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Conheça Caetité: a única cidade brasileira que produz urânio, com 54 mil habitantes e mina que pode chegar a 800 t/ano

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 22/09/2025 às 10:46
Caetité, na Bahia, é a única cidade do Brasil que produz urânio, com 400 t/ano e reservas que colocam o país entre os maiores do mundo.
Caetité, na Bahia, é a única cidade do Brasil que produz urânio, com 400 t/ano e reservas que colocam o país entre os maiores do mundo.
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Com apenas 54 mil habitantes, Caetité concentra a única mina de urânio em operação no Brasil, produzindo 400 toneladas anuais e projetando expansão para 800 toneladas, além de colocar o país entre os maiores detentores de reservas estratégicas do mundo.

Poucos brasileiros sabem, mas existe um único município no país responsável por concentrar toda a produção nacional de urânio — um metal estratégico, indispensável para a geração de energia nuclear.

Essa cidade de médio porte, com pouco mais de 50 mil habitantes, guarda sob seu solo uma das maiores riquezas minerais já identificadas no território nacional.

É nesse ponto específico do mapa que funciona a única mineração de urânio ativa do Brasil, responsável por transformar o minério bruto em um concentrado conhecido como yellowcake.

Essa etapa é essencial no processo de fabricação do combustível nuclear que alimenta reatores e garante autonomia energética em várias partes do mundo.

O que é o urânio?

O urânio é um elemento químico metálico, de número atômico 92 e símbolo U, pertencente à família dos actinídeos. Trata-se de um metal pesado, naturalmente radioativo, prateado quando recém-polido, mas que oxida rapidamente em contato com o ar, adquirindo tons amarelados ou esverdeados.

Principais propriedades

  • Radioatividade: O urânio emite partículas alfa de forma natural.
  • Isótopos: O mais abundante é o U-238, que corresponde a cerca de 99% do total. Já o U-235, embora represente apenas 0,7% da ocorrência natural, é o de maior interesse energético e militar, por sua capacidade de sofrer fissão nuclear.
  • Densidade: É extremamente denso, cerca de 19 vezes maior que a da água, comparável à do ouro.

Na natureza, o urânio aparece em minerais como uraninita (pechblenda), carnotita e autunita, sempre em pequenas concentrações na crosta terrestre.

Usos estratégicos do urânio

O urânio tem múltiplas aplicações que o colocam no centro de debates sobre energia, defesa e pesquisa:

  • Energia nuclear: O isótopo U-235 é usado como combustível em reatores nucleares, garantindo eletricidade de base e baixa emissão de carbono.
  • Armas nucleares: O mesmo U-235, em altas concentrações, serve como base para a produção de armamentos atômicos.
  • Pesquisas científicas: Essencial em estudos de radioatividade, geologia e técnicas de datação de rochas.
  • Blindagem e projéteis: O chamado urânio empobrecido (DU), com menor teor de U-235, é empregado em blindagens militares e munições de alta penetração.

Por ser radioativo, o uso do urânio exige extremo controle, tanto para evitar acidentes ambientais quanto para prevenir riscos de proliferação nuclear.

A única mina ativa no Brasil

Atualmente, toda a produção de urânio brasileira ocorre em Caetité, na Bahia. É lá que se encontra a Província Uranífera de Lagoa Real, a mais importante jazida do país.

O município concentra as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear:

  1. Lavra: extração do minério do solo.
  2. Beneficiamento: transformação do minério em concentrado (yellowcake), que depois pode ser enriquecido para uso em reatores.

Capacidade produtiva e retomada das operações

A mina de Caetité possui capacidade instalada de aproximadamente 400 toneladas por ano de concentrado de urânio. Esse volume pode chegar a 800 toneladas anuais com a abertura de novas frentes, como a Mina do Engenho e a futura lavra subterrânea.

No passado, a principal frente de exploração foi a Mina Cachoeira, que funcionava a céu aberto. Após a exaustão desse depósito, houve paralisação temporária das operações. Em 2020, a produção foi retomada com novos licenciamentos ambientais e planos de expansão.

