A Cooxupé bloqueou cafeicultores envolvidos em casos de trabalho em condições análogas à escravidão na colheita. Entre os resgatados estavam crianças, idosos e famílias vulneráveis.
A maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, tomou medidas rigorosas depois de identificar casos de trabalho em condições análogas à escravidão entre seus cooperados. A decisão vale para cinco produtores flagrados entre abril e agosto deste ano, conforme relatórios do Ministério do Trabalho e Emprego obtidos pela Repórter Brasil.
Os resgates envolveram 81 trabalhadores, incluindo uma criança de 12 anos, um adolescente de 16 e um idoso de 72, muitos em situação degradante tanto no trabalho quanto nas moradias.
Cooperativa de café age contra práticas abusivas
Diante dos casos identificados, a Cooxupé bloqueou as matrículas dos cinco cafeicultores envolvidos, e suspendeu imediatamente o recebimento de café de suas propriedades.
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Além disso, passou a segregar os lotes potencialmente irregulares — evitando que entrassem na cadeia de fornecimento da cooperativa.
Essas medidas fazem parte do protocolo usado sempre que a cooperativa toma conhecimento oficial de violações trabalhistas.
Perfil dos trabalhadores resgatados revela vulnerabilidade extrema
Entre os 81 trabalhadores resgatados, a faixa etária variava de uma criança de 12 anos a um idoso de 72.
Eles viviam sob condições degradantes, com moradias precárias e restrição de locomoção por meio de dívidas ilegais.
Esses são alguns dos elementos que caracterizam trabalho análogo à escravidão, segundo a legislação brasileira.
Cooxupé sob pressão por condutas éticas
Em 2024, a cooperativa registrou o maior faturamento da sua história, com R$ 10,7 bilhões, e exportou cerca de 80% das 6,6 milhões de sacas recebidas.
Diante desse peso econômico, organizações de defesa dos trabalhadores cobraram a Cooxupé por maior rigor na fiscalização de cooperados.
“Pelo seu porte econômico… a cooperativa deveria ser exemplo na garantia de trabalho decente… propagam mundo afora que o café que vendem é sustentável”, destacou Jorge Ferreira dos Santos, da Adere-MG.
Ele ainda alertou que entre 20% e 40% das denúncias de trabalho escravo atendidas pela entidade envolvem produtores vinculados à Cooxupé.
Como a cooperativa respondeu às acusações
Em nota, a Cooxupé afirma que, ao tomar conhecimento de violações trabalhistas, adota uma política clara: bloqueia o cooperado, suspende coleta de café e isola os lotes, garantindo rastreabilidade e evitando que produtos irregulares sejam distribuídos.
A cooperativa também comentou que pauta sua atuação no “respeito às pessoas, na dignidade do trabalho e na responsabilidade social”, e mantém um programa de orientação em direitos humanos.
Conclusão
A iniciativa da cooperativa de café reacendeu o alerta sobre falhas nas práticas trabalhistas no setor cafeeiro nacional.
A resposta da Cooxupé — bloqueando cooperados flagrados em condições análogas à escravidão — representa um passo necessário, mas ainda deixa a nu a fragilidade da fiscalização no campo.
Para que o café brasileiro seja realmente sustentável, é preciso que medidas como essa se multipliquem e se intensifiquem.
Somente assim será possível proteger direitos e fortalecer uma cadeia produtiva responsável