O torpedo nuclear Poseidon, desenvolvido pela Rússia, pode cruzar oceanos a 100 km/h, mergulhar a 1.000 m e carregar ogivas capazes de gerar tsunamis radioativos.
Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética criaram ogivas capazes de destruir cidades inteiras. Décadas depois, a corrida armamentista entrou em uma nova fase, marcada por tecnologias que fogem do imaginário clássico das bombas aéreas. Entre essas inovações, nenhuma é tão temida quanto o Poseidon, também conhecido como Status-6 — um torpedo nuclear russo projetado para navegar de forma autônoma por milhares de quilômetros no fundo do oceano e lançar um ataque sem precedentes.
Segundo informações divulgadas pelo próprio governo russo em 2015, e confirmadas em relatórios de inteligência ocidentais, o Poseidon foi pensado não apenas como uma arma de dissuasão, mas como um instrumento de terror estratégico, capaz de atingir portos, bases navais e cidades costeiras com um poder destrutivo nunca visto.
Quando surgiu a ideia
O projeto Poseidon veio a público em 2015, quando a TV estatal russa exibiu acidentalmente (ou deliberadamente) documentos sobre o chamado Status-6 Oceanic Multipurpose System. Desde então, o torpedo se tornou peça central no discurso de Moscou sobre sua nova geração de armas nucleares “invencíveis”.
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Em 2018, o presidente Vladimir Putin confirmou oficialmente o desenvolvimento do sistema, descrevendo-o como uma arma “de alcance praticamente ilimitado” e “capaz de contornar qualquer defesa antimíssil existente”.
Como funciona o Poseidon
O Poseidon não é um torpedo comum:
- Propulsão nuclear: em vez de baterias ou combustíveis convencionais, ele utiliza um reator nuclear em miniatura, garantindo autonomia para atravessar oceanos inteiros sem precisar de reabastecimento.
- Velocidade e profundidade: pode atingir cerca de 100 km/h e mergulhar até 1.000 metros de profundidade, muito abaixo da capacidade da maioria dos sistemas de detecção submarina.
- Alcance global: teoricamente ilimitado, já que a propulsão nuclear garante energia contínua.
- Ogiva devastadora: estimativas sugerem que o Poseidon poderia carregar uma ogiva de até 2 megatons — suficiente para arrasar cidades inteiras ou gerar tsunamis radioativos em regiões costeiras.
Um novo tipo de dissuasão nuclear
Diferente dos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), que percorrem trajetórias previsíveis e podem ser interceptados, o Poseidon utiliza o oceano como rota de ataque. Isso cria enormes dificuldades para a defesa inimiga.
Na prática, seria como ter uma bomba nuclear “invisível”, capaz de surgir inesperadamente em qualquer litoral estratégico. Essa imprevisibilidade reforça o poder de dissuasão da Rússia, especialmente contra países da OTAN.
Situação atual do projeto
- 2019: o primeiro submarino projetado para carregar o Poseidon, o Belgorod (K-329), foi lançado. Ele pode transportar até seis unidades do torpedo.
- 2023: a agência estatal russa TASS afirmou que os primeiros Poseidon com ogivas nucleares foram produzidos em série.
- 2024–2025: análises ocidentais indicam que o sistema ainda está em fase de testes, com dúvidas sobre sua confiabilidade, mas o submarino Belgorod já está operacional.
Embora não haja evidências públicas de que o Poseidon esteja totalmente integrado ao arsenal russo, o simples anúncio do sistema já gera impacto psicológico e geopolítico.
Controvérsias e críticas
Especialistas militares apontam que a narrativa em torno do Poseidon pode ter sido amplificada para efeito de propaganda. Criar um torpedo nuclear autônomo de longo alcance envolve enormes desafios técnicos:
- Miniaturização de reatores nucleares;
- Navegação autônoma em grandes profundidades;
- Controle seguro de ogivas nucleares em veículos não tripulados.
Ainda assim, mesmo que parte das capacidades divulgadas seja exagerada, o simples avanço até o estágio de testes já demonstra o esforço russo em explorar novas fronteiras da dissuasão nuclear.
Poseidon muda as regras do jogo nuclear
O Poseidon muda as regras do jogo nuclear porque não se limita a destruir alvos militares. Seu poder de gerar ondas radioativas capazes de devastar regiões costeiras inteiras cria um efeito de segunda ordem: colapsar economias, gerar crises humanitárias e tornar áreas inteiras inabitáveis.
Não por acaso, o sistema é visto por analistas como uma arma do “juízo final”, projetada mais para intimidar do que para ser realmente usada.
O símbolo de uma nova corrida armamentista
Se a Guerra Fria foi marcada por ICBMs e ogivas termonucleares, o século XXI começa a ser marcado por armas autônomas, hipersônicas e subaquáticas.
O Poseidon representa essa transição: mais do que destruir, ele foi concebido para transmitir a ideia de que nenhuma defesa é segura.
Enquanto a Rússia aposta nesse tipo de tecnologia, Estados Unidos e China avançam em armas hipersônicas e defesas antimísseis. O resultado é uma nova corrida armamentista global, que reacende temores de instabilidade e aumenta os riscos de erros estratégicos.
O Poseidon é, ao mesmo tempo, um feito tecnológico e um alerta sombrio. Ele mostra até onde a humanidade é capaz de chegar para reforçar seu poder militar, mas também lembra o quanto seguimos presos à lógica da destruição mútua.