Um erro de depósito em auxílio estudantil transformou a vida de uma universitária sul-africana, mobilizou tribunais e reacendeu debates sobre responsabilidade em créditos indevidos. O caso virou exemplo de como a Justiça trata o uso de dinheiro recebido por engano.
Um erro de processamento em um sistema de auxílio estudantil chamou atenção em todo o país e se transformou em um dos casos judiciais mais conhecidos da África do Sul.
Uma estudante universitária recebeu em seu cartão de benefícios um valor milionário por engano, utilizou parte da quantia e acabou condenada pela Justiça.
O episódio gerou mudanças nos procedimentos de repasse e reacendeu o debate sobre a responsabilidade de quem gasta dinheiro creditado indevidamente.
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Erro no crédito estudantil gerou investigação criminal
O depósito de cerca de 14 milhões de rands foi feito por engano na conta de uma aluna da Walter Sisulu University, instituição localizada no leste da África do Sul.
O valor foi transferido pela Intellimali, empresa contratada para operacionalizar pagamentos do National Student Financial Aid Scheme (NSFAS), programa público que financia estudantes de baixa renda.
A empresa reconheceu a falha e assumiu a responsabilidade pelo erro.
Em nota, o NSFAS informou que o caso não envolvia recursos indevidos do programa e que a irregularidade estava restrita ao processamento da empresa prestadora.
A universidade confirmou ter adotado medidas internas de apuração e suspendido o cartão assim que identificou a anomalia.
Segundo documentos judiciais, a estudante, identificada como Sibongile Mani, tinha direito a um auxílio mensal de 1.400 rands para alimentação, valor muito inferior ao que apareceu em seu cartão.
As autoridades apuraram que ela utilizou mais de 800 mil rands antes que o acesso fosse bloqueado.
A movimentação acima do padrão e as compras em estabelecimentos diversos levaram à abertura de investigações internas.
Tribunal condena estudante por uso indevido de valores
O processo foi julgado pelo Tribunal Regional de East London, que considerou que o uso consciente de valores indevidos caracterizou furto.
De acordo com a sentença, a estudante sabia que o montante creditado não correspondia ao seu benefício e, ainda assim, efetuou gastos de forma continuada.
A corte fixou pena de cinco anos de prisão em regime fechado.
Segundo o entendimento judicial, o fato de o crédito ter sido feito por engano não exclui a responsabilidade penal quando há intenção comprovada de se beneficiar de valores que pertencem a terceiros.
A defesa pediu a substituição da pena por medidas alternativas, alegando que a ré não havia cometido outros delitos e que não havia provocado o erro.
O pedido foi negado na primeira instância, sob o argumento de que o comportamento demonstrava consciência da ilicitude.
Alta Corte mantém condenação, mas muda cumprimento da pena
Posteriormente, o caso foi reavaliado pela Alta Corte do Cabo Oriental, em Makhanda, que manteve a condenação, mas alterou o regime de cumprimento.
A pena de prisão foi totalmente suspensa, sob condição de que Mani não voltasse a cometer infrações semelhantes e realizasse 576 horas de serviço comunitário, além de permanecer sob supervisão correicional por três anos.
O tribunal ressaltou que a substituição não anulava o crime, apenas modificava a forma de execução.
A decisão foi considerada uma medida de modulação da pena, adotada em razão da primariedade da ré e da ausência de antecedentes criminais, segundo o texto da sentença.
Medidas administrativas e reação das instituições
Após o episódio, a Intellimali afirmou ter implementado novas verificações internas para evitar falhas semelhantes.
A empresa também reembolsou integralmente a universidade, garantindo que os recursos públicos destinados a outros estudantes não fossem afetados.
O governo sul-africano confirmou que a prestadora assumiu a responsabilidade pelo erro, e o NSFAS informou ter acompanhado o caso para reforçar os mecanismos de segurança nos repasses.
A Walter Sisulu University prestou esclarecimentos em audiência parlamentar, detalhando o fluxo de pagamentos e os novos protocolos de controle.
Especialistas em direito financeiro e administrativo consultados por veículos locais afirmaram que o caso evidenciou a necessidade de monitoramento contínuo em programas de auxílio e de maior integração entre universidades, prestadoras de serviço e órgãos públicos.
Por que a Justiça não perdoou o depósito milionário
De acordo com juristas que acompanharam o caso, o ponto central da condenação não foi o erro de depósito, mas a conduta posterior da estudante.
A jurisprudência sul-africana considera que o simples recebimento indevido de valores não configura crime, mas o gasto intencional de dinheiro que o beneficiário sabe não ser seu pode caracterizar apropriação ilícita.
O entendimento reforça que a boa-fé é determinante para afastar a tipicidade penal.
A ausência de comunicação imediata às autoridades e a continuidade dos gastos foram elementos decisivos para o enquadramento do caso como furto.
Segundo o julgamento da Alta Corte, o objetivo da pena foi “preservar a integridade dos sistemas públicos de apoio estudantil”, sem deixar de reconhecer o erro operacional que originou a situação.
Lições para programas de assistência e governança financeira
Para especialistas em políticas públicas, o caso se tornou referência sobre responsabilização em operações financeiras automatizadas.
Auditorias e cruzamentos de dados foram apontados como instrumentos essenciais para prevenir situações semelhantes.
Em relatórios posteriores, o NSFAS informou ter reforçado as etapas de verificação de crédito, criado alertas automáticos para valores fora do padrão e revisado os contratos com empresas operadoras.
A Intellimali, por sua vez, declarou ter aprimorado seu sistema de auditoria interna e ampliado o controle humano em processos de pagamento.
O episódio também gerou discussões em universidades e órgãos públicos sobre educação financeira e ética no uso de benefícios.
Segundo análises acadêmicas publicadas em periódicos locais, a comunicação imediata de irregularidades é vista como uma forma de preservar a credibilidade de programas de apoio e proteger o estudante de eventuais responsabilizações.
Há, entretanto, lacunas documentais sobre o caso.
As autoridades não divulgaram uma lista detalhada dos bens adquiridos pela estudante, nem um relatório técnico completo sobre o erro de processamento.
Reportagens mencionam valores próximos de 818 mil rands como total gasto antes do bloqueio, mas não há unanimidade entre as fontes.
O caso permanece citado em cursos de direito e administração pública no país como um exemplo prático de como a intenção do beneficiário pode definir a fronteira entre engano administrativo e infração penal.
Em situações como essa, especialistas defendem que a comunicação imediata do erro às autoridades é a forma mais segura de evitar questionamentos futuros — uma conduta que, segundo juristas, poderia ter alterado o desfecho do processo.
Você avisaria a instituição se percebesse que recebeu um depósito milionário por engano?



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