Enquanto a USP se consagra em rankings internacionais, cientistas da UFRJ revelam novas estratégias para combater o Alzheimer e o glaucoma, colocando a ciência nacional em evidência.
O Brasil vive um momento de destaque no cenário científico global. Uma universidade brasileira, a Universidade de São Paulo (USP), alcançou uma posição histórica entre as melhores do planeta. Ao mesmo tempo, pesquisas de vanguarda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) abrem novos caminhos para o tratamento de doenças neurodegenerativas. Embora distintos, os feitos se conectam: eles demonstram a força de um ecossistema acadêmico capaz de produzir excelência reconhecida e ciência de impacto mundial.
Como uma universidade brasileira chegou à elite mundial
A qualidade do ensino superior brasileiro ganhou um reconhecimento marcante. No prestigioso ranking Times Higher Education (THE) 2025, a Universidade de São Paulo (USP) entrou para o seleto grupo das 200 melhores universidades do mundo, um feito inédito na última década. No ranking QS 2026, a USP também figura em uma posição de elite, a 108ª global, com desempenho superior a 92,8% de todas as instituições avaliadas.
Esse reconhecimento não é isolado. A USP se destaca em áreas específicas, como “Ciências da Vida e Medicina” (47ª no mundo) e “Rede Internacional de Pesquisa” (76ª). A força do Brasil é complementada por outras instituições de ponta, como a Unicamp e a UFRJ, que garantem ao país a representação mais robusta da América Latina nos rankings globais. Essa profundidade acadêmica cria o ambiente ideal para o desenvolvimento de pesquisas inovadoras.
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A descoberta da UFRJ que desafia a ciência
No coração da UFRJ, uma pesquisa desafia décadas de conhecimento sobre a doença de Alzheimer. Por muito tempo, a ciência focou nas placas de proteína beta-amiloide no cérebro como a causa principal da doença. Contudo, medicamentos que removem essas placas falharam em reverter o declínio cognitivo.
Cientistas da UFRJ, em colaboração com a USP, decidiram olhar para outro lugar: os astrócitos. Essas células, antes vistas como mero suporte, são essenciais para a comunicação entre neurônios. A pesquisa, publicada na renomada revista Aging Cell, focou em uma molécula produzida pelos astrócitos, a hevina. Eles descobriram que os níveis de hevina são muito mais baixos em cérebros de pacientes com Alzheimer.
Em experimentos com camundongos, os pesquisadores aumentaram os níveis de hevina no cérebro dos animais. O resultado foi notável: a memória dos camundongos foi restaurada. O mais impressionante é que essa melhora ocorreu sem qualquer alteração na quantidade de placas amiloides. A hevina parece funcionar “reparando a fiação” do cérebro, fortalecendo as conexões (sinapses) entre os neurônios.
A UFRJ também inova na regeneração da visão contra o glaucoma
A capacidade de inovação da UFRJ não para no Alzheimer. Outro grupo de pesquisadores da universidade está abrindo uma nova fronteira no tratamento do glaucoma, uma doença neurodegenerativa que causa cegueira irreversível ao destruir os neurônios da retina. A meta do estudo é regenerar esses neurônios.
A equipe da UFRJ, em colaboração com o Instituto Max Planck da Alemanha, descobriu uma forma de fazer isso. A pesquisa, publicada na revista Development, mostrou que um fator de transcrição chamado Klf4 pode reprogramar outras células da retina para que se transformem nas células ganglionares perdidas pelo glaucoma. Essa abordagem de medicina regenerativa sugere que, no futuro, a própria retina poderia ser estimulada a se reparar, algo revolucionário para a oftalmologia.
O verdadeiro caminho para a “cura”
As descobertas da UFRJ são extremamente promissoras, mas é preciso contextualizar o termo “cura”. Como explica a professora Flavia Gomes, coordenadora do estudo sobre Alzheimer, “o que foi encontrado não significa a cura, mas uma estratégia para conter o avanço da doença“.
O caminho de uma descoberta em laboratório até um tratamento disponível para pacientes é longo e rigoroso. Os estudos atuais representam a prova de conceito. O grande avanço, por enquanto, é a validação de estratégias e alvos terapêuticos completamente novos. É a abertura dessas novas avenidas de pesquisa que, no futuro, poderá levar a uma cura.
O papel do investimento na ciência brasileira
Essas conquistas científicas não acontecem por acaso. Elas dependem de um investimento contínuo e robusto em ciência e tecnologia. O financiamento à pesquisa no Brasil passou por períodos de instabilidade.
Nesse cenário, o apoio de agências estaduais, como a FAPERJ (Rio de Janeiro) e a FAPESP (São Paulo), foi crucial para a sobrevivência e o sucesso desses projetos. Ambas as pesquisas da UFRJ contaram com o fomento dessas fundações. Para que a ciência brasileira continue a produzir resultados de impacto global, é essencial que o investimento se torne uma política de Estado estável e de longo prazo. O desempenho de cada universidade brasileira de ponta depende diretamente desse apoio.