Relatório europeu mostra mudança histórica nos pedidos de asilo, com venezuelanos assumindo a liderança, ultrapassando sírios e alterando os principais destinos escolhidos no bloco. Espanha e França despontam como novos polos de acolhimento.
A Agência da União Europeia para o Asilo (EUAA) informou que, no primeiro semestre de 2025, venezuelanos se tornaram pela primeira vez a nacionalidade com mais pedidos de proteção no bloco europeu, superando os sírios após uma década de liderança.
No mesmo período, França e Espanha passaram a concentrar o maior número de solicitações, deixando a Alemanha na terceira posição.
Virada inédita no perfil dos pedidos
O levantamento da EUAA aponta 399 mil pedidos de refúgio entre janeiro e junho, uma queda de 23% em relação ao mesmo intervalo de 2024.
-
Economista Paulo Guedes denuncia em 2025: juros altos que matam empresas no Brasil vêm do gasto público descontrolado e não do Banco Central, alerta histórico
-
INSS no banco dos réus: com quase 4,5 milhões de processos, o instituto é o maior alvo da Justiça, e a culpa vai muito além do balcão
-
Governo dos EUA desaconselha investir no Brasil por causa de “juízes fora de controle” e ameaça a empresas americanas, diz diretor da Casa Branca
-
iPhone 17 Pro Max a R$ 18.500: Tudo o que você poderia comprar no lugar; Será que realmente vale o preço?
A mudança é explicada principalmente pelo recuo expressivo de solicitações de sírios, que perderam a liderança histórica.
Em contrapartida, os venezuelanos avançaram e ocupam agora o topo do ranking de nacionalidades.
Ainda que o volume total tenha diminuído, o sistema europeu segue pressionado.
Ao fim de junho, 918 mil processos aguardavam decisão na primeira instância, o que evidencia o acúmulo de casos nos serviços nacionais.
França e Espanha ultrapassam a Alemanha
Pela primeira vez em anos, a Alemanha deixou de ser o principal destino.
França recebeu 78 mil pedidos no semestre e a Espanha, 77 mil.
Já a Alemanha somou 70 mil solicitações e caiu para o terceiro lugar.
Em termos proporcionais, a Grécia ficou no topo: houve um pedido para cada 380 habitantes, sinal de pressão acima da média sobre sua capacidade de acolhimento.
Por que os venezuelanos migraram para a UE
A Espanha consolidou-se como o destino preferencial dos venezuelanos na União Europeia.
Segundo a agência, 93% das solicitações dessa nacionalidade foram registradas em território espanhol no primeiro semestre.
A língua comum, redes de diáspora já estabelecidas e políticas nacionais voltadas à escassez de mão de obra ajudam a explicar a escolha.
Outro fator citado por autoridades europeias é o endurecimento das regras migratórias nos Estados Unidos desde o início de 2025, o que levou parte dos venezuelanos a buscar alternativas legais na Europa.
Ao mesmo tempo, persistem as razões que impulsionam a saída da Venezuela, como crise econômica e ambiente político adverso.
Queda dos sírios e impacto nas decisões
A retração nas solicitações de sírios alterou não apenas o ranking por nacionalidade, mas também os resultados dos processos.
A taxa de reconhecimento caiu para 25%, o patamar mais baixo já registrado pela EUAA para um semestre.
A agência atribui o movimento, sobretudo, a efeitos estatísticos: em vários países europeus, o processamento de pedidos de sírios foi temporariamente suspenso ou retirado pelos próprios requerentes, o que entra nas estatísticas como resultado negativo.
Não se trata, necessariamente, de um endurecimento uniforme das políticas de acolhimento.
Outras nacionalidades em destaque
O semestre também registrou volumes relevantes de afegãos e venezuelanos no topo das solicitações.
Houve avanço de grupos como haitianos e congoleses (RDC) em comparação com períodos anteriores.
Enquanto isso, turcos e bangladeshis apresentaram recuo em parte dos países.
O quadro mostra que a pressão sobre os sistemas nacionais varia conforme rotas, contextos regionais e políticas migratórias específicas.
O que muda com o Pacto de Migração e Asilo
A União Europeia aprovou, em 2024, uma reforma ampla do sistema de migração e asilo.
As novas regras entram em aplicação a partir de junho de 2026 e incluem procedimentos obrigatórios de fronteira, prazos mais curtos para análise de pedidos e um mecanismo de solidariedade entre Estados-membros.
Em linhas gerais, países poderão acelerar a tramitação de solicitações provenientes de nacionalidades com baixa taxa de reconhecimento, ao mesmo tempo em que se reforça a divisão de responsabilidades dentro do bloco.
Enquanto a transição não se completa, a Comissão Europeia e a EUAA trabalham com governos nacionais para padronizar triagens na fronteira, organizar centros de recepção e reduzir gargalos na etapa de decisão.
O objetivo declarado é desafogar os sistemas, evitar deslocamentos secundários e garantir que casos sem perspectiva de proteção sejam resolvidos com maior celeridade, sem suprimir o direito de pedir asilo.
Brasil perde protagonismo no fluxo recente
Durante anos, países da América do Sul — entre eles o Brasil — figuraram entre rotas relevantes para quem deixava a Venezuela.
Nos últimos meses, porém, a atenção dos solicitantes se deslocou para a União Europeia, sobretudo para a Espanha, que passou a concentrar a esmagadora maioria dos pedidos de venezuelanos.
Para especialistas, esse realinhamento não elimina a importância dos países vizinhos, mas indica que, em 2025, a via europeia ganhou peso e atratividade na decisão de parte dos migrantes.