua parede foi projetada para suportar uma carga elétrica máxima, que está ligada à fiação dentro da parede. Um adaptador tipo “T” ou uma régua simples apenas multiplicam as entradas, mas não a capacidade da tomada. Ao conectar diversos aparelhos, você pode facilmente causar uma sobrecarga. É como tentar forçar o tráfego de uma avenida inteira por uma única rua. O resultado é o superaquecimento dos cabos dentro da parede, um perigo silencioso que é uma das principais causas de incêndios residenciais.
A sobrecarga em uma régua de tomadas, cabo de extensão ou benjamin é uma das principais causas de acidentes elétricos, principalmente diante das novas demandas energéticas: um quarto gamer, por exemplo, pode conectar um computador de alta performance, diversos acessórios, luzes RGB decorativas e uma série de outros equipamentos em uma única régua de tomadas. Empresas, por outro lado, exigem cada vez mais computadores, câmeras, ventiladores, e uma série de dispositivos presentes na estação de trabalho de cada colaborador.
Em casa, é importante confirmar a corrente máxima permitida em cada circuito e comprar réguas de tomada com fusível e capacidade compatíveis com esse valor. Para empresas, é imprescindível a contratação de um profissional eletricista e a total conformidade com as normas regulamentadoras brasileiras, como a NR 10 explicada pela Engehall, que trata especificamente do trabalho com eletricidade.
3. Choque elétrico em casa não é perigoso
● Mito: “Um choque na tomada comum de casa ou do trabalho (127V ou 220V) é só um susto, não chega a ser fatal, por isso não é perigoso tentar resolver problemas elétricos sozinho.
● Verdade: Esta é, talvez, a mais perigosa de todas as falsas verdades. O que torna um choque elétrico letal não é apenas a tensão (medida em Volts), mas também a corrente elétrica (medida em Amperes) que atravessa o corpo, o caminho que ela percorre e o tempo de exposição. Uma corrente relativamente baixa, passando pelo peito, pode causar uma parada cardíaca (fibrilação ventricular). Se um contato acidental em casa já representa um risco grave, imagine em um ambiente profissional, onde a exposição ao risco é constante e as potências envolvidas são maiores.
Aprender e ter confiança na realização de pequenos reparos domésticos é uma habilidade importante e muito útil para o cotidiano, no entanto, isso não pode se transformar em uma atitude despreocupada ou displicente ao lidar com aspectos perigosos como a energia elétrica. Em especial, “gambiarras”, componentes fora do padrão, e reparos avançados na rede elétrica não devem ser feitos por amadores – mesmo guiados por websites ou tutoriais no YouTube. As normas regulamentadoras, normas técnicas da ABNT e outras exigências legais são formuladas justamente para prevenir acidentes que, infelizmente, continuam fazendo milhares de vítimas anualmente, e portanto, não podem ser ignoradas.
4. O equipamento do “Eletricista Amador”
● Mito: “Para fazer um pequeno reparo elétrico, uma luva de borracha grossa já me protege de tudo.”
● Verdade: No mundo profissional, a segurança é uma ciência. Aquela luva de borracha amarela de lavar louça não oferece proteção alguma contra choques elétricos. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para eletricistas são tecnicamente projetados, possuem diferentes “classes” de isolamento para diferentes níveis de tensão e precisam passar por inspeções rigorosas para garantir que não tenham furos ou desgastes. Além disso, as luvas são apenas a última barreira em uma série de procedimentos que incluem planejamento, análise de risco e, o mais importante, a desenergização do circuito.
5. O Circuito desligado no disjuntor
● Mito: “Se eu desliguei o disjuntor geral, o circuito está ‘morto’ e é totalmente seguro trabalhar.”
● Verdade: Desligar um disjuntor é apenas o primeiro passo. Em um ambiente de trabalho profissional e seguro, isso é totalmente insuficiente. Outra pessoa, sem saber do seu serviço, pode religar o disjuntor, energizando o circuito e causando um acidente fatal. O procedimento correto envolve o Bloqueio (colocar um cadeado físico no disjuntor que só o trabalhador pode remover), a Sinalização (um cartão de aviso informando sobre a manutenção) e, crucialmente, o Teste de Ausência de Tensão com um instrumento apropriado (como um multímetro) para confirmar que o circuito está, de fato, sem energia antes de qualquer contato.
Como vimos, a eletricidade não aceita improvisos. Tanto em casa quanto no ambiente de trabalho, é necessário possuir conhecimento sobre as ferramentas, aparelhos e protocolos a serem seguidos, e na dúvida, o ideal é o treinamento especializado e contratação de um profissional qualificado para os reparos e decisões.