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Uruguai acelera expansão da energia solar e investe em nova fase da transição energética

Escrito por Rannyson Moura
Publicado em 07/10/2025 às 08:03
Com mais de 94% da matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, o Uruguai inicia uma nova fase de sua transição energética e aposta na energia solar para garantir segurança e sustentabilidade diante do aumento da demanda elétrica. Fonte: IA
Com mais de 94% da matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, o Uruguai inicia uma nova fase de sua transição energética e aposta na energia solar para garantir segurança e sustentabilidade diante do aumento da demanda elétrica. Fonte: IA
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Com mais de 94% da matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, o Uruguai inicia uma nova fase de sua transição energética e aposta na energia solar para garantir segurança e sustentabilidade diante do aumento da demanda elétrica.

O Uruguai, referência latino-americana em energia renovável, está se preparando para uma nova revolução energética. Após consolidar uma matriz elétrica baseada em fontes limpas — composta por 46% de hidrelétricas, 27% de energia eólica e 19% de biocombustíveis —, o país agora volta seus esforços para fortalecer a participação da energia solar, que representa apenas 2% da geração atual.

Segundo autoridades, o plano do governo é ambicioso: expandir a capacidade fotovoltaica em 100 megawatts (MW) até 2026 e atingir 1.100 MW até 2040. O movimento faz parte da estratégia para acompanhar o crescimento da demanda elétrica e garantir a descarbonização completa até 2050.

A nova fase da transição energética uruguaia

A secretária de Energia do Ministério de Indústria, Energia e Mineração, Arianna Spinelli, explica que os estudos de expansão da geração elétrica indicaram a energia fotovoltaica e a eólica como as fontes mais adequadas para o futuro.

“Os modelos criados para elaborar os planos de expansão da geração elétrica indicaram as fontes mais adequadas a serem instaladas: a energia fotovoltaica e eólica”, afirmou Spinelli.

Um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) já havia destacado, em 2019, que o potencial geográfico do Uruguai torna a energia solar e a eólica altamente complementares. Enquanto o sol produz eletricidade durante o dia, os ventos sustentam a geração noturna — combinação que fortalece a resiliência e reduz oscilações no fornecimento.

O país possui hoje 300 MW de capacidade instalada em energia solar e 1.500 MW em eólica. Mas o governo quer acelerar esse ritmo. Até 2026, dois novos projetos devem adicionar 100 MW à rede elétrica nacional: a usina solar Punta del Tigre, no sul do país, com 25 MW e previsão de início de operação em julho de 2026, e o parque solar de Melo, no leste, com 75 MW previstos para 2028.

De acordo com Darío Castiglioni, diretor da Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE), as obras demandarão um investimento total de US$ 91 milhões. Para ele, os custos demonstram que a energia solar está se tornando cada vez mais acessível.

“O preço da eletricidade gerada por painéis solares já é competitivo e tende a cair ainda mais com os avanços tecnológicos e o aumento da escala produtiva”, afirmou o executivo.

Sustentabilidade e descarbonização no centro da estratégia

O ministro do Meio Ambiente, Edgardo Ortuño, destaca que a ampliação da energia renovável é “uma parte fundamental” do desenvolvimento sustentável uruguaio. Ele reforça que o país tem o compromisso de avançar rumo à neutralidade de carbono até 2050, apoiando-se em três pilares principais: eficiência energética, eletromobilidade e eletrificação da demanda.

“Planejamos avançar na mobilidade sustentável das famílias e no transporte público com mobilidade elétrica. Também queremos progredir no transporte rodoviário de carga, fluvial e aéreo — isso significa desenvolver as fontes de hidrogênio verde e, portanto, dar novos passos rumo à expansão da energia solar no país”, destacou Ortuño.

A expansão das fontes renováveis também é impulsionada por razões econômicas. Segundo Ramón Méndez, diretor-executivo da Ivy Foundation e presidente da REN21, as energias renováveis deixaram de ser apenas uma pauta ambiental.

“As energias renováveis são as fontes mais baratas e não dependem das flutuações nos preços dos combustíveis fósseis. Nesse cenário, a eletricidade produzida com painéis solares é mais barata do que a produzida com turbinas eólicas”, afirmou Méndez.

Essa vantagem financeira reforça a estratégia uruguaia de longo prazo, que busca não apenas reduzir emissões, mas também diminuir custos estruturais e tornar a economia mais competitiva.

Parcerias internacionais e papel da China no setor solar

O projeto Punta del Tigre foi o primeiro a atrair investidores estrangeiros, com um consórcio formado pela empresa espanhola Prodiel Energy e pela uruguaia Teyma, firmado em outubro de 2024. O sucesso da parceria abriu caminho para novos investimentos internacionais.

Em setembro, o mesmo consórcio foi anunciado como operador do projeto em Melo, no departamento de Cerro Largo, que contará com 138 mil painéis solares. O grupo superou outras oito concorrentes, incluindo a peruana ABCD Trading e a chinesa PowerChina.

