Raízen vende 55 usinas de geração distribuída por R$ 600 milhões, redireciona foco para negócios estratégicos e impulsiona consolidação do setor energético brasileiro.
A Raízen, gigante do setor sucroenergético e uma das maiores empresas de energia do país, anunciou uma venda histórica que movimenta o mercado energético brasileiro: a transferência de 55 usinas de geração distribuída por um valor estimado em R$ 600 milhões. O negócio, que envolve a Thopen Energia e o Grupo Gera, marca um movimento estratégico de desinvestimento da companhia, que busca reforçar seu caixa, reduzir o endividamento e concentrar esforços em áreas consideradas prioritárias, como a produção de açúcar, etanol e a distribuição de combustíveis.
O acordo prevê a transferência de 44 usinas para a Thopen e outras 11 para o Grupo Gera, totalizando uma capacidade nominal instalada de 142 megawatt-pico (MWp). Segundo a Raízen, os pagamentos serão realizados de forma escalonada, à medida que os ativos forem oficialmente transferidos, com conclusão prevista até março de 2026. O anúncio reforça a estratégia de “reciclagem de portfólio” e ocorre em um momento de maior consolidação no segmento de geração distribuída de energia no Brasil.
Raízen geração distribuída: reposicionamento estratégico em curso
A decisão de vender parte significativa de seus projetos de geração distribuída não é um movimento isolado. Nos últimos anos, a Raízen vem promovendo ajustes em sua estratégia, concentrando-se em negócios de maior rentabilidade e desalavancando sua estrutura financeira. O balanço mais recente mostrou que a dívida líquida da companhia superou os R$ 30 bilhões na safra 2024/2025 — um patamar que exige decisões assertivas para manter a saúde financeira.
-
Nova fábrica em Pindamonhangaba vai dobrar produção de transformadores e consolidar ainda mais o Brasil como líder em transição energética
-
Brasil precisa de R$ 278 bilhões em infraestrutura em 2025 — iniciativa privada deve investir 72% para evitar colapso em energia, transporte e saneamento
-
Com investimento de US$ 4 bilhões e geração de 13 mil empregos, nova fábrica de celulose da Bracell deve começar a ser construída em fevereiro de 2026 no MS
-
Engenharia perde força no Brasil: jovens rejeitam carreira e déficit cresce exponencialmente
A saída parcial do setor de geração distribuída reforça o foco da empresa em seus negócios tradicionais e de maior escala, como biocombustíveis, açúcar e etanol. Além disso, a Raízen anunciou recentemente a descontinuidade das operações da usina Santa Elisa, em São Paulo, e a venda de contratos de cana, outro indicativo de um reposicionamento amplo de portfólio.
Desinvestimento de energia e movimentação de mercado
O desinvestimento da Raízen chega em um momento em que a geração distribuída passa por transformações relevantes no Brasil. Segundo levantamento da consultoria Greener, o número de usinas transacionadas no primeiro semestre de 2025 foi quase 40% maior que no mesmo período do ano anterior, saltando de 90 para 125 ativos. Esse aumento reflete um ambiente de maior competição e a saturação de projetos “greenfield” — construídos do zero — o que tem levado empresas a priorizarem fusões e aquisições em vez de novos desenvolvimentos.
Entre os protagonistas dessa consolidação estão companhias apoiadas por grandes fundos de investimento, como Brasol, que tem Siemens e BlackRock como acionistas, e a Élis Energia, do Pátria Investimentos. A Thopen, compradora do maior lote de usinas da Raízen, integra o grupo Pontal Energy, controlado pela gestora norte-americana Denham Capital.
Transação de R$ 600 milhões: efeito direto na Thopen e no Grupo Gera
Com a compra de 44 usinas, a Thopen ampliará seu portfólio para 165 ativos sob gestão, totalizando 550 MWp até o final de 2025. Segundo a própria empresa, essa aquisição eleva para R$ 1,5 bilhão o volume investido somente em 2025, após outras três transações realizadas neste ano.
Já o Grupo Gera, que ficará com 11 usinas, fortalece sua atuação na geração distribuída solar, um segmento que, apesar de estar em processo de consolidação, ainda é altamente pulverizado e com grande potencial de crescimento em nichos específicos.
Mercado energético brasileiro: mudanças e novas tendências
O mercado de geração distribuída no Brasil vem passando por uma expansão expressiva nos últimos anos. Pequenos sistemas, como painéis em telhados e fachadas, cresceram rapidamente, apoiados por incentivos tarifários e políticas públicas, e já somam mais de 40 gigawatts (GW) de capacidade instalada no país.
Contudo, esse crescimento acelerado também trouxe desafios. O setor vive um momento de reavaliação das regras de compensação de energia, competição acirrada entre players e um movimento intenso de aquisições, criando um ambiente de consolidação. Para empresas como a Raízen, que possuem um portfólio diversificado, a decisão de vender ativos se encaixa em um movimento de simplificação e busca por maior eficiência financeira.
Raízen foca em negócios estratégicos e reforça posição no setor de biocombustíveis
Embora a venda das 55 usinas represente uma redução na presença da Raízen no segmento de geração distribuída, ela não significa uma saída definitiva do setor energético. Pelo contrário, a companhia reforça sua atuação em áreas nas quais já possui liderança consolidada, como a produção de etanol, bioenergia e a distribuição de combustíveis, pilares centrais da sua operação.
Essa escolha estratégica dialoga com um cenário em que o Brasil busca diversificar sua matriz energética, equilibrando fontes renováveis, eólica, solar e biocombustíveis. A Raízen, que já é uma das maiores produtoras de etanol do mundo, aposta que concentrar recursos nesses segmentos trará maior retorno e ajudará a reduzir a dívida bilionária.
Um negócio que mexe com a estrutura do setor
O impacto da transação vai além dos R$ 600 milhões envolvidos. Ao transferir 55 usinas e encerrar a joint venture com o Grupo Gera, a Raízen envia um recado ao mercado: está disposta a abrir mão de posições em setores emergentes para reforçar sua base em áreas consolidadas e de alto valor agregado.
Para a Thopen, que absorve a maior parte dos ativos, a operação representa um salto em participação de mercado, consolidando a empresa como um dos principais players de geração distribuída no país. O Grupo Gera também ganha força, em um setor que tende a se concentrar cada vez mais em mãos de poucos operadores de maior porte.
A venda histórica de 55 usinas de geração distribuída pela Raízen marca um momento decisivo para a companhia e para o setor elétrico nacional. De um lado, a empresa avança em sua meta de desalavancar a estrutura financeira e reforçar negócios centrais. Do outro, o mercado de geração distribuída segue seu caminho de consolidação, com players como Thopen e Gera expandindo agressivamente.
Essa movimentação sinaliza um futuro em que as fronteiras entre os segmentos energéticos estarão cada vez mais dinâmicas, e decisões estratégicas como a da Raízen podem redesenhar o equilíbrio de forças em um dos mercados mais promissores do país.