Aplicativos de navegação prometem ajudar motoristas a evitar multas, mas dados recentes revelam que o efeito pode ser o oposto. Estudo europeu acende alerta para o uso excessivo de tecnologias no trânsito.
Aplicativos de navegação por GPS se tornaram indispensáveis para motoristas que buscam evitar congestionamentos, otimizar rotas e, sobretudo, manter o controle da velocidade com o auxílio de alertas sobre radares fixos e móveis.
Ferramentas como Waze, Google Maps e Apple Mapas também passaram a incluir velocímetro e notificações sobre o limite de velocidade da via, criando uma sensação de segurança para quem deseja evitar infrações.
No entanto, essa confiança pode aumentar o risco de multas, em vez de reduzi-lo.
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Uso de Waze e Google Maps aumenta risco de multas
Um estudo conduzido na Holanda pelo portal Independer, especializado em comparação de seguros, revelou que 41% dos motoristas que utilizaram aplicativos com alerta de radares foram multados por excesso de velocidade no último ano, enquanto apenas 19% dos condutores que não utilizam esse tipo de aplicativo sofreram sanções semelhantes.
Os dados indicam que usuários de apps de navegação têm mais que o dobro de chances de serem autuados, mesmo acreditando que estão se protegendo das fiscalizações.
A principal explicação para esse fenômeno, segundo o especialista em seguros Michel Ypma, está na falsa sensação de controle gerada pelos alertas automáticos.
Muitos condutores acabam dirigindo com mais velocidade em trechos sem notificações, por acreditarem que não há fiscalização ativa.
Essa confiança excessiva na tecnologia compromete o julgamento e favorece comportamentos de risco.
Confiança nos aplicativos reduz atenção do motorista
Ainda que o levantamento tenha se concentrado em motoristas holandeses, os padrões de comportamento identificados são considerados aplicáveis a diferentes países, inclusive o Brasil.
Isso porque o fator determinante está no hábito de transferir a atenção e a tomada de decisões ao aplicativo, o que pode reduzir a vigilância natural do condutor e comprometer a percepção do ambiente ao redor.
O uso constante de recursos tecnológicos no trânsito tem levantado preocupações entre especialistas em segurança viária.
Além de possíveis distrações, como interações com a tela do celular ou mudanças frequentes de rota, há o risco de que os motoristas passem a depender integralmente dos aplicativos para evitar penalidades, reduzindo a atenção aos limites de velocidade e à sinalização vertical.
Radares móveis escapam dos alertas
Esse comportamento, segundo estudos internacionais, pode induzir o condutor a relaxar a vigilância quando não há alerta visível na tela do aplicativo.
E mesmo quando há aviso, ele pode chegar com atraso ou falhar, especialmente em áreas com pouca cobertura de dados, sinal fraco de GPS ou onde há radares móveis — que muitas vezes não são reportados em tempo real pelos usuários.
Além disso, autoridades de trânsito têm investido em tecnologias de fiscalização que não são facilmente detectáveis por sistemas colaborativos.
Radares ocultos, câmeras de reconhecimento automático de placas e drones de monitoramento são exemplos de métodos empregados em rodovias e áreas urbanas que escapam ao alcance dos avisos emitidos por apps como Waze.
Fiscalização no Brasil é cada vez mais tecnológica
No Brasil, a fiscalização por radares eletrônicos é regida por normas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que determina a sinalização obrigatória em áreas fiscalizadas.
No entanto, radares móveis operados por agentes de trânsito ou viaturas descaracterizadas são permitidos e não necessariamente aparecem nos aplicativos em tempo real.
Dessa forma, o uso de GPS com função de alerta não garante a ausência de fiscalização no trajeto.
Além disso, sistemas mais modernos passaram a ser adotados em grandes centros urbanos.
A cidade de São Paulo, por exemplo, utiliza radares com inteligência artificial capazes de identificar padrões de comportamento, excesso de velocidade pontual, mudança irregular de faixa e avanço de sinal.
Esses dispositivos operam de forma autônoma e enviam dados diretamente para os sistemas das autoridades de trânsito, sem necessidade de ação humana, o que dificulta ainda mais sua antecipação por aplicativos.
Em alguns estados, inclusive, estão em fase de teste sistemas de monitoramento por satélite para veículos de transporte pesado, que cruzam dados de GPS com o limite de velocidade da via.
Embora essa tecnologia ainda esteja restrita a frotas e empresas de logística, a tendência é que o monitoramento inteligente avance também para veículos particulares em médio prazo.
Redução de multas depende de mudança de comportamento
A eficiência dos aplicativos de navegação, portanto, depende diretamente do modo como são utilizados.
Quando empregados como complemento à direção segura — e não como substituto da atenção —, podem sim ajudar a manter o condutor informado sobre condições da via e até evitar engarrafamentos.
Contudo, usar o GPS como única referência para escapar de multas pode expor o motorista a riscos ainda maiores.
Especialistas alertam que a redução real no número de infrações depende mais da mudança de comportamento do motorista do que de qualquer ferramenta digital.
O controle da velocidade deve ser feito de forma proativa e consciente, respeitando a sinalização e as condições do trânsito, e não apenas reagindo a alertas sonoros emitidos pelo celular.
No cenário atual, onde cada vez mais se discute o uso ético e seguro da tecnologia no trânsito, o alerta é claro: apps são úteis, mas não infalíveis.
E, conforme indicam os dados da pesquisa europeia, confiar exclusivamente neles pode gerar o efeito oposto ao desejado.
Diante desse contexto, será que os motoristas estão realmente mais protegidos ou apenas mais confiantes ao volante?