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Um casal encontrou uma pedra no quintal: era a lápide de 1900 anos de um antigo soldado romano

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 17/10/2025 às 08:53
Casal encontra em quintal uma lápide romana de 1.900 anos, desaparecida desde a Segunda Guerra, que pertenceu a um soldado do Império
Casal encontra em quintal uma lápide romana de 1.900 anos, desaparecida desde a Segunda Guerra, que pertenceu a um soldado do Império
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Um casal de Nova Orleans encontrou no quintal uma lápide romana de 1.900 anos pertencente a um soldado do século II. O artefato, desaparecido desde a Segunda Guerra, será repatriado para a Itália

Durante um simples trabalho de jardinagem, um casal de Nova Orleans fez uma descoberta que virou caso arqueológico internacional. Ao escavar parte do quintal de sua casa no histórico bairro de Carrollton, eles encontraram uma antiga lápide com inscrições em latim.

A análise revelou que se trata de um artefato funerário de 1.900 anos originário da Itália, marcando o túmulo de um soldado romano chamado Sexto Congênio Vero.

Da surpresa ao mistério arqueológico

A antropóloga Daniella Santoro, da Universidade Tulane, e seu marido, Aaron Lorenz, ficaram alarmados ao encontrar a pedra. A primeira reação de Santoro foi temer que sua casa tivesse sido construída sobre um cemitério, cenário plausível em Nova Orleans, onde isso ocorreu diversas vezes ao longo da história.

Porém, um relatório do Centro de Recursos de Preservação da cidade (PRC), elaborado pelo arqueólogo D. Ryan Gray, descartou essa hipótese. Cemitérios ocultos na região já foram mapeados, e nada indica que exista um sob a propriedade do casal.

Com a curiosidade crescente, Gray concentrou seus esforços na inscrição gravada em latim. Ele enviou imagens da pedra ao arqueólogo Harald Stadler, da Universidade de Innsbruck, que as repassou a seu irmão, especialista em latim. Santoro também compartilhou as fotos com a classicista Susann S. Lusnia, da Universidade Tulane.

De forma independente, todos chegaram à mesma conclusão: tratava-se de uma lápide funerária romana do século II dedicada a Sexto Congênio Vero, um marinheiro da frota pretoriana de Misenum.

A história gravada na pedra

A tradução aproximada da inscrição revela detalhes sobre a vida do soldado: “Aos Espíritos dos Mortos por Sexto Congênio Vero, soldado da frota pretoriana Misenense, da tribo dos Bessi, viveu 42 anos e serviu 22 no exército, no trirreme Asclépio. Atílio Caro e Vécio Longino, seus herdeiros, fizeram isso para ele com grande merecimento.”

O texto indica que Vero era da Trácia, região no sudeste dos Bálcãs, e passou mais de duas décadas servindo a bordo do Asclépio, um trirreme — navio de guerra movido a remos — batizado em homenagem ao deus da medicina.

A pedra corresponde exatamente a uma peça considerada desaparecida do Museu Arqueológico Nacional de Civitavecchia, cidade portuária ao norte de Roma.

O museu foi destruído durante bombardeios aliados na Segunda Guerra Mundial e só reabriu em 1970. Desde então, vários itens desapareceram de seu acervo, incluindo a lápide agora encontrada nos Estados Unidos.

Do quintal ao FBI

Diante da importância histórica do achado, Santoro entrou em contato com Tess Davis, diretora da Coalizão de Antiguidades, organização dedicada à repatriação de patrimônio cultural. Com orientação da entidade, o casal entregou a lápide à Equipe de Crimes de Arte do FBI, que agora coordena seu processo de devolução ao museu de Civitavecchia.

Com o artefato fora de suas mãos, os pesquisadores passaram a investigar como ele foi parar em um quintal residencial. Consultando registros censitários, descobriram que a casa pertenceu por décadas à família de Frank Simon, gerente de uma empresa de calçados.

A principal hipótese sugere que um soldado americano trouxe a lápide da Europa após a Segunda Guerra Mundial — cenário semelhante ao de duas pinturas holandesas do século XVII que recentemente ressurgiram no Texas.

Pistas sem respostas

Entretanto, Simon tinha 59 anos em 1940 e morreu em 1945, o que reduz a probabilidade de sua participação direta. Pesquisadores suspeitaram do vizinho, veterano da Marinha dos EUA, mas registros mostram que ele atuou apenas no Pacífico, não na Europa.

Lusnia, que viajou à Itália durante o verão, visitou o museu de Civitavecchia e confirmou que um inventário de 1954 citava a lápide — embora baseado em documentos antigos e não em uma inspeção direta. Para Gray, isso reforça a ideia de que o artefato se perdeu no caos do pós-guerra, quando muitas peças foram saqueadas ou desapareceram sem registro.

Ainda assim, permanece o mistério sobre como exatamente a lápide cruzou o Atlântico e acabou enterrada em um quintal americano. Ela pode ter sido levada por um antiquário e vendida a um turista, ou simplesmente reaproveitada como pedra de pavimentação por alguém que desconhecia seu valor histórico.

“Talvez um familiar ou alguém limpando a casa após uma venda tenha visto a peça apenas como uma pedra conveniente para um quintal lamacento”, escreve Gray. “No momento, é impossível dizer, mas continuaremos buscando novas possibilidades.”

O caso de Sexto Congênio Vero mostra como um artefato perdido por quase um século pode ressurgir em um local improvável, conectando um jardim de Nova Orleans ao Império Romano e ao caos da Segunda Guerra Mundial. E, enquanto a lápide segue seu caminho de volta à Itália, a investigação continua — em busca de respostas que podem estar enterradas não na terra, mas na memória esquecida de quem a trouxe até ali.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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