Segundo o pesquisador Rodrigo Alonso, da Universidade da República de Montevidéu, a presença chinesa no mercado solar uruguaio tem motivação principalmente comercial.
“Por razões de custo, praticamente tudo o que é instalado no Uruguai vem da China. Ela domina o mercado solar em diversas frentes, tanto na produção industrial quanto em operações próprias em todo o mundo”, explicou.

Os projetos de Punta del Tigre e Cerro Largo utilizarão painéis solares chineses, conhecidos por seu baixo custo e eficiência. Além do fornecimento de equipamentos, empresas chinesas também participam da construção de sistemas de transmissão elétrica no país.

De acordo com Méndez, a China não oferece apenas tecnologia acessível, mas também financiamento em condições vantajosas, o que reduz o preço final da eletricidade para os consumidores. “Esses acordos têm sido bem aceitos pela população, já que as operações permanecem sob controle do Estado uruguaio, garantindo benefícios diretos à economia nacional”, afirmou.

Castiglioni reforçou que a presença estrangeira é positiva e comum em grandes obras de infraestrutura, pois a UTE não possui capacidade de investimento suficiente para arcar sozinha com os custos. “A participação internacional é uma aliada, especialmente quando se trata de tecnologias verdes e de ponta”, observou.

Impactos ambientais e aceitação social

Embora a expansão da energia solar traga inúmeros benefícios, há também preocupações sobre os impactos ambientais e o uso do território. Os parques solares exigem grandes áreas de instalação, o que pode afetar ecossistemas locais.

Para Méndez, “eles ocupam áreas enormes, sobretudo quando comparados com os parques eólicos”. No entanto, Spinelli ressalta que “as usinas solares atuais ocupam apenas 0,0033% do território uruguaio — ou seja, mesmo com a ampliação da capacidade instalada, essas áreas continuam insignificantes para um país com baixa densidade populacional”.

A aceitação social, por sua vez, é alta. Segundo Méndez, “de forma geral, a receptividade dos moradores tem sido muito positiva”. A percepção pública é de que os projetos trazem emprego, renda local e segurança energética, sem grandes impactos negativos.

Nos próximos anos, o Uruguai deve enfrentar aumento expressivo da demanda elétrica. Além da taxa histórica de crescimento de 2% ao ano, fatores como a eletromobilidade, o hidrogênio verde e o avanço dos data centers devem intensificar o consumo.

De acordo com Noelia Medina, economista e coordenadora do programa Líderes em Energia do Futuro, há indícios de que grandes empreendimentos industriais e digitais poderão pressionar a rede elétrica.

Spinelli revelou que, em 2024, o consumo de eletricidade no Sistema Interligado Nacional foi de 12,2 terawatts-hora — número que tende a crescer com o avanço da digitalização e da indústria de tecnologia. Segundo ela, somente os data centers e projetos de hidrogênio podem exigir cerca de 1 gigawatt adicional até 2030.

Expansão planejada até 2043

O Plano de Expansão da Geração de Eletricidade 2024-2043, publicado em março pelo governo uruguaio, prevê a adição de 2.100 a 2.420 MW em energia eólica e 1.130 a 1.375 MW em energia solar nos próximos 20 anos.

A secretária Spinelli garante que o país está preparado: “A rede elétrica do Uruguai está bem equipada para absorver a nova capacidade eólica e solar. As obras de transmissão já foram planejadas e muitas estão em andamento”.

Castiglioni complementa que a estatal UTE tem realizado “investimentos muito fortes” na modernização da distribuição, garantindo eficiência e estabilidade para acompanhar o crescimento da geração renovável.

No entanto, com as opções de financiamento interno limitadas, o Uruguai tem buscado apoio de organismos internacionais, como o Fundo Verde para o Clima e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo Spinelli, o governo está “atento às oportunidades de financiamento climático” e já tem projetos de cooperação em andamento.

Ramón Méndez, ex-conselheiro do Fundo Verde, acredita que o país pode conseguir empréstimos e participações a juros reduzidos. “Ainda há muitas opções para o Uruguai obter financiamento barato e sustentável”, disse.

Spinelli acrescenta que o país também trabalha em integração energética regional, para compartilhar excedentes de energia limpa com os vizinhos. “Em 2022, as exportações de energia atingiram quase US$ 400 milhões, cerca de 1% do PIB, mostrando que a eletricidade já é um produto estratégico para o Uruguai”, finalizou.

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Rannyson Moura

Graduado em Publicidade e Propaganda pela UERN; mestre em Comunicação Social pela UFMG e doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atua como redator freelancer desde 2019, com textos publicados em sites como Baixaki, MinhaSérie e Letras.mus.br. Academicamente, tem trabalhos publicados em livros e apresentados em eventos da área. Entre os temas de pesquisa, destaca-se o interesse pelo mercado editorial a partir de um olhar que considera diferentes marcadores sociais.

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