Inteligência ucraniana revela que a Rússia depende de máquinas ocidentais e asiáticas para produzir blindados, expondo fragilidade estratégica na guerra
Na guerra, nem sempre as revelações acontecem no campo de batalha. Muitas vezes surgem quando se abre um tanque ou desmonta um drone. Foi assim que a inteligência ucraniana descobriu não apenas mensagens ocultas deixadas por tropas russas, mas também a origem dos equipamentos que sustentam a maquinaria militar do Kremlin.
A novidade agora é outra. O GUR, serviço de inteligência da Ucrânia, revelou detalhes sobre a indústria russa de blindados.
O que parecia ser autossuficiência militar mostra forte dependência de máquinas ocidentais e asiáticas.
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A fábrica dos tanques blindados
O relatório aponta a Uralvagonzavod como peça central. Localizada nos Urais, é a única grande fabricante de carros de combate da Rússia. Ali são montados desde os veteranos T-72 até o moderno T-14 Armata.
Segundo a denúncia, a empresa utiliza mais de 260 máquinas de alta precisão importadas. Entre elas, tornos verticais dos Estados Unidos, centros de usinagem alemães e prensas italianas.
Todas adquiridas antes de 2022, no período de modernização militar que antecedeu a invasão da Ucrânia.
Essa estrutura sustenta uma produção de 20 a 30 tanques novos por mês, mesmo sob pressão da guerra. Em 2024, a empresa chegou a inaugurar uma planta de motores equipada com máquinas CNC europeias.
Dependência de peças e softwares
O problema para Moscou não é apenas o uso dessas máquinas. A questão central está na continuidade.
Porque, sem peças de reposição, fluidos técnicos e atualizações de software, a linha de produção corre risco de parar.
Além disso, as sanções internacionais encareceram e dificultaram novas entregas. O GUR afirma que elas não cessaram totalmente, mas dependem de rotas indiretas e terceiros países.
Essa realidade expõe um paradoxo: a herança soviética de independência industrial agora se apoia em engrenagens fabricadas no exterior.
Lista internacional
A Ucrânia publicou uma lista de 42 tipos de equipamentos provenientes de países como Áustria, Japão, Coreia do Sul e China.
Ao todo, calcula-se que 1.396 máquinas estrangeiras estejam em uso em 169 fábricas ligadas à invasão.
Cada caso é respaldado por contratos, registros de compra e até gravações. A mensagem é clara: sem apoio técnico estrangeiro, a indústria militar russa perde fôlego.
Propostas de controle
Diante desse quadro, Kiev sugeriu medidas rigorosas. Uma delas é instalar rastreadores GPS em máquinas exportadas.
Outra seria exigir inspeções presenciais para garantir que não terminem reforçando a indústria bélica russa.
A denúncia também cita drones de longo alcance usados por Moscou. Nessas aeronaves, versões locais dos Shahed iranianos, foram encontrados componentes ocidentais e chineses.
Isso reforça a ideia de que o setor militar depende de cadeias externas.
Contradição no discurso russo
O Kremlin insiste em projetar imagem de autonomia tecnológica. Mas a prática desmente a narrativa. Em abril, o próprio Vladimir Putin reconheceu publicamente: “não há armas suficientes”.
A frase ilustra a tensão entre o discurso de autossuficiência e a realidade de uma indústria dependente.
O calcanhar de Aquiles
A denúncia ucraniana aponta para um calcanhar de Aquiles estratégico. O exército russo consome tanques mais rápido do que consegue repor. E a produção de novos depende de máquinas e softwares que não controla.
Portanto, se as sanções conseguirem cortar o acesso a peças e serviços, Moscou poderá enfrentar um colapso em sua capacidade de sustentar o esforço bélico.
A batalha industrial entre Rússia e Ucrânia
Mais do que fragilizar a Rússia, Kiev quer envolver governos e fabricantes ocidentais no controle das cadeias de exportação.
A ideia é simples: mostrar que, nos galpões da Uralvagonzavod, existe uma batalha paralela à da linha de frente.
É o pulso industrial que pode decidir os rumos da guerra. Porque, sem a engrenagem estrangeira, a maquinaria bélica russa corre o risco de parar.
Com informações de Xataka.