Escolas particulares de São Paulo e Rio lideram os aumentos, com altas que chegam a 12,5%; famílias já se antecipam para negociar descontos e segurar custos
As famílias brasileiras já precisam se preparar para um início de ano mais pesado no orçamento. Um levantamento do Grupo Rabbit, consultoria especializada em instituições privadas de ensino, aponta que as mensalidades escolares em 2026 terão aumento médio de 9,8%, um percentual que representa mais que o dobro da inflação prevista para este ano, estimada em 4,83% pela pesquisa Focus do Banco Central.
Esse patamar supera inclusive os índices praticados nos últimos anos. Em 2023, o reajuste médio foi de 9,3% e, em 2024, chegou a 9,5%. Agora, a alta deverá ser sentida de forma ainda mais intensa, pressionando os responsáveis a reverem prioridades financeiras e a anteciparem negociações com os colégios.
O que pesa nos cálculos das escolas privadas
De acordo com Christian Coelho, CEO da Rabbit, três fatores principais explicam a alta das mensalidades: a inflação acumulada de 5,13% nos últimos 12 meses até agosto, os investimentos em infraestrutura e tecnologia realizados no período anterior e o reajuste salarial de professores e funcionários administrativos.
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“O grande custo das escolas está na manutenção e em novos investimentos, como a implementação de programas bilíngues e projetos socioemocionais, que exigem maior especialização e recursos”, destacou o consultor.
O impacto, no entanto, varia de acordo com a região e com a estratégia de cada instituição. O jornal O Globo recebeu circulares de 15 escolas no Rio de Janeiro e em São Paulo, revelando percentuais que vão de 6,5% a até 12,5%.
Exemplos no Rio de Janeiro: altas de até 12,5%
No Rio, o reajuste mais elevado foi identificado no Saint John, na Barra da Tijuca, que definiu um aumento entre 8,5% e 12,5%, dependendo da data de renovação da matrícula. A escola foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou.
Já o Inovar Veiga de Almeida, também na Barra, aplicará reajustes de 7% a 11%, justificando a decisão pelo aumento salarial de professores, manutenção de infraestrutura e despesas com papelaria. “Optamos por uma tabela progressiva para incentivar rematrículas antecipadas e, assim, obter melhores margens de negociação com fornecedores”, explicou Tainá Magaldi, diretora financeira da instituição.
Outros colégios também confirmaram aumentos significativos. O Franco, em Laranjeiras, adotará uma correção linear de 9,97% em todas as séries. A direção reforçou que o percentual pode parecer maior em algumas famílias, principalmente nos casos em que os alunos migram de segmento, como do 5º para o 6º ano, quando há novos serviços e recursos pedagógicos incluídos.
São Paulo tem reajustes ainda mais altos em escolas tradicionais
Na capital paulista, os aumentos também assustam os pais. O Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, comunicou um reajuste de 11,5%, justificando o índice pelo crescimento nos custos do setor educacional e pelos investimentos contínuos em infraestrutura, tecnologia e projetos pedagógicos.
Já o Objetivo, que possui 14 unidades em São Paulo e na Região Metropolitana, aplicará aumentos que variam de 7,5% a 9,2%, conforme a série e o nível de ensino. Em nota, a instituição destacou que leva em conta o dissídio coletivo dos professores, o aumento nos aluguéis e insumos, além da capacitação contínua dos profissionais.
Outros colégios confirmaram reajustes entre 6,5% e 9,8%, como o Edem, o CEL, o PH, a Sá Pereira e o Santa Mônica, que justificaram os índices com base em planilhas de custos projetados para 2026.
Endividamento e impacto da pandemia ainda pesam no setor
Segundo Christian Coelho, do Grupo Rabbit, a pressão por reajustes acima da inflação também está ligada às perdas financeiras acumuladas durante a pandemia. Uma pesquisa realizada pela consultoria mostra que 70% das escolas particulares estão hoje mais endividadas do que em 2020, quando as aulas remotas provocaram queda no número de matrículas e descontos generalizados nas mensalidades.
A inadimplência também é um fator relevante. Entre janeiro e abril deste ano, a taxa variou de 4,8% a 5,4%, mas algumas redes registram índices muito mais elevados. O Progressão, com unidades na Zona Norte e Baixada Fluminense, chega a 20% de atraso nos pagamentos. Para 2026, a rede anunciou reajuste de 9%, mesmo após ter reduzido as mensalidades em 40% desde 2020.
Apesar das dificuldades financeiras, 70,5% das escolas planejam investir em programas bilíngues e projetos socioemocionais no próximo ano, enquanto 52% prometem melhorar a infraestrutura, incluindo pintura, troca de mobiliário e atualização de equipamentos de informática.
Pais buscam negociar antes da virada do ano
Diante desse cenário, muitas famílias estão se antecipando. A empresária Cristiane Krassuski, de 40 anos, decidiu trocar as filhas de colégio ainda em 2025 para garantir a tabela vigente e evitar o impacto do reajuste. “Já começo a pagar antes porque além da mensalidade existem outras despesas, como matrícula, material e livros. Com planejamento conseguimos melhores condições de negociação”, contou.
Especialistas orientam que pais e responsáveis busquem diálogo direto com as escolas. Segundo o economista André Braz, do Ibre/FGV, casos como alunos com excelente desempenho acadêmico ou irmãos matriculados na mesma instituição podem abrir espaço para descontos ou congelamento temporário do reajuste.
O ZeroHum, por exemplo, anunciou aumento de 11%, mas o sócio-diretor Paulo Pereira afirmou que há margem para negociação: “Estamos investindo em tecnologia, mas também enfrentamos aumentos com sistemas de ensino, salários de professores e aluguel. Ainda assim, avaliamos caso a caso para flexibilizar”.
Reajuste será o dobro da inflação prevista
Com ainda três meses até o fim de 2025, o cenário é claro: as mensalidades escolares em 2026 terão um reajuste médio de 9,8%, praticamente o dobro da inflação oficial projetada em 4,83% pelo Banco Central. A estimativa, baseada em levantamento nacional do Grupo Rabbit, mostra que os custos da educação privada continuarão a pressionar fortemente o orçamento das famílias brasileiras.
Para quem ainda não se antecipou, a recomendação é avaliar contratos, comparar escolas e buscar alternativas de negociação antes da virada do ano. Afinal, cada ponto percentual de reajuste representa uma diferença significativa no bolso ao longo de 12 meses de mensalidades.
Como você enxerga o peso dos reajustes escolares no planejamento financeiro das famílias brasileiras?