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US$ 57 milhões: Estatueta mesopotâmica se torna o artefato arqueológico mais caro da historia

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 22/06/2025 às 18:51
Estatueta
Foto: Reprodução
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Peça mesopotâmica de 8,3 cm foi arrematada por mais de US$ 57 milhões em leilão e levantou críticas sobre a perda de contexto histórico.

Uma pequena estatueta esculpida há mais de 5 mil anos se tornou o artefato arqueológico mais caro já vendido em leilão. A peça, conhecida como Leoa de Guennol, foi arrematada por mais de US$ 57 milhões em 2007, superando todos os recordes anteriores e reacendendo debates sobre o valor, a posse e o destino de peças antigas.

Esculpida por volta de 3000 a.C.

A Leoa de Guennol tem apenas 8,3 centímetros de altura, mas carrega um peso simbólico e artístico imenso. Estima-se que tenha sido esculpida por volta de 3000 a.C., em uma região próxima da atual Bagdá, no sul da antiga Mesopotâmia. Sua forma é incomum: um corpo humano musculoso com a cabeça de uma leoa.

O nome do artefato vem da Coleção Guennol, pertencente a Alastair Bradley Martin. A peça foi adquirida por ele em 1948 e ficou emprestada ao Museu do Brooklyn, em Nova York, durante décadas, antes de ser vendida. Especialistas apontam que ela representa uma figura protetora ou mágica, com forte conotação simbólica.

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Venda histórica na Sotheby’s

O leilão que marcou a venda aconteceu em 5 de dezembro de 2007, na casa Sotheby’s, em Nova York. A estatueta foi listada como o lote número 30 do leilão de antiguidades e foi arrematada por US$ 57.161.000. O comprador não teve a identidade revelada.

De acordo com o catálogo da Sotheby’s, a estatueta foi “supostamente encontrada perto de Bagdá”. Desde 1931, circulava por coleções particulares.

O fato de ter sido exibida no Museu do Brooklyn entre 1949 e 2007 elevou seu prestígio e aumentou seu valor de mercado.

Porém, o contexto arqueológico exato da peça — o local da escavação, as condições e associações com outros artefatos — é desconhecido. Isso tem gerado críticas por parte da comunidade científica, que considera essa falta de informação uma perda irreversível para a arqueologia.

Peças antigas como investimento financeiro

O caso da Leoa de Guennol não é isolado. Ele faz parte de uma tendência mais ampla de transformar objetos arqueológicos em ativos de investimento. Em um artigo de 2009, a arqueóloga Morag M. Kersel analisa como a cobertura da imprensa impulsiona o valor comercial de antiguidades, apresentando-as como investimentos lucrativos.

Pouco depois do leilão, a revista Time publicou um texto com o título “Antiguidades: O Investimento Mais Quente”. A matéria destacou a venda da estatueta como um exemplo de grande oportunidade e sugeria que investidores com menos de US$ 10.000 por ano também poderiam entrar nesse mercado.

Esse tipo de divulgação ajuda a aumentar o interesse de colecionadores e investidores, mas também causa preocupação entre arqueólogos. Muitos alertam que o incentivo à compra de peças sem origem clara acaba estimulando o saque de sítios arqueológicos e a destruição de contextos históricos importantes.

O que se perde quando o contexto é ignorado

A maior crítica relacionada à Leoa de Guennol não diz respeito ao seu valor estético ou monetário, mas sim à ausência de um contexto arqueológico confiável. Não se sabe se ela foi encontrada em uma tumba, templo ou residência. Também não há registros sobre objetos ao redor ou a função original da peça.

Sem esse tipo de informação, o valor científico da estatueta se perde. A arqueologia moderna depende do contexto das descobertas para entender sociedades antigas. Apenas a procedência comercial, como o histórico de propriedade, não substitui a documentação arqueológica precisa.

Kersel defende que peças como essa, quando desprovidas de informações essenciais, deixam lacunas irreparáveis na história humana. A falta de dados como a localização exata e a camada de escavação impede conclusões mais precisas sobre usos culturais e sociais do objeto.

Da exposição pública ao desaparecimento privado

Durante quase 60 anos, a Leoa de Guennol pôde ser vista pelo público no Museu do Brooklyn. Sua presença ali permitia que fosse estudada, fotografada e analisada por especialistas e visitantes. Após o leilão, a peça foi retirada de circulação pública e permanece nas mãos de um colecionador anônimo.

Essa mudança desperta preocupações sobre o acesso ao patrimônio. Embora alguns intelectuais defendam que a circulação privada de artefatos favorece a diversidade cultural global, na prática, muitos desses objetos desaparecem do domínio público.

A venda da Leoa de Guennol simboliza essa tensão entre os interesses do mercado de arte e o dever de preservação cultural. Quando um artefato passa a ser tratado como propriedade privada, sua função como bem coletivo pode ser comprometida.

A disputa entre valor comercial e valor cultural

A estatueta continua sendo um dos objetos mais discutidos do mundo das antiguidades. Ela representa um ponto de convergência entre arte, história, dinheiro e ética. Sua beleza e singularidade são indiscutíveis, mas seu desaparecimento do espaço público levanta dilemas sobre quem deve ter acesso ao passado da humanidade.

A arqueóloga Kersel afirma que o verdadeiro valor de um artefato está na história que ele pode contar — e essa história depende do contexto. Uma peça desconectada de suas origens se transforma em objeto decorativo ou símbolo de status, perdendo boa parte de seu significado.

A Leoa de Guennol é um exemplo extremo do que pode ocorrer quando objetos arqueológicos são vistos apenas como mercadorias. Com sua venda por mais de US$ 57 milhões, ela bateu recordes e atraiu atenção global, mas também provocou críticas e abriu discussões profundas sobre o destino do patrimônio cultural.

A pergunta final permanece em aberto: artefatos antigos devem pertencer a quem paga mais, ou à humanidade como um todo?

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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