Projetos futuros: Santa Quitéria (CE)

Além da Bahia, o Brasil planeja explorar jazidas no Ceará, em Santa Quitéria, onde o urânio aparece associado a depósitos fosfatados. O projeto é liderado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em parceria com a Galvani.

A previsão é de produzir até 2,3 mil toneladas anuais de concentrado de urânio, além de ampliar a oferta de fertilizantes fosfatados no mercado nacional.

No entanto, o projeto ainda depende de licenciamento ambiental. Em 2025, o Ibama analisou o Estudo de Impacto Ambiental e solicitou ajustes antes da emissão da Licença Prévia.

Caso seja implantado, Santa Quitéria representará um salto na produção brasileira, reduzindo a dependência de importações.

Reservas e posição internacional

De acordo com o Red Book 2024 (IAEA/NEA), o Brasil possui 167,8 mil toneladas de urânio em “recursos identificados recuperáveis” até o custo de US$ 130/kg U (dados de 1º de janeiro de 2023).

Esse volume equivale a cerca de 3% do total mundial, colocando o Brasil na 9ª posição global, atrás de:

  1. Austrália
  2. Cazaquistão
  3. Canadá
  4. Namíbia
  5. Rússia
  6. Níger
  7. África do Sul
  8. China

O total mundial nesse critério chega a 5,93 milhões de toneladas.

Potencial de crescimento das reservas

O Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta que o país pode avançar no ranking internacional à medida que os levantamentos geológicos se aprofundarem.

Só em Lagoa Real, na Bahia, já foram identificados mais de 99 mil toneladas de recursos em urânio. Além disso, o Plano Decenal de Geologia (PLANGEO 2026–2035) prevê novos estudos específicos sobre o mineral, reforçando sua importância estratégica.

Assim, embora Caetité seja hoje a única produtora ativa, o futuro pode trazer uma nova configuração, com Santa Quitéria e outras jazidas ampliando a oferta nacional.

O urânio é considerado uma terra rara?

Uma dúvida comum é se o urânio faz parte do grupo das terras raras. A resposta é não.

Diferença principal

  • Urânio (U): pertence à família dos actinídeos, número atômico 92, radioativo, estratégico para energia e defesa.
  • Terras raras: grupo de 17 elementos químicos, que incluem os lantanídeos (do lantânio ao lutécio), mais o escândio e o ítrio. Eles não são radioativos em condições normais e são usados em ímãs, baterias, turbinas e dispositivos eletrônicos.

Onde está a confusão?

O urânio pode ser confundido com terras raras porque:

  • Ele também é relativamente raro em concentrações utilizáveis.
  • Suas jazidas, em alguns casos, estão associadas a minerais que contêm elementos de terras raras.

Mas, do ponto de vista químico e geológico, o urânio não faz parte desse grupo.

Recurso estratégico

O urânio é um recurso estratégico que coloca o Brasil em posição de destaque no cenário energético e geopolítico mundial.

Hoje, toda a produção nacional está concentrada em Caetité, na Bahia, com capacidade de 400 toneladas por ano, mas com potencial de atingir 800 toneladas.

O futuro aponta para Santa Quitéria, no Ceará, que poderá multiplicar a produção e transformar o Brasil em um dos principais players do setor.

Com reservas já identificadas de 167,8 mil toneladas e potencial para descobrir ainda mais, o país ocupa o 9º lugar no ranking mundial, mas tem condições de subir posições.

Enquanto isso, o debate sobre a exploração responsável, o licenciamento ambiental e a segurança nuclear continua sendo central.

Afinal, o urânio não é apenas um minério: ele representa poder energético, independência estratégica e desafios ambientais que exigem atenção constante.

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Abdias
Abdias
24/09/2025 19:48

Também um grande índice de CA

CLEOMAR
CLEOMAR
23/09/2025 18:51

Produz urânio?
Outra coisa: sendo um produto de interesse internacional e portanto, de segurança nacional, o que o governo brasileiro vai fazer para aproveitar essa jazida.
Só falta ceder mais uma riqueza aos chineses de mão beijada.

Última edição em 20 dias atrás por CLEOMAR
Jean Matos
Jean Matos
23/09/2025 12:37

A questão não é ser uma região rica em urânio, e sim, se a cidade está se desenvolvendo e a população está sendo beneficiada.

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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