1. Início
  2. / Indústria
  3. / Um canteiro de obras há quase 40 anos: Angra 3 não sai do papel, expõe o fracasso bilionário do Brasil e pode enterrar parceria nuclear que promete transferência de tecnologia para construção de 8 usinas
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Um canteiro de obras há quase 40 anos: Angra 3 não sai do papel, expõe o fracasso bilionário do Brasil e pode enterrar parceria nuclear que promete transferência de tecnologia para construção de 8 usinas

Escrito por Flavia Marinho
Publicado em 26/06/2025 às 15:09
Atualizado em 27/06/2025 às 11:00
Um canteiro de obras há quase 40 anos: Angra 3 não sai do papel, expõe o fracasso bilionário do Brasil e pode enterrar parceria nuclear que promete transferência de tecnologia para construção de 8 usinas
Angra 3 não sai do papel e contrato que previa desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, com a construção de oito usinas no Brasil pode chegar ao fim após 50 anos
  • Reação
  • Reação
4 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Angra 3 não sai do papel e contrato que previa desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, com a construção de oito usinas no Brasil pode chegar ao fim após 50 anos

Imagine um contrato assinado há meio século, prometendo um salto tecnológico para o BRASIL com ajuda da Alemanha, mas que acabou virando uma novela sem fim. Estamos falando do acordo nuclear de 1975, que previa a construção de oito usinas nucleares, mas só entregou uma, ANGRA 2, e deixou outra, ANGRA 3, como um eterno canteiro de obras. Agora, com a Alemanha fora do jogo nuclear e o Brasil ainda investindo nessa energia, será que esse pacto, renovado a cada cinco anos, está com os dias contados? Vamos mergulhar nessa história!

Um acordo de gigantes que não decolou

Em 27 de junho de 1975, o Brasil, sob o governo do general Ernesto Geisel, e a Alemanha, liderada pelo chanceler Helmut Schmidt, selaram um contrato que prometia revolucionar o programa nuclear brasileiro. A ideia era ambiciosa: transferir tecnologia alemã para construir oito usinas nucleares, com Angra 1 e 2 já no radar e outras seis planejadas. “Na época, era o maior acordo tecnológico do século. O entusiasmo era contagiante nos dois lados”, conta Luiz Ramalho, sociólogo e presidente do Fórum da América Latina, em Berlim, que desde o início crítica o pacto.

Mas, 50 anos depois, o saldo é desanimador. Apenas Angra 2, no Rio de Janeiro, entrou em operação, em 2001, após 24 anos de obras. Angra 3, iniciada em 1986, segue inacabada, engolindo mais de R$ 20 bilhões. As outras seis usinas? Nem saíram do papel. Para o deputado alemão Harald Ebner, do Partido Verde, o resultado é claro: “Esse acordo foi um equívoco. Angra 2 é uma das usinas mais caras da história, e Angra 3 é um canteiro sem fim.”

Por que o acordo sobreviveu?

Apesar dos tropeços, o contrato nuclear entre Brasil e Alemanha resistiu a crises globais, como os acidentes de Chernobyl (1986) e Fukushima (2011), e até ao fim das usinas nucleares na Alemanha em 2023. Por que ele continua de pé? Segundo Ramalho, a renovação automática a cada cinco anos e a relutância alemã em desagradar um parceiro estratégico como o Brasil explicam essa longevidade. “Ninguém queria ser o primeiro a puxar o plugue”, diz ele.

Na Alemanha, o tema é quase desconhecido hoje, mas já foi motivo de protestos. O Partido Verde, com raízes no movimento antinuclear, tentou acabar com o acordo em 2004, quando Jürgen Trittin, então ministro do Meio Ambiente, propôs transformá-lo numa parceria para energias renováveis. A ideia naufragou. Dez anos depois, em 2014, Trittin revelou que as negociações com o Brasil esbarraram na então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que insistiu na renovação. Em 2024, uma nova tentativa dos Verdes no Bundestag foi barrada pela coalizão entre CDU e SPD.

Problemas em Angra e críticas crescentes

As usinas de Angra são o coração das críticas. Angra 2, construída em uma região suscetível a terremotos, deslizamentos e inundações, acumula resíduos nucleares perigosos, alerta Ebner. “É uma bomba-relógio ambiental”, afirma. Já Angra 3, com décadas de atraso, virou símbolo de ineficiência. “O Brasil e a Alemanha apostaram errado nesse projeto”, diz o deputado, que vê o acordo como um fracasso retumbante.

Miriam Tornieporth, da organização antinuclear alemã Ausgestrahlt, concorda. “Esse contrato está ultrapassado. Não tem mecanismos de segurança modernos e ignora os riscos atuais”, diz. Ela aponta ainda para um problema geopolítico: o urânio usado em Angra pode estar vindo da Rússia, via parcerias com a estatal Rosatom e a francesa Framatome, que opera em Lingen, na Alemanha. “Enquanto a Alemanha evita sanções à indústria nuclear russa, esse urânio enriquecido em Gronau vai para o Brasil. É incoerente”, critica Tornieporth.

Um novo fôlego para o nuclear?

Enquanto a Alemanha abandonou a energia nuclear, o Brasil parece ir na contramão. Em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes crítico dessa fonte, mostrou interesse em pequenas usinas nucleares durante encontro com Vladimir Putin. Segundo a Agência Internacional de Energia, 40 países, incluindo o Brasil, planejam expandir a energia nuclear para atender à demanda elétrica, que no país representa apenas 3% da matriz energética.

Na Alemanha, o debate também ganhou nova vida. Após o desligamento das usinas em 2023, ordenado por Angela Merkel pós-Fukushima, políticos como Katherina Reiche, atual ministra da Economia, sinalizam abertura ao nuclear. Reiche participou de reuniões da Aliança Nuclear Europeia, que reúne países como França e Suécia. “A energia nuclear voltou a ser discutida na Europa”, diz Thomas Silberhorn, deputado da CDU, que vê o contrato com o Brasil como um marco de cooperação tecnológica.

O futuro do contrato nuclear no Brasil

O destino do acordo está nas mãos dos social-democratas (SPD), que lideram a coalizão alemã. Nina Scheer, porta-voz de energia do SPD no Bundestag, acredita que agora é a hora de mudar. “Nossa coalizão quer fortalecer laços com o Brasil, mas isso passa por substituir esse contrato nuclear por parcerias em energias renováveis”, afirma. A ideia é alinhar a cooperação à transição energética, foco da Alemanha e necessidade urgente no Brasil.

Ramalho, em Berlim, vê uma janela de oportunidade. “Com a Alemanha livre do nuclear e o Brasil buscando sustentabilidade, esse contrato é um dinossauro. É hora de enterrá-lo e focar em hidrogênio verde ou solar”, sugere. Mas a decisão não será fácil. Encerrar o pacto pode ser visto como um desrespeito ao Brasil, um parceiro-chave no Sul Global. Ainda assim, a pressão cresce, e 2025 pode ser o ano em que esse acordo, tão celebrado há 50 anos, finalmente chegue ao fim.

E você, o que acha? Esse contrato nuclear deve acabar ou ser reformulado? Deixe seu comentário abaixo e compartilhe esta matéria para aquecer o debate!

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira pós-graduada, com vasta experiência na indústria de construção naval onshore e offshore. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas militar, segurança, indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos. Entre em contato com flaviacamil@gmail.com para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal. Não enviar currículo.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x