Mina Capanema volta à produção após mais de duas décadas parada, com investimentos bilionários, tecnologia de transporte autônomo e foco no reaproveitamento de rejeitos em operação sem barragens. Projeto simboliza nova fase da mineração em Minas Gerais.
A mineradora Vale retomou nesta quarta-feira (4) a operação da Mina Capanema, em Ouro Preto (MG), após mais de duas décadas de paralisação.
O investimento total de R$ 5,2 bilhões foi destinado à modernização da unidade e à sua integração logística com outras operações no quadrilátero ferrífero.
A informação foi divulgada segundo a agência Reuters, que acompanhou a cerimônia de reabertura.
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Reativação em duas etapas
A volta das atividades ocorrerá de forma gradual. No primeiro momento, o foco é o reaproveitamento de pilhas de estéril, acumuladas em ciclos passados de produção.
Esse processo deve se estender por até três anos. Só depois será iniciada a lavra direta do corpo mineral de Capanema.
A meta inicial é recuperar cerca de 15 milhões de toneladas por ano de rejeitos, prática alinhada à política de mineração circular da companhia.
O material reprocessado é transportado por um correia de longa distância até a usina de Timbopeba, onde passa por beneficiamento.
A solução reduz o tráfego de caminhões e otimiza o escoamento pela Estrada de Ferro Vitória-Minas até o Porto de Tubarão, no Espírito Santo.
Operação sem barragens e com automação
A reabertura introduz um modelo produtivo diferente do adotado no passado. Todo o beneficiamento será feito a seco, eliminando a necessidade de barragens de rejeito.
Além disso, a mina passa a contar com caminhões fora de estrada autônomos, que transportam o minério das pilhas até a correia transportadora.
Durante a solenidade, o presidente da Vale, Gustavo Pimenta, afirmou que Capanema representa uma mudança de paradigma após os rompimentos de Mariana (2015) e Brumadinho (2019).
“Em relação ao que se fazia 20 anos atrás, é um processo mais moderno e, portanto, mais eficiente”, declarou.
Investimentos e cronograma de segurança
O retorno de Capanema faz parte de um programa de R$ 67 bilhões em Minas Gerais até 2030, voltado principalmente para a filtragem e o empilhamento a seco.
A empresa busca reduzir de 30% para 20% o uso de barragens em suas operações no estado.
Atualmente, existem 13 estruturas a montante remanescentes, das quais oito estão em processo de descaracterização. O objetivo é que todas estejam inativas até 2035.
O governador Romeu Zema, presente ao evento, ressaltou o avanço das obras de descomissionamento e destacou que “a cada dia que passa, o risco em Minas é menor, mostrando que é possível conciliar mineração com segurança e preservação ambiental”.
Impactos econômicos e geração de empregos
As obras de reativação envolveram 40 empresas contratadas e mobilizaram mais de 6 mil trabalhadores no pico da implantação.
Com a retomada, a mina passa a contar com cerca de 800 empregados diretos.
A capacidade adicional deve contribuir para a meta de produção anual da Vale, estimada em 340 a 360 milhões de toneladas de minério de ferro.
A logística integrada com Timbopeba foi apontada pela empresa como essencial para reduzir custos operacionais e emissões de transporte.
Conforme ressaltado pela Reuters, a conexão via correia transportadora também melhora a confiabilidade no escoamento do minério.
Perspectivas futuras
Durante a cerimônia, Gustavo Pimenta reforçou que Capanema simboliza a “nova fase da mineração em Minas”. Ele acrescentou que, no momento, não há barragens em situação de emergência no estado.
Questionado sobre uma possível entrada da Vale no mercado de terras raras, setor estratégico para a transição energética, o executivo disse que a companhia analisa oportunidades, mas não há decisão sobre diversificação em novas commodities.
A reativação de uma mina histórica, sem barragens e apoiada por tecnologias de automação, marca um ponto de virada no setor.
De acordo com a agência Reuters, o novo modelo responde diretamente às exigências de segurança impostas depois das tragédias recentes e fortalece a posição da mineradora no mercado global.