Projeto bilionário de infraestrutura promete transformar o transporte com o primeiro túnel submerso do Brasil, mas obra já está mais cara antes mesmo de começar.
O Governo do Estado de São Paulo republicou nesta segunda-feira (9) o edital de licitação para o Túnel Imerso Santos–Guarujá, no litoral paulista.
A nova versão do documento, além de ajustes operacionais, traz um aumento significativo no investimento previsto: de R$ 5,96 bilhões para R$ 6,8 bilhões — um acréscimo de R$ 840 milhões antes mesmo do início da obra.
A revisão do orçamento foi impulsionada por feedback internacional obtido em roadshows realizados na Europa durante abril — incluindo Dinamarca, Holanda e Noruega — e visa adequar insumos essenciais, práticas de dragagem, custos de frete e reforços contratuais.
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Mudanças no edital do túnel Santos–Guarujá
Atualização da data-base para janeiro de 2025, alinhando os valores ao cenário econômico atual.
Revisão dos custos de concreto, dragagem e paredes diafragma.
Redefinição da distância média de transporte de materiais, estabelecida agora em 85 km.
Inclusão de cláusulas reforçadas de segurança jurídica, mecanismos de proteção à concessionária e criação de uma Conta Desapropriação para agilizar indenizações.
Ajustes na distribuição dos riscos — geológicos e de interferências com estruturas existentes — e soluções provisórias para manter ativo o Cais Outeirinhos e o pátio ferroviário do Guarujá durante a execução.
Permissão de lances à distância e em viva-voz durante o leilão, com objetivo de atrair mais participantes e favorecer o poder público com condições mais vantajosas.
Leilão e cronograma da obra
Os envelopes com as propostas serão abertos em 1º de setembro, às 10h.
O leilão está marcado para 5 de setembro, às 16h, na sede da B3, em São Paulo.
A concessão terá duração de 30 anos, abrangendo as fases de construção, operação e manutenção.
Estrutura do túnel e impacto na mobilidade
O túnel imerso será o primeiro do tipo no Brasil, com 1,5 km de extensão, sendo 870 metros sob o canal do estuário, a aproximadamente 21 metros de profundidade.
O projeto inclui:
- Seis faixas de rolamento (três por pista), sendo uma exclusiva para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), além de galeria para pedestres e ciclistas.
- Redução drástica no tempo de travessia, que hoje varia de 20 minutos a até duas horas em horários de pico — e deverá cair para menos de cinco minutos.
- Complemento à rodovia Cônego Domenico Rangoni e ao sistema de balsas e catraias, que transportam diariamente mais de 21 mil veículos, 7,7 mil ciclistas e 7,6 mil pedestres.
Empregos e parcerias no projeto do túnel
De acordo com o governo paulista, a obra deve gerar cerca de 9 mil empregos diretos e indiretos.
Estima-se que a concessão seja coberta por uma parceria entre o Estado, o Ministério de Portos e Aeroportos, a ARTESP, a ANTAQ e a Autoridade Portuária de Santos.
O projeto está enquadrado no Programa de Parcerias de Investimentos de São Paulo (PPI-SP) e no Novo PAC do Governo Federal.
Interesse internacional e investidores no túnel submerso
A partir dos roadshows europeus, o governo paulista buscou atrair investimentos de grandes construtoras internacionais.
Entre os grupos que demonstraram interesse estão Acciona (Espanha), Mota-Engil (Portugal), WeBuild (Itália) e a chinesa CCCC (China Communications Construction Company).
Histórico e impactos ambientais da obra
O túnel é um projeto antigo: a proposta data da década de 1970, mas só ganhou impulso concreto em 2012, quando foi iniciado o estudo de Impacto Ambiental (RIMA).
Em 2025, foi apresentada a primeira Audiência Pública sobre os impactos da obra, realizada pela Câmara de Guarujá em 19 de maio, para discussão de aspectos urbanos, ambientais e logísticos.
Por que o túnel Santos–Guarujá é estratégico?
A travessia atual, por baldeação, é considerada a maior travessia por balsas do mundo, com fluxo médio diário de 23 mil veículos e tempo de espera elevado.
O túnel reduzirá gargalos, reduzirá impactos ambientais das várzeas, atenderá à demanda do porto de Santos — maior da América Latina — e melhorará a qualidade de vida da população local.
Com investimentos superiores a R$ 6,8 bilhões, apoio do setor privado e parcerias públicas, o Túnel Imerso Santos–Guarujá representa um dos projetos de infraestrutura mais ambiciosos do Brasil.
Em caso de sucesso, pode se tornar referência de mobilidade integrada, logística e inovação para outras regiões.
Você acredita que esta megaobra vai cumprir as promessas de mobilidade, geração de empregos e eficiência na Baixada Santista — mesmo com o aumento de R$ 840 milhões no custo antes da licitação?