China, Índia e Rússia fortalecem laços estratégicos em meio a tensões comerciais com os EUA. Xi Jinping apresenta proposta de governança global durante cúpula em Tianjin, com apoio de Vladimir Putin e Narendra Modi.
O cenário internacional vive um período de instabilidade, marcado por guerras comerciais, tensões regionais e disputas por influência política. Nesse contexto, China, Índia e Rússia emergem como protagonistas de um movimento que pode redesenhar a governança global, conforme noticiado pela Agência Brasil neste primeiro de setembro.
Durante a 24ª cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), realizada em Tianjin, o presidente chinês Xi Jinping apresentou a Iniciativa de Governança Global (IGG), interpretada por especialistas como um embrião de uma nova ordem mundial.
Com a presença de líderes como Vladimir Putin e Narendra Modi, a proposta busca desafiar o hegemonismo e o unilateralismo que, segundo Xi, ameaçam a estabilidade internacional.
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China lança proposta de governança global baseada em cinco princípios
Durante seu discurso oficial, o presidente da China afirmou que o planeta atravessa “um novo período de turbulência e transformação” e que a governança global chegou a uma encruzilhada histórica. Xi Jinping defendeu cinco princípios fundamentais:
- Igualdade soberana entre os Estados.
- Respeito ao direito internacional.
- Prática do multilateralismo.
- Abordagem centrada nas pessoas.
- Adoção de medidas concretas para resultados reais.
Segundo Xi, “todos os países, independentemente de tamanho, força ou riqueza, devem ser participantes, tomadores de decisão e beneficiários iguais na governança global”.
Índia entre a pressão dos EUA e a aproximação com a China
A Índia, liderada por Narendra Modi, tornou-se peça-chave nessa engrenagem diplomática. Pressionada pelos Estados Unidos a interromper a compra de petróleo russo, Nova Délhi tem buscado alternativas para proteger seus interesses econômicos.
O governo de Donald Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos indianos, o que intensificou a busca por novos parceiros estratégicos.
Modi viajou à China pela primeira vez em sete anos, gesto que sinaliza o desejo de reaproximação entre os dois gigantes asiáticos, historicamente marcados por tensões fronteiriças e disputas regionais.
Em Tianjin, Modi foi visto de mãos dadas com Putin e Xi, em uma clara mensagem de unidade.
Rússia apoia iniciativa chinesa e busca fortalecer papel da OCX
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou que ao menos uma dúzia de países já manifestaram interesse em aderir à Organização para Cooperação de Xangai. Para o líder russo, isso mostra a relevância crescente do bloco.
“A Rússia apoia a iniciativa de Xi Jinping e está interessada em iniciar discussões específicas sobre as propostas apresentadas pela China. Acredito que é a OCX que poderia assumir o papel de liderança nos esforços que visam moldar um sistema de governança global mais justo”, declarou Putin.
Cooperação estratégica ganha força em meio às tarifas dos EUA
A guerra tarifária promovida pelos Estados Unidos contra adversários e aliados tem servido de catalisador para aproximar China, Índia e Rússia. Xi Jinping criticou duramente o unilateralismo, prática intensificada durante o governo Trump, que adotou medidas sem consultar parceiros internacionais.
O líder chinês defendeu a construção de uma governança global baseada em “consulta ampla, contribuição conjunta e benefício compartilhado”, ressaltando que o mundo precisa de integração, não de divisão.
A importância do Cinturão e Rota da Seda
Um dos pontos mais destacados por Xi Jinping foi a continuidade da iniciativa do Cinturão e Rota da Seda, projeto que conecta a China a diferentes continentes por meio de investimentos em infraestrutura e comércio.
Para Pequim, esse é um dos caminhos para promover uma globalização inclusiva, em oposição às barreiras econômicas levantadas por Washington.
Xi ainda anunciou um pacote de ajuda financeira de US$ 280 milhões aos membros da OCX, além de um empréstimo adicional de 10 bilhões de yuans destinado aos bancos do bloco. A proposta reforça a liderança econômica da China no cenário multilateral.
Índia e Rússia ampliam cooperação bilateral
Em paralelo às discussões multilaterais, Narendra Modi e Vladimir Putin aproveitaram o encontro para aprofundar parcerias bilaterais. O primeiro-ministro indiano destacou, em rede social, a importância da relação estratégica com Moscou, que envolve comércio, fertilizantes, segurança, cultura e até cooperação espacial.
Segundo Modi, “nossa Parceria Estratégica Privilegiada Especial continua sendo o pilar mais importante da estabilidade regional e global”. A fala mostra que, apesar das pressões externas, a Índia pretende manter sua proximidade com a Rússia, especialmente no contexto energético.
China e Índia ensaiam reconciliação histórica
Embora tenham um histórico de disputas territoriais, China e Índia vêm sinalizando disposição para melhorar suas relações diplomáticas.
O Ministério das Relações Exteriores de Pequim afirmou que o encontro entre Xi e Modi representa uma “continuação de um processo de melhoria das relações iniciado em Kazan, durante a cúpula do Brics de 2024”.
Segundo o comunicado oficial, a relação bilateral voltou a uma trajetória positiva, com avanços como a manutenção da paz nas fronteiras e a retomada de voos diretos entre os dois países. “Índia e China são parceiras, não rivais. Nosso consenso supera em muito nossa discordância”, afirmou a diplomacia chinesa.
O peso simbólico do encontro em Tianjin
A cúpula da OCX ocorreu às vésperas da celebração do 80º aniversário da vitória chinesa contra a agressão japonesa e do fim da 2ª Guerra Mundial, evento que contou com a presença de 50 líderes internacionais em um desfile militar. O simbolismo da data reforçou a narrativa de Xi Jinping de que o mundo precisa de cooperação para superar momentos de crise e evitar a repetição de erros do passado.
Impactos no tabuleiro geopolítico global
A aproximação entre China, Índia e Rússia tem potencial para reconfigurar as relações internacionais. De um lado, os Estados Unidos insistem em impor barreiras comerciais e políticas; de outro, o bloco liderado por Pequim busca fortalecer alternativas de governança multilateral.
Além das iniciativas econômicas e militares, a OCX também discute cooperação em áreas como inteligência artificial, energia verde e combate ao narcotráfico, mostrando que o objetivo vai além da geopolítica tradicional.