Movido por oito reatores nucleares, o USS Enterprise (CVN-65) foi o maior porta-aviões de sua época, com capacidade para 90 aeronaves e meio século de operações globais.
O USS Enterprise (CVN-65) foi o primeiro porta-aviões nuclear do mundo e, durante mais de meio século, representou o poder naval dos Estados Unidos em conflitos, missões diplomáticas e operações estratégicas em vários continentes. Lançado ao mar em 1960 e comissionado oficialmente em 1961, ele se tornou uma das embarcações mais icônicas da história da Marinha americana, com um custo de construção que ultrapassou US$ 451 milhões na época — o equivalente a bilhões em valores atuais.
O navio era tão avançado para seu tempo que recebeu o apelido de “Big E”, uma referência tanto à sua imponência quanto ao histórico do nome “Enterprise” na frota americana. Com 342 metros de comprimento, o USS Enterprise (CVN-65) continua sendo o maior navio militar já construído até hoje em comprimento total. Ele foi também o único de sua classe, já que os custos e a complexidade de sua propulsão nuclear impediram a construção de embarcações irmãs.
Movido por oito reatores nucleares
O principal diferencial técnico do USS Enterprise (CVN-65) era sua propulsão baseada em oito reatores nucleares do tipo A2W, construídos pela Westinghouse Electric. Essa configuração incomum permitia ao navio operar por até 25 anos sem a necessidade de reabastecimento de combustível, garantindo autonomia quase ilimitada em missões de longa duração.
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O uso de oito reatores foi uma solução para distribuir a geração de energia e manter a redundância do sistema. Cada reator fornecia energia para as quatro hélices do navio e para os sistemas embarcados, incluindo catapultas de lançamento de aviões, radares, armamentos e toda a infraestrutura elétrica da embarcação.
Essa engenharia complexa, porém, elevou o custo de construção e manutenção do navio. Em projetos posteriores, como os porta-aviões da classe Nimitz, a Marinha dos EUA adotou apenas dois reatores de maior capacidade, tornando o modelo do Enterprise único em sua configuração.
Capacidade para até 90 aeronaves
O porta-aviões nuclear era capaz de transportar até 90 aeronaves simultaneamente, entre caças, aviões de alerta antecipado, helicópteros e aviões-tanque. Sua pista de pouso e decolagem, que se estendia por quase 300 metros, podia operar múltiplas aeronaves ao mesmo tempo, graças às catapultas a vapor e cabos de frenagem.
O USS Enterprise participou de praticamente todos os grandes conflitos em que os EUA estiveram envolvidos entre 1962 e 2012. Ele esteve presente na Crise dos Mísseis de Cuba, na Guerra do Vietnã, na Guerra do Golfo, nas operações no Afeganistão e no Iraque, além de missões humanitárias e de patrulhamento internacional.
Sua capacidade de lançar aviões a qualquer hora, em qualquer lugar, fez do navio uma ferramenta estratégica de presença militar e diplomática. Durante a Guerra do Vietnã, chegou a realizar centenas de decolagens por dia. Em tempos de paz, servia como símbolo da projeção de poder norte-americano nos oceanos.
Processo de descomissionamento e remoção dos reatores
Após mais de 50 anos de serviço ativo, o USS Enterprise (CVN-65) foi descomissionado oficialmente em 3 de fevereiro de 2017. O processo de desativação de um porta-aviões nuclear é extremamente delicado e envolve diversas etapas técnicas e ambientais, principalmente por conta da presença dos reatores nucleares a bordo.
A remoção dos reatores e o desmantelamento seguro das instalações nucleares exigem monitoramento rigoroso por agências ambientais e militares. O casco do navio permanece armazenado nos estaleiros da Newport News Shipbuilding, na Virgínia, onde a inativação completa segue até hoje, com previsão de conclusão até 2025.
O Enterprise foi o primeiro porta-aviões de propulsão nuclear a ser desativado, o que exigiu a criação de protocolos inéditos de descontaminação, desmontagem e descarte. Partes da embarcação devem ser recicladas, mas outras serão mantidas como material histórico e educacional.
Legado na engenharia naval e na estratégia militar
Mesmo após seu descomissionamento, o USS Enterprise (CVN-65) continua influente na engenharia e na doutrina naval americana. A experiência adquirida com sua construção e operação serviu de base para o desenvolvimento das classes seguintes, como a Nimitz e a Ford, que mantêm a propulsão nuclear, mas com sistemas mais eficientes e automatizados.
O nome “Enterprise” será mantido na Marinha. Um novo porta-aviões, o USS Enterprise (CVN-80), já está em construção como parte da classe Gerald R. Ford, e será o nono navio americano a carregar esse nome.
Um marco na história dos porta-aviões
O USS Enterprise (CVN-65) foi muito mais que um navio. Ele representou o ápice da engenharia naval em seu tempo e simbolizou a capacidade dos EUA de manter presença global com força aérea embarcada. Seu tamanho, potência e durabilidade o tornaram referência para toda uma geração de porta-aviões modernos.
Embora não esteja mais em serviço, seu legado permanece como um dos capítulos mais relevantes da história naval contemporânea — tanto pelo pioneirismo na propulsão nuclear quanto pela influência em missões militares ao redor do mundo.