A dinâmica do dólar hoje combina ventos externos, juros, expectativas fiscais e um “valor justo” de câmbio; veja por que isso importa para decisões de curto e longo prazo
O movimento recente do dólar reacendeu a pergunta que mexe com viagens, investimentos e planejamento financeiro: vai a R$ 4,90 ou volta para R$ 6,50? Segundo o economista Fernando Ulrich, há uma combinação de forças atuando ao mesmo tempo: enfraquecimento global da moeda americana, diferencial de juros favorável ao Brasil e, do lado doméstico, sinais ainda mistos no fiscal. Quando esses vetores se somam, o câmbio tende a buscar um ponto de equilíbrio — mas ele oscila com os choques de curto prazo.
Para Ulrich, o foco deve ser separar o ruído do fundamento. Parte da queda recente é cíclica e global, outra parte vem do “carrego” de juros que atrai capital. Sem âncora fiscal crível, porém, o risco de reversão aumenta. Entender essa balança ajuda a escolher entre comprar, esperar ou fazer preço médio em moeda estrangeira.
O que está movendo o câmbio hoje
Pelo lado externo, o dólar tem se enfraquecido frente várias moedas, fenômeno que Ulrich chama de “vento favorável” para emergentes. Quando a moeda americana perde tração globalmente, países com juros altos tendem a ver suas moedas apreciarem, e o real entra nesse grupo.
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No Brasil, o diferencial de juros (“carrego”) segue elevado, enquanto lá fora os cortes começaram. Ulrich observa que juros domésticos altos somados a juros em queda nos EUA aumentam a atratividade do real para fluxos financeiros de curto prazo. Esse carrego reforça a tendência de apreciação cambial — se o resto do quadro ajudar.
Taxa de câmbio de equilíbrio: o “valor justo” do real
Ulrich usa a paridade do poder de compra (PPC) para estimar um câmbio de equilíbrio, uma espécie de “força gravitacional” para a qual o preço de mercado tende a convergir no tempo. Em agosto, o mercado rondava R$ 5,45 enquanto o equilíbrio estava perto de R$ 5,72, diferença que ele estimou em cerca de 13,4%; com cotações em torno de R$ 5,27, o desvio cairia para perto de 10%.
O recado prático: quando o dólar se afasta muito do equilíbrio — para cima ou para baixo — a tendência é de reaproximação, se não houver novos choques. Isso não é previsão de curto prazo, mas um norte de fundamentos para evitar decisões emocionais.
Fiscal e política: o fiel da balança
No diagnóstico de Ulrich, o fiscal é o grande “se” do cenário. A percepção de ajuste e estabilidade reduz prêmios de risco e abre espaço para real mais forte. Sem ajuste, o risco é de reprecificação rápida e dólar de volta a R$ 6,00–R$ 6,50.
Por ora, ele descreve um ambiente de “calmaria relativa” que permitiu a melhora do câmbio, mas frisa que a trajetória futura depende do compromisso com as contas públicas. Ou seja: fundamentos ajudam, mas o fiscal decide a duração do alívio.
Balanço de pagamentos e reservas: o colchão que conta
Ulrich lembra que, apesar de saídas líquidas em 12 meses, houve melhora recente no balanço de pagamentos. As reservas internacionais voltaram à casa de US$ 350 bilhões em agosto, após recuperação neste ano.
Reservas mais altas funcionam como seguro, reduzem a percepção de fragilidade e dão tempo para o mercado ajustar preços sem pânico.
Big Mac Index e outras bússolas
Como “checada” adicional, Ulrich cita o Big Mac Index, que aponta o real subvalorizado em cerca de 28% frente ao dólar na leitura de julho.
É um indicador simples, mas útil para sugerir direção: na média histórica, há espaço para o real valorizar mais quando os choques se dissipam. Não é regra mecânica, e sim uma bússola entre várias.
E agora: compro dólar ou espero? Estratégias por objetivo
Para quem tem data marcada (viagem, matrícula, despesas em moeda forte), Ulrich recomenda a compra escalonada aproveitando quedas, fazendo preço médio. Objetivo claro e prazo curto pedem execução, não adivinhação.
Para quem quer dolarizar patrimônio como proteção de longo prazo, a mensagem é semelhante: construir posição ao longo do tempo, sem tentar acertar o fundo. A diversificação é uma decisão estrutural, não tática. Se o dólar cair mais, o preço médio melhora; se subir, você já não ficou 100% descoberto.
O “placar” hoje soma dólar global mais fraco, carrego favorável e melhora recente nas reservas — mas o fiscal continua sendo o ponto decisivo, como frisa Fernando Ulrich. Se o compromisso com o ajuste permanecer, há espaço para o real respirar; se esfarelar, o risco é de retorno rápido a patamares mais altos.
Você está comprando dólar aos poucos ou preferiu esperar? Se o câmbio for a R$ 4,90 você muda sua estratégia? E se voltar para R$ 6,50? Conte nos comentários como você está se protegendo — queremos ouvir a experiência de quem sente isso no bolso.